Rio: Blocos enfrentam desafios para manter Carnaval de rua – 27/01/2025 – Cotidiano

O Carnaval de rua do Rio de Janeiro, reconhecido como uma das maiores manifestações culturais do mundo, atravessa um momento de transformação. Blocos históricos, que marcaram décadas de desfiles e arrastaram multidões, enfrentam dificuldades para continuar na ativa.

Um exemplo emblemático é o Imprensa que Eu Gamo, bloco que há 30 anos desfila pelas ruas da zona sul da cidade e que anunciou que 2025 será seu último Carnaval. Fundado em 1986, o Suvaco de Cristo também já definiu o encerramento: 2026 marcará sua despedida. Ambos participaram ativamente da história cultural carioca, mas, segundo seus organizadores, os desafios acumulados nos últimos anos tornaram inviável a continuidade.

“Os custos subiram, a burocracia é cada vez maior e o formato dos blocos já não se sustenta como antes. Além disso, a gente percebe que as novas gerações não estão mais interessadas nesse formato, com trio elétrico. Eles querem um Carnaval mais fluido e independente”, afirmou Rita Fernandes, presidente do Imprensa que Eu Gamo.

A saída de cena desses blocos reflete um problema antigo. Os organizadores apontam questões como a exclusividade de patrocínios vinculados à Riotur, empresa de turismo ligada à prefeitura, e o rigor nas exigências administrativas.

Uma pesquisa realizada pelo Coreto (Coletivos de Blocos Organizados do Rio de Janeiro), que representa 40 blocos cariocas, indica que 71% dos responsáveis consideram o processo de produção do Carnaval de rua no Rio como “regular, ruim ou péssimo”. Nenhum deles escolheu a opção “ótimo”.

O estudo foi feito em 2023, no primeiro ano de retomada da folia, após a pandemia da Covid-19. Entre os principais problemas apontados, a dificuldade de financiamento ficou em primeiro lugar (87,1%), seguido de liberação do Corpo de Bombeiros (74,2%), que requer uma série de documentos e projetos técnicos.

“Desde 2019, o nível de exigências só aumenta, como a necessidade de uma planta das ruas e um plano de contingenciamento com rota de fuga. Isso faz sentido para eventos fechados, mas não para blocos de rua. É inviável para nós, custa de R$ 450 a R$ 650 apenas para contratar um arquiteto. E, sem cumprir, o bloco simplesmente não desfila”, disse Rita Fernandes.

Além disso, foram criadas regras como a contratação obrigatória de brigadistas e testes técnicos. O Corpo de Bombeiros afirma que as exigências são importantes para garantir a segurança do carnaval de rua e para “proteger o cidadão no que tange a questões relacionadas a incêndio e pânico”.

Segundo os organizadores, com o interesse de grandes marcas, a Riotur passou a concentrar os patrocínios em uma cota oficial, vetando que blocos tivessem seus próprios apoiadores.

“No Carnaval de 2023, a prefeitura já multava empresas que decidiam patrocinar blocos diretamente. Em 2024, isso piorou, e, agora, em 2025, nenhuma empresa quis se arriscar. Sem verbas próprias, ficamos totalmente dependentes de um modelo que beneficia a infraestrutura da prefeitura, mas não cobre os custos artísticos dos blocos. Quem paga os músicos, ritmistas, aderecistas? Não é o município”, diz Fernandes, também à frente da Sebastiana (Associação Independente dos Blocos de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro).

Para ela, o resultado desse modelo poderá ser o fim dos blocos tradicionais, abrindo espaço para o predomínio dos megaeventos e blocos comerciais.

“O desgaste é tanto que os blocos estão parando não pelo coração partido, mas pelo desencanto. Quando a festa deixa de ser um prazer, algo que fazemos pela cidade e pelos amigos, não vale mais a pena”, afirmou.

Devido a essas barreiras, muitos blocos optam por desfilar sem autorização oficial, contribuindo para o aumento dos chamados blocos “clandestinos”.

No último dia 5 de janeiro, cerca de 30 cortejos não autorizados participaram do evento de abertura não oficial do Carnaval carioca, como ocorre tradicionalmente no primeiro domingo do ano. O número de blocos participantes foi 17% maior do que no ano passado, segundo a Desliga dos Blocos, que organiza o evento desde 2009.

A Riotur afirmou, em nota, que o cadastro preliminar dos blocos de rua foi concluído em outubro de 2024, dando aos interessados um prazo de três meses para tramitar as autorizações necessárias com órgãos responsáveis.

A empresa disse ainda que estabelece “um canal direto com as ligas e blocos que compõem o Carnaval de rua” e mencionou que, entre as suas atribuições, está o fornecimento de infraestrutura, como gradeamento de praças e monumentos, banheiros químicos e limpeza urbana.

Por fim, a Riotur destaca que sempre estabeleceu um canal direto com as ligas e blocos que compõem o carnaval de rua.

Em 2025, o Rio ainda contará com centenas de blocos cadastrados para os desfiles. Entre eles, estão os 11 megablocos que já têm programação definida pela prefeitura a partir do dia 1º de fevereiro. Nesse ano, o Carnaval será celebrado na capital fluminense entre os dias 1º e 5 de março.

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