A diversidade que aleluia o Oscar – 28/01/2025 – Assim Como Você

Foi um homem cadeirante, Marcelo Rubens Paiva, quem escreveu o livro que inspirou a obra que levou o Brasil para disputar um inédito Oscar de melhor filme com “Ainda estou Aqui”. Aleluia à diversidade!

Uma jovem mulher negra, Cynthia Erivo, interpreta com maestria o papel de uma bruxa verde que arranca da gente emoção e suspiros quando canta de maneira mágica em Wicked, que disputa a cobiçada estatueta em dez categorias. Aleluia à diversidade!

“A Substância”, que botou Demi Moore no páreo para melhor atriz, ainda na competição hollywoodiana, discute o etarismo com uma abordagem nunca vista, expondo a forma ultrajante com que os velhos são tratados e o grotesco culto à juventude, à bela imagem. Aleluia à diversidade!

E ainda tem mais. Karla Sofía Gascón, que protagoniza o multi indicado Emília Peréz, poderá celebrar a conquista de ser a primeira mulher trans a erguer o principal prêmio do cinema mundial.

Ela pode ainda cravar para sempre na história que gêneros não são determinados por mandatários, mas, sim, por indivíduos que sustentam suas muitas letras LGBTQIAPN+. Aleluia à diversidade!

Um dos discursos mais impactantes do Globo de Ouro ganhou pouquíssima repercussão. Foi a fala do ator Sebatian Stan, laureado por sua performance em “Um Homem Diferente”.

Disse ele: “A nossa ignorância e desconfiança em relação à deficiência e ao desfiguramento precisam acabar agora. Temos de normalizar isso e continuar a expor isso. Encorajar a aceitação. Um jeito que podemos fazer é dando destaque para histórias inclusivas.”

Sebatian disputa o Oscar de melhor ator por outro filme, “O Aprendiz”. Torço para que ganhe e, mais uma vez, defenda a pluralidade humana. Aleluia à diversidade.

Uma onda de desânimo e de perdas de terrenos conquistados pelas diferenças ao redor do mundo vem soterrando a esperança de, finalmente, deixar viver quem sempre foi afogado por não ter supostos e privilegiados méritos, não ter padrões desejados. É amargo o gosto do desmonte injusto e intolerante.

Por outro lado, a arte e a cultura mostram fôlego e disposição para seguir apresentando narrativas que não sucumbem ao desejo de anulação daqueles que guardam inéditas –pois estavam silenciadas– formas de brilhar, de externar emoções e de contar ou de ver contadas suas histórias.

Aos 95 anos, Fernanda Montenegro, a grande dama, festejou a indicação ao Oscar da filha Fernanda Torres, 25 anos após ela mesma disputar o prêmio, dizendo que estava em “estado de aleluia” e que seu coração estava “em estado de graça”.

Toda vez que se enxergar a exuberância da pluralidade da existência humana, que se permite suas plenas manifestações, que se acolhe suas formas tidas distintas de fazer as mesmas coisas, a oportunidade de se sentir aleluiado se concretiza.

E aleluiar-se, num livre e respeitoso conceito, tem a ver com a sensação de ser tomado pela euforia de um banho de glórias que lava as rusgas de tantos enfrentamentos, as dores de tantas lutas covardemente perdidas. É o prazer de assistir levantar o troféu aquele que injustamente é sempre derrotado. Pode apostar, diversidade é força para muita aleluia.


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