Universidades de SP tentam acelerar formação de doutores – 30/01/2025 – Educação

As seis universidades públicas localizadas no estado de São Paulo firmaram acordo com a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para acelerar a formação de doutores nos próximos cinco anos.

Assinado em novembro, o acordo reúne USP (Universidade de São Paulo), Unesp (Universidade Estadual Paulista), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e UFABC (Universidade Federal do ABC) e contempla medidas para encurtar a pós-graduação.

Os ingressantes no mestrado cursarão disciplinas ao longo de 12 meses, tempo em que deverão desenvolver um projeto de pesquisa e realizar um exame de qualificação. Se aprovados, seguirão imediatamente para o doutorado, com mais quatro anos para realizar a pesquisa, e receberão uma bolsa da Capes (de R$ 3.100 por mês) e uma complementação da Fapesp que garanta o valor de R$ 5.520. No máximo 30% dos estudantes poderão ser promovidos. Os demais permanecerão no mestrado por mais um ano.

Apenas os programas de pós-graduação avaliados com notas 6 e 7 pela Capes poderão aderir ao acordo (as notas variam de 1 a 7, além do conceito A, para programas ainda não avaliados). Dos 570 programas das seis universidades, 197 atendem a esse critério, mas a adesão é voluntária. Para estimular a participação, cada programa aceito receberá uma bolsa de pós-doutorado da Capes (R$ 5.200), com complementação da Fapesp para atingir o valor de R$ 12 mil.

Ao todo, a Capes prevê a concessão de 860 bolsas de doutorado para os estudantes promovidos nas seis universidades, além de 205 bolsas de pós-doutorado aos programas. A Fapesp complementará todas as bolsas de doutorado e pós-doutorado concedidas pela Capes.

Esse acordo decorre de preocupações com a pós-graduação no Brasil: o número de ingressantes em cursos de mestrado e doutorado caiu nos últimos anos.

Em 2019, que registrou o maior número de ingressantes da série histórica, foram 118 mil novos alunos de pós-graduação em todo o país. Em 2020, com o início da pandemia, caiu para 105,8 mil. Em 2023, foram 107 mil ingressantes. São Paulo teve o pico em 2017, com 19.141 novos alunos. Em 2024, foram 17.555.

Carlos Gilberto Carlotti Júnior, reitor da USP, explica que parte desse desinteresse se deve ao longo percurso da pós-graduação. “Os alunos levam em média 9,5 anos entre o ingresso no mestrado e a conclusão do doutorado. Essa pós-graduação muito diluída não está resultando em mais capacidade e conhecimento, comparando com pesquisadores europeus e norte-americanos.”

Segundo o CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o doutorado no Brasil é concluído aproximadamente aos 37 anos. Na Alemanha e no Reino Unido, a média é de 32 anos de idade.

Simon Schwartzman, sociólogo e membro da Academia Brasileira de Ciências, define a proposta como “tímida” para acelerar a formação de doutores. “No modelo das escolas de pós-graduação americanas, o estudante entra direto no doutorado, faz cursos teóricos sistemáticos e formula um projeto de pesquisa. A tese resulta da formação sistemática. Tudo em quatro anos.”

O acordo também pretende estimular a inovação por meio de parcerias com empresas públicas e privadas. Para Paulo Marcelo Ribeiro, dirigente institucional da Faculdade Sebrae, falta formação de mestres e doutores em diálogo com o mercado. “Aplicar a pesquisa aos problemas reais das empresas possibilita criar soluções para toda a sociedade.”

Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp, concorda que esse diálogo pode diversificar a colocação profissional dos cientistas. “A pós-graduação forma pessoas capazes de identificar um problema e usar o método científico para resolvê-lo. As empresas são um destino possível e legítimo para os pesquisadores assim como as universidades.”

A interação universidade-empresa já existe no Brasil, explica Denise Pires de Carvalho, presidente da Capes. A proposta é ampliá-la. “A inovação acontece nas empresas. Não é missão das universidades colocar os produtos na prateleira. Isso é do empreendedor.”

Schwartzman pondera que não há muito interesse do setor produtivo em investir em inovação, mas reconhece que há dificuldades para as universidades estabelecerem vínculos com empresas. “A pós-graduação é muito autocontida, voltada para as próprias universidades.”

O CGEE aponta que, em 2021, o Brasil tinha 1 milhão de mestres e 319 mil doutores. Apenas 442 mil mestres (44%) e 215 mil doutores (67,5%) tinham empregos formais. Entre os empregados, 21% dos mestres e 8% dos doutores estavam em ocupações de nível médio.

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