O jovem deputado federal mineiro percebeu que, enquanto muitos políticos disputam o voto dos evangélicos, quase ninguém explora o campo católico. Sua conta é simples: embora o número de evangélicos cresça no país, o Brasil continua sendo a maior nação católica do mundo. Nikolas Ferreira (PL) está se movimentando para abocanhar os votos católicos, que em 2022 garantiram a vitória de Lula.
Para fins de pesquisa, acompanho há anos comunidades católicas em redes sociais e grupos de mensagens, especialmente aqueles que se identificam como conservadores. Nesses círculos, Nikolas é uma figura celebrada. Desde novembro do ano passado, circula nesses meios a expectativa de que ele se converta ao catolicismo. Correntes de oração foram organizadas para que Nossa Senhora ajudasse em sua eventual conversão.
Nikolas é evangélico e construiu sua carreira política apresentando-se como tal. Duvido que ele se converta ao catolicismo, mas ele poderá ser visto como um político que também fala em nome dos católicos. É para isso que ele está se preparando.
A principal porta de entrada que Nikolas utilizou para se aproximar dos católicos tem sido o padre Paulo Ricardo. Aos 57 anos, com mais de três décadas de sacerdócio, ele é uma das maiores lideranças da direita católica conservadora e um fenômeno da internet, acumulando quase 6 milhões de seguidores em suas redes. Em novembro do ano passado, Nikolas recomendou, em suas redes sociais, um dos livros do padre, causando alvoroço entre os católicos.
Em 2023, Nikolas já havia compartilhado com seus seguidores que estava lendo a biografia de São Josemaría Escrivá, fundador do Opus Dei. Mais recentemente, em janeiro de 2025, o Centro Dom Bosco, uma associação católica que se declara contrarrevolucionária, divulgou em seu perfil do Instagram que havia convidado Nikolas para uma conversa sobre catolicismo.
A reação dos católicos a cada uma dessas postagens e nos grupos de WhatsApp foi sintetizada no comentário de dois líderes do Centro Dom Bosco: “Nikolas Ferreira só não é mais católico porque falta alguém que pregue para ele.” O que está nas entrelinhas dessa afirmação é que, para eles, Nikolas já é católico, mesmo que ele próprio ainda não saiba disso.
Alçado a católico, mesmo sem ter se convertido, o deputado mineiro está habilmente construindo uma ponte que poucos, ou nenhum, político havia tentado antes: conquistar o voto de confiança das redes católicas sem perder a base evangélica.
Há quase cinco anos, publiquei nesta Folha um artigo intitulado “Catolicismo Eclipsado”, no qual destacava a importância do catolicismo na consolidação do conservadorismo brasileiro. Nikolas, que já provou ser um atento observador da realidade, também percebeu isso. Ele fez gestos em direção aos católicos e foi recebido de braços abertos. Enquanto isso, o governo Lula continua enfrentando dificuldades em sua comunicação com os religiosos.
O Partido dos Trabalhadores foi criado em profunda conexão com setores da Igreja Católica, mas isso já ficou para a história. Nas últimas décadas, o catolicismo se transformou e o PT não acompanhou essas mudanças.
De olho em 2026, o jovem Nikolas Ferreira promete dar trabalho para Lula —como acaba de fazer com o vídeo sobre o Pix—, ocupando aquele que já foi um terreno conhecido do presidente.
Por mais que o cenário ainda esteja se definindo, o que está claro é que Nikolas está redesenhando as fronteiras religiosas na política brasileira, navegando habilmente entre grupos que, até então, pareciam não se misturar. É assim que ele, embora nem sequer tenha idade para disputar a Presidência, já se projeta, mais do que qualquer outro, como um forte candidato dos cristãos brasileiros.