Esta terça, dia 4 de fevereiro, é o Dia Mundial do Combate ao Câncer. Aproveito a ocasião para falar sobre a importância de comunidades religiosas na jornada de pacientes oncológicos e também de suas famílias. Sou evangélico, mas entendo que o que escrevo a seguir vale para outras religiões.
Como pastor, digo com segurança: a igreja é um dos primeiros lugares que cristãos vão ao receber um diagnóstico de câncer —ou de outra enfermidade letal. Perdi a conta do número de pessoas que vieram direto do consultório médico para o meu escritório, ou que ligaram enquanto saíam da consulta para pedir oração e ajuda para falarem com a família.
A religião serve a vários propósitos para quem enfrenta a perspectiva de viver um tratamento incômodo, com quimio e\ou radioterapia, sem ter certeza se sobreviverá. Por exemplo, o templo cumpre um papel nas redes de apoio de uma pessoa fragilizada pela doença. Isso não é algo exclusivo de igrejas e templos; outros espaços de convívio social —como clubes esportivos ou turmas da mesma faculdade— também mobilizam ações solidárias. Destaco a religião, entre outros motivos, por ela reunir pessoas às vezes ao longo de gerações.
Há algumas práticas que vejo acontecer na minha e em outras igrejas quando ficamos sabendo de casos de câncer. Por exemplo, há momentos nos cultos em que as pessoas se aproximam umas das outras para suplicar a Deus juntas por suas lutas. Mas na maior parte das vezes não são preces triunfalistas, que prometem que a pessoa será curada. São expressões do desejo de que aquela situação seja revertida —um gesto de empatia que costuma dar a quem está doente uma sensação de acolhimento.
As pessoas compartilham o seu sofrimento na comunidade religiosa também fora do horário dos cultos. Isso acontece, por exemplo, em reuniões de oração ou em conversas com pessoas com mais experiência de vida ou que passaram por algo parecido. Essa cultura de enfrentar as lutas comunitariamente acaba criando um ambiente onde o sofrimento pode ser ressignificado, já que, às vezes, ao ouvir uma perspectiva diferente ajuda o enfermo a lidar melhor com a sua dor.
Essa empatia entre os membros de uma igreja vai além da oração e do oferecimento de palavras de conforto e esperança para a família da pessoa doente. Ela também tem desdobramentos práticos. Grupos se organizam para dar assistência nas demandas do dia a dia.
Veja a história de Ana Paula, evangélica, diagnosticada com câncer de mama aos 42 anos, e em remissão há três anos. Durante o tratamento, famílias da igreja se revezavam para cuidar dos filhos dela, levando-os para a escola e providenciando as refeições. “Jamais esquecerei que no momento mais difícil, minha igreja me trouxe paz. O suporte dado à minha família foi tão importante quanto a quimioterapia”, ela me disse.
Familiares de vítimas do câncer também mostram como a companhia na hora da adversidade tem um impacto mais duradouro do que qualquer pregação feita em um culto. É comum líderes religiosos serem abordados por pessoas no mercado ou no shopping, e receberem um abraço emocionado enquanto são lembrados que, anos antes, estiveram ao lado de suas famílias em momentos difíceis.
Por causa desse tipo de situação, algumas igrejas oferecem cursos de capelania. São programas desenvolvidos por psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos da própria comunidade, que capacitam voluntários dispostos a visitar enfermos nas suas casas e nos hospitais.
Como pastor, sou encorajado sempre que vejo pessoas se engajando nesses grupos. Sei como o empenho da solidariedade e do amor ao próximo gera frutos que amenizam a dor —mesmo quando o desfecho da luta contra essa doença devastadora não é positivo.