Mulheres da periferia recorrem ao mototáxi para segurança – 05/02/2025 – Seminários Folha

Para mulheres de baixa renda, as motos por aplicativo (motoapps) são alternativa mais segura do que andar do ponto de ônibus ou metrô até em casa. A preferência está relacionada ao receio de sofrer algum tipo de violência ou abuso durante deslocamento pela cidade, preocupação vivida por grande parte das entrevistadas pelo Instituto Locomotiva, em estudo encomendado pela empresa 99.

A pesquisa, que ouviu 2.750 mulheres de baixa renda no município do Rio de Janeiro e na cidade de São Paulo e região metropolitana, entre janeiro e fevereiro de 2024, constatou que cerca de 70% delas se deslocam a pé e quase metade sai de casa à noite ou de madrugada.

Para evitar assédio sexual nos trajetos de caminhada, 69% consideram a moto por aplicativo uma opção melhor. Os dados foram tema de discussão no seminário “Transporte de Passageiros por Moto”, promovido pela Folha nesta terça-feira (4), com patrocínio da Uber e mediação de Eduardo Sodré, repórter do jornal.

De acordo com Laura Lequain, head da Uber Moto no Brasil, as mulheres já são maioria entre os passageiros que utilizam o serviço nacionalmente —mais de 20 milhões desde que a modalidade foi lançada, em 2020, em diferentes cidades.

“Isso está muito atrelado a não se sentir segura para fazer um trajeto, às vezes curto, durante a noite ou em alguma região em que a mulher não tenha muita familiaridade”, disse, na segunda mesa do evento.

Para Luiz Fernando Villaça Meyer, arquiteto e diretor de operações do Instituto Cordial, que pesquisa segurança viária, é importante pensar no local e na iluminação dos pontos de embarque e desembarque das motos.

A importância da moto por aplicativo para as mulheres foi reforçada pelo economista Jorge Luiz Cruz, que desenvolveu uma dissertação de mestrado pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) sobre esse modal na periferia do Rio de Janeiro.

Realizada em cinco bairros da zona oeste da capital fluminense, a pesquisa ouviu 71 condutores e 211 passageiros e uma das conclusões é de que o serviço é usado principalmente por mulheres para se deslocar dentro de comunidades.

Questionada sobre a diferença entre as modalidades de transporte de passageiros por moto, Laura Lequain, da Uber, definiu mototáxi como transporte público e moto por aplicativo como transporte privado. As regulações, portanto, seriam diferentes.

Segundo a executiva, as normas e regras correspondentes ao Uber Moto devem estar de acordo com as definidas pela lei nº 13.640, de 2018, que “institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, para regulamentar o transporte remunerado privado individual de passageiros”.

O texto, porém, não tem menção a veículos de duas rodas ou à categoria A da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) —referente à condução de motos e triciclos—, somente à categoria B ou superior.

Alvo de disputa entre a prefeitura de São Paulo e a Uber e a 99, o serviço de carona de motos por aplicativo foi lançado em janeiro deste ano na capital paulista. No momento, a atividade está suspensa devido à decisão da Justiça que acatou um pedido da gestão municipal, mas as empresas argumentam ter respaldo da legislação federal e afirmam que vão recorrer.

No curto período em que o serviço da Uber funcionou em São Paulo, fora do centro expandido, mais de 50% das viagens partiram ou foram finalizadas em locais próximos a pontos de ônibus ou metrô, segundo Laura.

“Isso reforça o entendimento de que ele é complementar ao transporte público, auxiliando as pessoas no que a gente chama de primeira ou última perna”, afirmou a representante da Uber.

Para Geovana Borges, diretora-executiva da Cufa (Central Única das Favelas), a atividade atende às populações vulneráveis tanto para quem utiliza o serviço quanto para aqueles que o oferecem. “É uma alternativa para as famílias, como primeira renda ou como renda extra”, disse.

Ela defendeu a disseminação de pontos de apoio e descanso aos motociclistas, com acesso a banheiros, vestiários e água potável.


Assista abaixo à íntegra do evento

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *