Moradores do Jardim Pantanal, bairro no extremo leste de São Paulo que está com ruas alagadas desde a madrugada de sábado (1º), acusam a GCM (Guarda Civil Metropolitana) de disparar bombas de efeito moral e balas de borracha contra pessoas que protestavam após horas em uma fila para conseguir o cartão de auxílio emergencial.
Segundo testemunhas, uma confusão começou quando os moradores foram informados de que não seriam mais atendidos nesta quarta-feira (5). Dezenas de pessoas na fila, incluindo crianças, gritaram “libera a senha”.
Vídeos divulgados pelo perfil Jardim Helena ZL, no Instagram, mostram moradores correndo e gritando após o disparo das bombas de efeito moral. Mostram também que alguns deles xingam e jogam pedras nos guardas-civis durante a confusão. Um homem sofreu ferimento nas costas.
Segundo a bancada feminista do PSOL na Câmara Municipal, que acompanha a situação na região, o protesto começou após a paralisação da distribuição de senhas para cadastramento social na Prefeitura de São Paulo.
“A manifestação foi reprimida pela GCM com balas de borracha e bombas de efeito moral”, afirma a bancada em nota.
O cadastro era realizado na escola municipal Mururés, no Jardim Helena. As pessoas esperavam na fila desde as primeiras horas da manhã e o atendimento foi encerrado no início da tarde.
“É desumano obrigar pessoas que já perderam tudo a passarem horas numa fila para se cadastrar e poder receber o auxílio. A prefeitura precisa garantir o atendimento de todos. Só um prefeito que não se coloca no lugar das pessoas para tratar o povo dessa forma”, afirmou Silvia Ferraro, covereadora da bancada feminista do PSOL.
A Prefeitura de São Paulo informou que entregou 1.264 cartões emergenciais desde sábado a moradores que tiveram as casas alagadas na região do Jardim Pantanal. Outros 3.527 cadastros são analisados.
“Em razão da presença de pessoas que vivem em bairros não atingidos e de diferentes pessoas que residem numa mesma casa, provocando duplicidade no pedido, a prefeitura decidiu que não fará novos cadastros nos pontos de atendimento”, diz nota oficial.
Segundo a prefeitura, a Defesa Civil faz buscas nas ruas para cadastrar novas famílias. Além disso, será mantida a distribuição de refeições nos postos de atendimento (café da manhã, almoço e jantar).
A gestão de Ricardo Nunes (PMDB) não respondeu ao questionamento da Folha sobre os disparos feitos pela Guarda Municipal.
Na segunda-feira (3), moradores receberam com um protesto o vice-prefeito de São Paulo, coronel Ricardo Mello Araújo (PL). Ele disse que conversava com a população e que começou uma gritaria quando a imprensa chegou.
No mesmo dia, à tarde, um grupo bloqueou a rodovia Ayrton Senna, na altura do km 25, sentido interior, em manifestação contra as enchentes no bairro.