Pesquisa Origem e Destino: uso de motos dispara em SP – 11/02/2025 – Cotidiano

Até a pandemia, Maria Mendes da Costa Neta, 42, usava trem e metrô para ir de casa, em Itapevi, ao trabalho de copeira na avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, zona sul de São Paulo. Mas com medo de subir no transporte público naquela época de distanciamento social, resolveu pegar carona com o marido, motoboy. Até ele deixar a motocicleta nas mãos da mulher.

Desde então, dificilmente Maria Mendes utiliza transporte coletivo. Atualmente, ela viaja cerca de 30 km de moto, da cidade da Grande São Paulo até Perdizes, na zona oeste paulistana, onde é babá.

A exceção é quando o veículo é compartilhado com a filha Maria Eduarda Gonçalves Mendes, 20, que trabalha com análise técnica em Alphaville, na região de Barueri, e estuda à noite —as duas, inclusive, já chegaram a revezar a motocicleta num mesmo dia, pois tinham horários distintos. “É muito melhor que pegar trem”, afirma a mãe.

O uso de motocicleta por mulheres na região metropolitana de São Paulo, como o caso de mãe e filha de Itapevi, disparou em seis anos, aponta a pesquisa Origem e Destino, do Metrô, que será apresentada nesta terça-feira (11).

Segundo o levantamento, em 2017 as mulheres entrevistadas reportaram 67.542 viagens de motocicleta, principalmente em deslocamentos ao trabalho ou para estudar. Em 2023, quando foi realizada a atual pesquisa, o número saltou para 116.591, uma alta de 73%.

As mulheres entrevistadas eram 7% dos que estavam na condução durante viagens de motocicletas na pesquisa anterior. Na atual edição, representam 10,3%.

Ao mesmo tempo, a participação de viagens com mulheres como passageiras de moto, que era de 76,5% em 2017, caiu para 65,2% em 2023.

O estudo mostra que o número de famílias com motocicletas em casa cresceu aproximadamente 50% na região metropolitana de São Paulo entre os dois períodos comparados.

O uso de moto só não aumentou nas sub-regiões sudoeste (Embu das Artes e Taboão da Serra), por exemplo, e oeste (Barueri e Osasco).

Em 2017, diz a Origem e Destino, havia 624.461 motos reportadas por famílias que as utilizavam como meio de transporte. O número saltou para 935.110, ou seja, 49,1% a mais.

A motocicleta é uma das responsáveis pelo fato de o transporte individual ter ultrapassado o coletivo no deslocamento das pessoas na Grande SP.

O crescimento do transporte individual, resultando em 51,2% das viagens motorizadas no último período pesquisado, ocorre pelo uso de táxi convencional e carro por aplicativo (aumento de 137%) —eles são mensurados no mesmo item da pesquisa—, e por motocicletas (aumento de 15%).

O transporte coletivo, por outro lado, perdeu 3 milhões de viagens na comparação entre os períodos, quase 20%.

“Se não se oferecer transporte público decente, a moto vai tomar espaço”, afirma Sergio Ejzenberg, mestre em engenharia de transportes pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), que cita a queda no número de ônibus urbanos e de usuários na capital paulista desde a pandemia.

Se de um lado, a moto é um meio de transporte perigoso por causa das consequências de seus acidentes, de outro, diz Ejzenberg, dá uma sensação de segurança a mulheres que evitam pontos de ônibus à noite. “Ficar esperando condução é uma angústia.”

Nas entrevistas domiciliares da Pesquisa Origem e Destino foram contabilizadas mais de 1,2 milhão de viagens em motos em 2023, como condutor ou passageiro, número 16% maior que na pesquisa de 2017.

Ainda conforme o levantamento, 80% das pessoas que pilotam motos têm de 23 a 49 anos —o percentual é o mesmo nas duas pesquisas. Nessas mesmas faixas etárias também ocorre maior participação das viagens dos passageiros de motocicletas.

Entre os condutores, 41,1% têm renda familiar de R$ 1.908 a R$ 3.816, o maior percentual entre todas as faixas, mas menor que em 2017, quando atingiu 48,1%.

As faixas de renda preponderantes tanto para viagens dirigindo motos quanto para passageiros são as correspondentes às faixas de 2 a 4 salários mínimos e 4 a 8 salários mínimos.

No entanto, há uma ligeira perda de participação dessas faixas no período, com aumento das de rendas superiores, de 8 a 12 salários mínimos e de mais de 12 salários mínimos.

A pesquisa mostra que 85,7% dos condutores utilizam motocicletas para ir ao trabalho (966.709 viagens). Em 2017, o percentual era menor, de 81,6% (789.865 deslocamentos).

A seguir vêm educação (6,4%) e resolução de assuntos pessoais (4,1%) como os principais motivos para o uso de moto como meio de transporte.

De acordo com Luiz Cortez, gerente de Planejamento e Meio Ambiente do Metrô, a disparada na utilização de motocicletas, quando comparadas as duas pesquisas, mostra a mudança de comportamento das pessoas após a pandemia.

De quase 1 milhão de viagens reportadas para trabalho constam os entregadores que usaram a moto do trabalho para ir e voltar para casa ou como condução para o horário de almoço.

Ao todo, 93% das viagens foram feitas por pessoas que têm trabalho regular. Outros 3,5% são de motociclistas que fazem bicos.

Os dados são divulgados num contexto de aumento no número de mortes de motociclistas na cidade de São Paulo.

Segundo dados divulgados em janeiro pelo Infosiga, sistema estadual de monitoramento da letalidade no trânsito, 483 ocupantes de motos morreram em 2024, contra 403 do mesmo período do ano anterior.

Essas mortes representam 46,8% de todas as registradas no trânsito da capital paulista no ano passado, que foi de 1.031.

O número de ocorrências envolvendo motocicletas é um dos argumentos da prefeitura para manter na cidade a proibição do serviço de mototáxi na cidade, que é alvo de disputa judicial entre a gestão de Ricardo Nunes (MDB) e as empresas 99 e Uber.

USO DE MOTO COMO TRANSPORTE

Região metropolitana de São Paulo

Por sexo













2017
Viagens como condutor % Viagens como passageiro %
Masculino 900.350 93 22.604 23,5
Feminino 67.542 7 73.615 76,5
Total 967.892 100 96.219 100
2023
Viagens como condutor % Viagens como passageiro %
Masculino 1.011.680 89,7 36.851 34,8
Feminino 116.591 10,3 69.083 65,2
Total 1.128271 100 105.933 100

Por faixa etária
















2017
Idade Viagens como piloto % Viagens como passageiro %
4 a 6 5.202 5,4
7 a 10 13.352 13,9
11 a 14 5.967 6,2
15 a 17 1.445 0,1 2.195 2,3
18 a 22 105.788 10,9 17.354 18
23 a 29 239.012 24,7 18.120 18,8
30 a 39 3236.22 33,4 20.571 21,4
40 a 49 209.505 21,6 10.046 10,4
50 a 59 76.536 7,9 2.728 2,8
60 e mais 11.984 1,2 70 0,1
Total 967.892 100 96.219 100

Por faixa etária
















2023
Idade Viagens como piloto % Viagens como passageiro %
4 a 6 6.606 6,2
7 a 10 3.074 2,9
11 a 14 8.643 8,2
15 a 17 6.756 6,4
18 a 22 86.387 7,7 13.938 13,2
23 a 29 227.723 20,2 22.642 21,4
30 a 39 366.303 32,5 16.450 15,5
40 a 49 305.119 27 18.430 17,4
50 a 59 113.716 10,1 7.419 7
60 e mais 29.023 2,6 1.976 1,9
Total 1.128.271 100 105.933 100

Grau de instrução




















2017
Viagens como condutor % Viagens como passageiro %
Não alfabetizado / fundamental 1 incompleto 20.668 2,1 20.849 21,7
Fundamental 1 completo / fundamental 2 incompleto 77.360 8 10.635 11,1
Fundamental 2 completo / ensino médio incompleto 140.420 14,5 14.824 15,4
Ensino médio completo / ensino superior incompleto 554.296 57,3 45.825 47,6
Ensino superior completo 175.147 18,1 4.086 4,2
Total 967.892 100 96.219 100
2023
Viagens como condutor % Viagens como passageiro %
Não alfabetizado / fundamental 1 incompleto 22.652 2 10.621 10
Fundamental 1 completo / fundamental 2 incompleto 62.218 5,5 16.685 15,8
Fundamental 2 completo / ensino médio incompleto 135.660 12 20.213 19,1
Ensino médio completo / ensino superior incompleto 695.791 61,7 43.376 40,9
Ensino superior completo 211.950 18,8 15.037 14,2
Total 112.8271 100 105.933 100

Para ir ou voltar






















2017
Viagens como condutor % Viagens como passageiro %
Trabalho 789865 81,6 41.960 43,6
Escola / educação 95.406 9,9 30.085 31,3
Compras 9.112 0,9 2.674 2,8
Médico / dentista / saúde 9.079 0,9 4.078 4,2
Recreação / visitas / lazer 23.312 2,4 8.137 8,5
Assuntos pessoais 41.117 4,2 9.285 9,7
Total 967.892 100 96.219 100
2023
Viagens como condutor % Viagens como passageiro %
Trabalho 966.709 85,7 61.466 58
Escola / educação 72.145 6,4 21.016 19,8
Compras 21.022 1,9 3.201 3
Médico / dentista / saúde 7.483 0,7 3.242 3,1
Recreação / visitas / lazer 14.583 1,3 5.137 4,8
Assuntos pessoais 46.329 4,1 11.871 11,2
Total 112.8271 100 105.933 100

Por atividade do usuário























2017
Viagens como condutor % Viagens como passageiro %
Tem trabalho regular 859.154 88,8 47.498 49,4
Faz bico 64.478 6,7 3.701 3,8
Aposentado / pensionista 5.051 0,5 117 0,1
Sem trabalho 27.630 2,9 8.370 8,7
Nunca trabalhou 0 0 2.400 2,5
Dona de casa 55 0 6.996 7,3
Estudante 11.523 1,2 27.136 28,2
Total 967.892 100 9.6219 100
2023
Viagens como % Viagens como passageiro %
Tem trabalho regular 1.048.938 93 75.965 71,7
Faz bico 3.9516 3,5 1.088 1
Aposentado / pensionista 11.492 1 873 0,8
Sem trabalho 20.917 1,9 3.626 3,4
Nunca trabalhou 615 0,1 5.386 5,1
Dona de casa 1.015 0,1 2.454 2,3
Estudante 5.778 0,5 16.540 15,6
Total 112.8271 100 105933 100

Fonte: Pesquisa OD 2017 e 2023

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *