Nova onda de calor faz RS bater recorde de temperatura – 11/02/2025 – Cotidiano

Porto Alegre registrou, pela segunda semana consecutiva, a temperatura mais alta do ano e foi a capital mais quente do país nesta segunda-feira (10).

Uma das estações automáticas do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) registrou 37,9°C em Porto Alegre, superando capitais usualmente mais quentes como Rio de Janeiro (35,5°C) e João Pessoa (32,8°C).

Nas ruas, termômetros digitais, menos precisos, chegaram a marcar 40°C. Anteriormente, a temperatura mais elevada de 2025 na capital gaúcha havia sido de 37,6°C na terça-feira (4).

As previsões indicam que o calor extremo deve se manter pelo menos até quarta-feira (12), quando precipitações esperadas em todo o estado amenizarão o abafamento. Antes disso, porém, a maioria das regiões gaúchas, incluindo a capital, experimentarão mais períodos tórridos. Nesta terça-feira (11), o Inmet prevê que a máxima em Porto Alegre chegará a 39°C.

Além do RS, outras regiões do país também deverão ser atingidas pela onda de calor, especialmente no Sudeste e no Nordeste, com temperaturas chegando próximas aos 40º em várias localidades.

Outro dado preocupante em Porto Alegre é a baixa umidade relativa do ar, entre 30% e 20%. Abaixo dessa última marca, há risco de danos à saúde da população.

As condições escaldantes não se restringem à capital. No mesmo dia 4 em que os termômetros registraram recordes de temperatura elevada em Porto Alegre, Quaraí, na fronteira oeste do estado, foi a cidade mais quente do Brasil, com 43,8°C segundo a medição do Inmet.

Nesta segunda-feira (10), o recorde estadual ficou com Uruguaiana, também na fronteira oeste, com 40,4°C. Santiago, na região central, registrou 40,1°C.

Além do calor, as regiões Oeste e Sul do Estado sofrem com a estiagem. Segundo a Defesa Civil do estado, 99 dos 497 municípios já estão afetados pela falta de chuva. Desse total, 78 haviam decretado situação de emergência até as 22h de segunda-feira (10).

A capital gaúcha é usualmente quente no verão, especialmente em conjunturas como a atual, marcadas pelo fenômeno La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico e que costuma estar associada a seca no sul e enxurradas no centro e norte do Brasil.

O professor de Engenharia Hídrica da Universidade Federal de Pelotas Gilberto Collares explica que a situação não é atípica e pode estar relacionada a uma eventual mudança de intensidade do La Niña e à mudança climática global.

“Pode acontecer que ainda estejamos sob um La Niña com menor intensidade que se reflete em condições atípicas em determinadas regiões. Somente a partir de medições será possível compreender o que está acontecendo. Precisamos estudar dados de longa duração”, afirma Collares.

“O que há de novo é que a frequência desses eventos extremos tem sido maior. Isso está associado à ação antrópica. Nós, humanos, temos desmatado de maneira muito severa, ampliado o selamento das cidades e do entorno e deixado os centros urbanos mais quentes.”

A intensidade do calor surpreendeu mesmo os porto-alegrenses acostumados a reproduzir a hashtag ‘#FornoAlegre’ nas redes sociais.

Ao longo da segunda-feira, áreas de lazer próximas do Centro como a Orla do Guaíba e os parques Marinha do Brasil e Moinhos de Vento–que costumam atrair grande público no verão em razão da sombra proporcionada pelas árvores abundantes e dos espaços para prática esportiva–estavam mais vazios do que de costume.

O Cpers-Sindicato, que representa mais de 80 mil trabalhadores da rede estadual de educação, obteve junto ao Tribunal de Justiça do Estado uma decisão liminar pelo adiamento, até o dia 17 de fevereiro, do início do ano letivo, previsto para esta segunda-feira (10). A entidade argumentou que o calor extremo representa um sério risco à saúde de educadores e estudantes.

Na tentativa de garantir o início das aulas ainda esta semana, o governo do estado recorreu da decisão, pedindo que o juízo que embasou a concessão da liminar seja reconsiderado e que o recurso seja apreciado por uma das câmaras do tribunal.

Uma das justificativas do recurso do Executivo é de que parte da rede escolar dispõe de ar-condicionado em salas de aula. A secretária estadual de Educação, Raquel Teixeira, admitiu em entrevista, porém, que pouco mais de 600 das 2,3 mil escolas contam com esses aparelhos.

Na terça-feira (4), o professor do Departamento de Botânica da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Paulo Brack, que coordena o InGá (Instituto Gaúcho de Pesquisas Ambientais), provocou reações nas redes ao compartilhar imagens de um termômetro com medições da temperatura na superfície do Parque Maurício Sobrinho, mais conhecido como Parque Harmonia, próximo à orla do Guaíba.

O aparelho registrou entre 57°C e 61°C em uma área revestida de cimento e 62°C em outra coberta por brita asfáltica. Em contraste, as medições em áreas arborizadas do mesmo parque, distante cerca de cinco metros da área impermeabilizada, registraram valores mais baixos, por volta de 31°C.

“A empresa que fez a intervenção (GAM3 Parks, concessionária do parque desde 2023) justificou a utilização de brita asfáltica no parque permitiria a infiltração da água da chuva e não teria impacto maior”, disse Brack à BBC.

O pesquisador atribui a temperatura sufocante no local ao desmatamento. “A concessionária obteve da prefeitura a licença para corte de 432 árvores. Cerca de um terço desse total foi efetivamente eliminado, mas isso provocou impermeabilização do solo e provocou o surgimento de uma ilha térmica na área”, afirma.

O representante da GAM3 Parks Filipe Chagas classificou a polêmica sobre a temperatura no Harmonia como “extremamente politizado e desnecessário”.

“Outros pontos da cidade também estão sofrendo. Já verificaram (a temperatura) na Redenção? Ou somente o Parque Harmonia?”, reagiu. “A cidade está torrando, literalmente. Mas quando há alguma matéria, sempre o Parque Harmonia é visto de forma negativa.”

A BBC entrou em contato com a prefeitura, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem. O espaço para manifestação continua aberto.

Este texto foi publicado originalmente aqui.

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