Zagueiro trocou o futebol pela carreira de professor – 11/02/2025 – Cotidiano

Existem dois tipos de zagueiros no futebol. Aquele inteligente, de pensar para tocar a bola com classe e de cabeça erguida, e quem chuta para longe sem correr riscos ou bloqueia o adversário do jeito que der.

Carlos Augusto Velloso Faiha, o professor Guto, era da turma que pensava sempre à frente. Seu futuro era formar craques e cidadãos.

Assim que pendurou as chuteiras em sua curta carreira de jogador profissional, decidiu ser professor de futebol. Ensinou o toque refinado à garotada de escolinhas da capital paulista, como a do Clube Paulistano e a de Roberto Rivellino, camisa 11 do Brasil na Copa do Mundo de 1970, a do tricampeonato.

Em 1999, recebeu um convite que mudaria para sempre a vida do professor, para trabalhar na Fundação Antonio Antonieta Cintra Gordinho, em Jundiaí (SP).Trocou os Jardins, área nobre paulistana, pelo interior paulista.

A missão era implantar o futebol na Cidade dos Meninos, como era conhecida a fundação com seus projetos educacionais e assistência a crianças carentes.

No seu velório, muitos dos garotos daqueles tempos, hoje homens formados, foram se despedir do antigo mestre. “Para essas crianças, ele era a representação do pai que não tinham em casa”, diz a professora de dança Ana Luísa Grecco, 46.

Os dois se conheceram por causa da fundação. Em 2005, o ex-jogador foi pedir ajuda da colega para a coreografia de um trabalho na faculdade de educação física que cursava. Veio o namoro e 20 anos de relacionamento.

O professor ainda coordenou escolinhas de futebol do Santos e do São Paulo, em Jundiaí. Nos últimos anos, se aperfeiçoou em organizar treinamentos personalizados para outros jogadores.

Não tinha um fim de semana que o zagueirão de 1,88 m de altura não estava em campo para peladas com os amigos.

Bicicleta era outra paixão. No seu último passeio, pedalou cerca de 120 km até a Baixada Santista.

Mas também sobrava tempo para o cinema de domingo à tarde em família, para viagens ao interior de Minas Gerais, para onde levava a mulher, a gata Sophie e a bicicleta.

Mais novo, acompanhou jogos de futebol no Morumbi, o estádio do São Paulo, seu time de coração, mas se sentou em arquibancadas mais famosas, como nas do Parque dos Príncipes, do Paris Saint-Germain, na França.

No último dia 26 de janeiro, o professor Guto manteve a rotina de seus domingos. Preparou treinos para seus alunos, foi bater uma bola e voltou para casa, onde sentiu dores no peito e no braço esquerdo.

Carlos Augusto Velloso Faiha morreu aos 58 anos vítima de infarto. Deixa a mulher, Ana Luísa, e muitos garotos que aprenderam a andar de cabeça erguida, dentro ou fora de campo.

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