O que são e para que servem essas publicações chamadas “devocionais”, como é o caso do best-seller “Café com Deus Pai”, de Júnior Rostirola? Mesmo quem não é religioso quer saber o segredo de livros que, em um cenário de queda do número de leitores, ocupam quatro dos dez títulos mais populares de não-ficção, segundo a revista Veja.
A prática devocional cristã consiste em reservar um momento do dia para a adoração a Deus, fortalecendo a vida espiritual por meio da leitura bíblica, oração e canto. Os livros devocionais surgiram para guiar e inspirar esse momento, oferecendo reflexões diárias e direcionamentos para a meditação bíblica.
O mercado editorial oferece diversos produtos devocionais, desde aqueles voltados para públicos específicos, como mulheres e crianças, até os que abordam temas como fé e ansiedade. Além dos livros, há newsletters e podcasts com reflexões curtas, pensadas para quem tem uma rotina atarefada. Essa variedade torna a prática devocional mais acessível e constante.
Não há um roteiro devocional padrão. Cada pessoa adapta a prática à sua rotina, dedicando minutos ou horas à devoção. Alguns leem um versículo e fazem uma breve oração, enquanto outros reúnem a família para cantar e refletir sobre a Bíblia juntos. No final, o propósito é sempre o mesmo: encontrar Deus em meio às dificuldades do tempo presente.
A Bíblia orienta a prática devocional. Os Evangelhos mostram Jesus se retirando para orar ao Pai e ensinando sobre a oração pessoal, feita em segredo e sem exibicionismo (Mt 6:6). Paulo defende a prática constante da oração (1Ts 5:16-18), a meditação na Palavra (Cl 3:16) e o louvor na vida cristã (Ef 5:19-20). Esses exemplos mostram que a devoção não é um ritual engessado, mas um encontro vivo com Deus.
A cada nova estação da vida, minha prática devocional precisou mudar também. Na adolescência, eu preferia cantar por alguns minutos antes de ler o “Novo Testamento”. Meu tempo devocional encolheu no início da vida adulta, e passei a explorar novos formatos, como ouvir podcasts e audiobooks enquanto dirigia.
Experimentei diversos métodos ao longo dos anos, mas um deles continua sendo meu favorito: a leitura de uma Bíblia com passagens comentadas. Isso me ajuda a compreender melhor o texto e aplicá-lo à minha vida, como uma pequena pregação diária. Desde 2017, a “Bíblia de Estudo Swindoll”, da editora Mundo Cristão, me acompanha em português e inglês.
Me apeguei novamente aos livros devocionais quando comecei o mestrado em Divindade. As leituras matutina e vespertina do “Dia a Dia com Spurgeon”, da editora Pão Diário, me ajudam a receber o texto bíblico pessoalmente e me guiam à devoção de uma forma diferente do estudo teológico. É um descanso bastante aguardado para mim. Meu esposo também lê o mesmo devocional, e depois comentamos sobre a passagem do dia, o que fortalece nossa fé familiar.
Mas por que ler livros devocionais além da Bíblia? Essa é uma das perguntas que mais respondo desde que iniciei meu clube de leitura cristão em 2018.
A Bíblia é central na formação de hábitos cristãos. Jesus a compara ao pão, o alimento mais básico para a subsistência humana (Mt 4:4). É a nutrição espiritual que não deveria faltar na mesa de ninguém e deve estar sempre presente na rotina do cristão.
Embora o momento devocional seja mais introspectivo, a leitura de devocionais nos lembra que a vida espiritual não acontece isolada de uma comunidade. A própria existência da Bíblia não é obra de um só — envolve arqueólogos, tradutores, impressores e muitos outros. Os devocionais fortalecem essa dimensão comunitária quando aprendemos com interpretação bíblica de outros cristãos. É nesse contexto onde recebemos o pão do conhecimento.
Portanto, se você não sabe por onde começar a ler a Bíblia, a leitura devocional é um excelente começo.