O que sentem mães e pais com essa perspectiva climática? – 16/02/2025 – Giovana Madalosso

Nessa semana, durante a madrugada, acordei suando. Eram duas da manhã, o termômetro devia estar roçando os 30 graus, mas não era só o calor que me consumia: era a angústia de saber que este calor vai piorar muito, junto com os desastres e outras consequências trágicas da crise climática. No quarto ao lado, dormia minha filha, de 12 anos. Como será seu futuro?, me perguntei, talvez pela milésima vez. E senti um desamparo tão grande que, assim que o sol raiou, resolvi perguntar para outras mães e pais como eles vêm lidando com isso.

“Isso me assombra desde antes de Antônio nascer. Pensava: faz sentido colocar mais alguém num mundo que caminha para o insuportável? Hoje, vejo ele aqui, encantado com as lagartas (e os dragões barbudos), com os limões do nosso quintal, com a chuva e torço, torço muito, pra que ainda exista mundo vivo, por quanto tempo for possível. Mas toda noite, quando preciso ligar o ventilador de novo e dou um beijo no seu pescoço suado, já logo depois do banho, me assusto, porque me parece cada vez mais distante.”

Marcela Dantés, mãe de Antônio, 5 anos.

“Eu tento educar minha filha para ser uma ativista climática, mas vira e mexe me bate uma desesperança e eu começo a pesquisar pra onde vamos fugir, se é que isso será possível, quanto pode custar. Viva o capitalismo que não desmorona nem quando o mundo está desmoronando. Pavor desse assunto.”

Ana Reber, mãe de Nina, 6 anos.

“Eu sinto que preciso ser prática. Sei que não vou conseguir parar as máquinas, as petroleiras, o desejo incontrolável de lucro das empresas. Mas estou aprendendo sobre agrofloresta e procuro estar com meus filhos em lugares que têm nascentes d’água. Não quero que fiquem ecoansiosos, mas que saibam o que é realmente valioso e logo será escasso. Tento ensinar a eles o valor da palavra regeneração.”

Gisele Mirabai, mãe de Diana, 12 anos, e Davi, 10.

“Penso em clima todos os dias há 20 anos. As emoções vão de melancolia, com a eleição de um ‘negacionista’, por exemplo, à euforia por uma vitória judicial do ativismo climático, um bom cartum ou texto sobre o tema, ou um vídeo de Greta Thunberg cantando. Meus sentimentos oscilam e ficam mais à flor da pele. Prever é difícil, sobretudo o futuro, dizia o físico Niels Bohr. O mundo futuro pode ser melhor, ou mesmo trágico.”

Matthew Shirts é pai de Lucas, 40, Maria, 34, Samuel, 21, e avô de Otto, 8 anos.

“Quando estava grávida passei a refletir sobre a frase que eu ouvia há tempos e dizia ‘que mundo vamos deixar para os nossos filhos?’, invocando nossa responsabilidade pela preservação dele. Passou a parecer inversão de valores e conclui que era mais importante saber que filhos deixaremos para o mundo, pois ele ficará, nós que precisamos assimilar a força dele e criar filhos que saibam disso.”

Tatiana Nascimento, mãe dos gêmeos Cecília e Frederico, 14 anos.

“Nossa maior virtude enquanto espécie é nossa desgraça: o ser humano se adapta a tudo. A crise climática já está aqui e nos adaptaremos reduzindo danos numa realidade já terrível. Enquanto isso temos que descobrir um jeito de acabar com o capitalismo. Sou um otimista, mas a longo prazo.”

Pedro Guerra, pai do Santiago, 20, do Martin, 15, e padrasto da Eva, 12.


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