Moradores de Santa Teresa, bairro do Rio de Janeiro famoso pelos bondes e pelas ruas estreitas com trilhos, iniciaram uma série de protestos para reclamar sobre a presença de blocos de Carnaval não oficiais no bairro.
Os moradores afirmam que cortejos têm atrapalhado a circulação de ônibus, bondes e até ambulâncias. Os foliões, ouvidos sob condição de anonimato, dizem que respeitam o bairro e que há poucos cortejos não oficiais na região —a maioria se concentra, segundo eles, na praça 15 e no parque do Flamengo.
O embate é travado nas redes sociais, em páginas da associação de moradores, e também nas ruas, durante a passagem dos grupos carnavalescos.
Habitantes do bairro defendem ordenamento. Líderes dos blocos não autorizados defendem a espontaneidade do Carnaval de rua e o direito à cidade.
A reclamação dos moradores vem de outros Carnavais, mas em 2025 virou movimento. Cartazes espalhados pelo bairro em janeiro anunciavam o “Resistência de Santa”.
“Tá puto com o barulho? Com os blocos clandestinos? Junte-se ao movimento de moradores”, diz os cartazes colados, acompanhados de um número de telefone.
Santa Teresa é um morro de ruas sinuosas, repleto de bares, restaurantes, pousadas e hotéis. É famoso por abrigar artistas, como músicos e artesãos. Também há comunidades, como Prazeres, Fallet e Fogueteiro.
Levantamentos da prefeitura apontam que o bairro tem cerca de 40 mil habitantes. Santa Teresa tem apenas duas linhas de ônibus que levam ao centro comercial da cidade, além dos bondes que voltaram a circular de forma quase completa em 2024 e fazem o mesmo trajeto dos ônibus, mas com viés turístico.
Dos 482 blocos oficiais que desfilam antes, durante e depois do Carnaval de 2025, 13 deles estão em Santa Teresa. O mais famoso é o Carmelitas, que sai na sexta e terça de Carnaval, com público estimado em 10 mil pessoas em cada um dos dias.
Os blocos de Santa Teresa cadastrados pela prefeitura dizem que são afetados, ainda que indiretamente, pela presença dos não oficiais.
“Nós temos um histórico de organização do Carnaval para que as saídas dos blocos causem o mínimo de impacto para os moradores”, afirma Alvanisio Damasceno, presidente do Carmelitas.
“Os diretores dos blocos oficiais são todos moradores do bairro e se preocupam com o bairro, porque não vão embora daqui depois do Carnaval. Entendemos que o bairro é encantador, mas é preciso respeitar os moradores, entender que eles são prejudicados com a invasão do bairro por foliões de fora sem aviso prévio.”
Parte dos representantes de blocos não oficiais prefere se manter sem cadastramento, sob o argumento de que parte essencial do Carnaval de rua está na liberdade de circular sem o regramento municipal. Outra parte tem pedido à prefeitura maior atenção ao movimento.
Apoiados pela Amast (Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa), moradores protestaram na rua, na última quinta-feira (13), contra a presença dos blocos não oficiais —chamados por eles de “blocos piratas”.
“O Carnaval é uma festa bonita, defendemos e gostamos. Mas não podemos ser expulsos do próprio bairro. Semana passada, na passagem de um bloco desse, um morador doente demorou para ser recolhido pela ambulância porque não havia como passar”, afirma Nilce Azevedo, uma das organizadoras do protesto.
O morador, segundo ela, conseguiu ser levado ao hospital.
“Os blocos legalizados têm estrutura de banheiro químico, Polícia Militar, Guarda Municipal, agente de trânsito. Os blocos clandestinos, não. Eles marcam pela internet e fazem um trajeto aleatório, que para o trânsito”, diz Orlando Lemos, diretor da Amast.
A passagem dos blocos não oficiais por Santa Teresa não costuma durar muito, afirmam os foliões. Vizinho do centro e da zona sul, o bairro costuma ser o ponto de partida ou destino final de cortejos que começam a nível do mar, nos bairros da Glória, Laranjeiras ou Lapa.
Em nota, a Secretaria Municipal de Ordem Pública disse que a prefeitura “monitora os blocos não oficiais, acompanha os eventuais impactos na cidade e, se necessário, atua para liberar parte das vias impactadas”.
A Polícia Militar afirmou que os blocos oficiais contam com “policiamento específico, escalado e distribuído previamente” e que as “mobilizações não informadas” são acompanhadas pelos batalhões locais.