Artistas protestam contra demolição do Teatro Ventoforte – 16/02/2025 – Cotidiano

Um ato contra a demolição do Teatro Ventoforte e da Escola de Capoeira Angola Cruzeiro do Sul reuniu artistas e políticos na manhã deste domingo (16), no Parque do Povo, zona oeste de São Paulo. A prefeitura derrubou os galpões que abrigavam os movimentos culturais na quinta (13), alegando mal estado de conservação dos espaços.

Com bandeiras de “não à demolição da cultura”, os presentes criticaram a ação da gestão Ricardo Nunes (MDB), consideraram a demolição arbitrária e pediram que a prefeitura apresente opções par recuperar o espaço dos movimentos.

No terreno —dentro do Parque do Povo— havia três galpões de teatro, porém artistas que trabalhavam ali afirmam que há anos o local não funcionava para fins artísticos. Apenas a escola de capoeira mantinha com regularidade as aulas.

“A gente vinha aqui, cantava aqui, estávamos buscando reocupar este espaço”, lamenta o ator Eduardo Bartolomeu, 42, que ingressou no espaço em 2009.

O deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) compareceu ao ato, fez uma breve fala em defesa à cultura e prestou solidariedade aos artistas.

“O prefeito precisa ter a vontade de ouvir vocês. Não há porque haver a destruição deste local”, disse ele que, na sequência, cantou “Blow in The Wind”, de Bob Dylan, e foi acompanhado pelos demais presentes.

A vereadora Silvia Ferraro, da Bancada Feminista do PSOL, que também esteve no ato, afirma que já oficiou a gestão municipal a respeito da demolição.

“Por tudo que nós pesquisamos, isso configura crime ao patrimônio público”, diz ela. “Também é importante haver uma mobilização porque, se destruíram isso aqui de forma totalmente legal, a prefeitura vai ter que reconstruir.”

O Teatro Ventoforte foi fundado em 1974, no Rio de Janeiro, pelo dramaturgo e diretor argentino Ilo Krugli, radicado no Brasil desde os anos 1960. O mestre Tião Carvalho, 70, afirma que é um dos criadores do espaço em São Paulo. Ele lembra que o teatro começou a funcionar na rua Tabapuã e, depois de alguns anos, passou a ocupar o terreno do parque.

Participante do ato relataram que, com a morte de Krugli em 2019, o grupo deixou de atuar no local e que não havia atividades culturais no espaço atualmente. Nos últimos anos, o local estaria sendo usado para aluguel de bicicletas, estacionamento de carros e venda de comidas e bebidas.

Tião Carvalho lamenta que o local não funcionasse mais para fins artísticos. “Deveríamos ter feito isso antes. Mas, não é por isso que me afasto da luta. Agora, temos este movimento de artistas. Primeiro, precisamos de diálogo com a prefeitura e acho que isso tem que chegar nos ministérios da Justiça e da Cultura”, afirma ele.

A gestão Nunes afirma ainda que a área, de aproximadamente 7 mil m², era utilizada de forma irregular e, por isso, foi iniciado o processo de demolição dos imóveis. A gestão alega que no local não foram constatadas atividades culturais e a “construção do imóvel apresentava sinais de abandono, com edifícios em ruínas ou mal-conservados”.

A prefeitura diz que alguns espaços livres vinham sendo utilizados como estacionamento pago e havia uma banca precária na entrada que vendia bebidas.

A Secretaria do Verde e Meio Ambiente diz que notificou os responsáveis em meados de 2023, porém não houve apresentação de documentação que comprovasse o direito de uso do imóvel público. Em meio a falta de provas, foi iniciada uma ação para demolição do teatro com objetivo de garantir a desapropriação e reintegração de posse.

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