Identitários de esquerda já perderam. Apenas não sabem —ou se fazem de sonsos. São tão ensimesmados que não percebem que o eco de seus discursos inflamados vem minguando. São incapazes de uma leitura de mundo e de momento descontaminada para entender que passaram a ser criticados por parte de uma audiência que defende os mesmos fins, mas não endossará e cada vez menos se calará diante dos meios.
Cidadãos que se identificam com a esquerda já colocam em balaios distintos ativistas sérios de movimentos sociais das caricaturas que os identitários se tornaram. De um lado, aqueles que têm foco em causas que melhoram objetivamente a qualidade de vida e os abismos de desigualdade que existem no país. Do outro, radicais com pautas que só servem para animar a claque, garantir likes e um bom dinheiro em consultorias e palestras, além de cancelamentos em série para provar seu virtuosismo.
Do teclado do identitário não sai uma única solução para problemas reais que precisam ser enfrentados, apenas combustível para uma guerra infinita de reparação, fincada num discurso punitivista. É o que fizeram com a psicanalista Maria Rita Kehl e com o diretor Walter Salles, mas sobra para todos que ousam questioná-los. Suas ações são baseadas em condenações sumárias, assassinato de reputações, desqualificação de interlocutores por conta de gênero e de etnia.
Agora que o termo azedou de vez, identitários querem fazer crer que os críticos são contra causas e conquistas legítimas, ao mesmo tempo em que ignoram os sinais de fadiga dessa forma de atuação vindos do hemisfério norte. É decolonial para cá, decolonial para lá, mas copiam “ipsis litteris” a receita desastrosa do wokismo “estadunidense”. Em vez de moderar o tom e focar mais em interesses coletivos e menos em dores e traumas individuais, alimentam a sanha da extrema direita, que agradece o comportamento autofágico dos justiceiros, eficientes apenas na decolonização dos centros acadêmicos das universidades e na derrubada do patriarcado da Vila Madalena.
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