Um dos maiores desafios contemporâneos tem sido esclarecer o papel da espiritualidade e da religião na vida humana. De um lado, a negação de seu valor; de outro, a exacerbação e o fanatismo das crenças, levantando desconfiança nos meios acadêmicos.
Na semana passada, Alexander Moreira-Almeida, médico psiquiatra e docente da Faculdade de Medicina da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) recebeu a notícia de que foi agraciado com o Oskar Pfister Award de 2025. Este prêmio representa o reconhecimento internacional de suas pesquisas sobre religiosidade e espiritualidade como fator de saúde.
Alexander Moreira-Almeida atualmente é coordenador na Associação Mundial de Psiquiatria e na Associação Brasileira de Psiquiatria da seção que investiga a relação entre espiritualidade, religiosidade e saúde mental. Seus livros e artigos abordam as fronteiras da relação mente-cérebro, as distinções entre experiências religiosas e sintomas psiquiátricos, as experiências de quase morte (EQM), os fenômenos paranormais, entre outros.
Em 2006, fundou o Nupes (Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde), a maior referência nacional para o estudo da espiritualidade e da religião. O núcleo reúne, de forma multidisciplinar, alunos, professores e pesquisadores, investigando desde aspectos genéticos e neurofisiológicos até análises fenomenológicas e psicológicas de objetos de estudo espirituais.
No âmbito internacional, Alexander foi um dos elaboradores do “Manifesto por uma Ciência Pós-Materialista”, no qual se defende a necessidade de ampliar os parâmetros científicos para abrigar mais fenômenos da vida humana. Após o manifesto, ele foi um dos fundadores da “Campanha por uma Ciência Aberta” (Campaign for Open Science), que tem por objetivo aprimorar a qualidade das pesquisas nesse campo e propiciar o acesso democrático dos achados científicos. “O que pedimos é uma ciência que esteja realmente comprometida com o espírito científico de abertura, mas que ao mesmo tempo seja muito rigorosa”, expressa Moreira-Almeida.
Outorgado pela renomada Associação de Psiquiatria Americana (APA) dos EUA, em conjunto com a Associação de Clérigos de Saúde Mental, o prêmio agracia, desde 1983, aqueles que trazem contribuições significativas para o estudo da religião e espiritualidade. Já foram homenageados, entre outros, Viktor Frankl, Hans Küng, Paul Ricoeur, Harold Koenig, Anna-Maria Rizzuto e Kenneth Pargament.
Por que o prêmio recebeu o nome de Oskar Pfister? Este cidadão suíço, nascido em 1873 e falecido em 1956, foi pastor da Igreja Reformada Suíça e, por meio do psiquiatra e psicoterapeuta Carl Gustav Jung, aproximou-se de Freud, tornando-se psicanalista e membro fundador da Sociedade Psicanalítica Suíça. As Cartas entre Freud e Pfister (1909-1939) constituem um documento pioneiro que trata das relações entre religião, espiritualidade e saúde psíquica.
Até o final da vida, Pfister publicou mais de 200 textos, mostrando simultaneamente a contribuição da psicanálise e a riqueza da religiosidade para o bem-estar humano, merecendo, assim, ter seu nome encabeçando a homenagem a pesquisadores da área.
A entrega do Oskar Pfister Award será em Los Angeles, no próximo mês de maio, durante o Congresso da APA. Alexander informou nas redes sociais que o título de sua conferência na noite da homenagem será “Exploração científica da natureza das experiências espirituais: um caminho fundamental para avançar na compreensão da mente e sua relação com o cérebro.”
No resumo, ele destaca que já há suficientes dados científicos para afirmar a presença de experiências espirituais no mundo todo e seu impacto geralmente positivo na saúde mental, no bem-estar e no significado da vida. A relevância destas experiências mostra a necessidade de incluir o transcendente na pesquisa psicológica, médica e acadêmica sobre experiências espirituais.
Parabéns, dr. Alexander, e que siga contribuindo para o esclarecimento científico do lugar da espiritualidade e da religião na vida humana.