Antônia Gonçalves de Pontes foi a principal liderança quilombola da comunidade Cangume, no Vale do Ribeira, em Itaoca (SP), onde nasceu. Filha de escravos, teve dez filhos e uma trajetória de dedicação à luta pela terra.
“Lutou contra as barragens e empreendimentos de mineração na região, trabalhou em prol da titulação do território e teve a felicidade de ver o reconhecimento do quilombo Cangume pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária)”, publicou o ISA (Instituto Socioambiental).
A entidade destaca que Antônia foi uma das médiuns e benzedeiras mais experientes do Cangume, formado por negros que fugiram do recrutamento forçado para a Guerra do Paraguai, por volta de 1870.
Segundo o instituto, a comunidade pratica o espiritismo kardecista desde 1930, com a atividade de médiuns como dona Antônia. “Ela começou a desenvolver suas capacidades aos 17 anos e, desde então, não parou”, disse o ISA.
Líder espiritual, Antônia foi também uma grande contadora de histórias. Aqueles que visitavam a comunidade param primeiro na casa de Antônia, onde eram recebidos com o famoso café, torrado, socado no pilão e preparado no fogão a lenha por ela.
Era chamada de guardiã do Cangume e descrita como uma mulher de força e símbolo de humildade e resistência. A entidade publicou que o legado de Antônia permanecerá vivo e servirá de inspiração para futuras gerações. “Que sua luz continue a brilhar em nós”, publicou a entidade.
A nora Cinira conta que Antônia era a mulher mais velha do quilombo, adorada por todos. “Guerreira que ajudou o marido a criar os filhos trabalhando na roça. Era muito querida e muitos a chamavam de vó.”
A história que ela mais contava, diz Cinira, era sobre a primeira pessoa quilombola, João Cangume. “O que mais gostava era ter a casa cheia de gente, ela já começava a contar suas histórias. Tinha uma casa de barro, com fogão a lenha, era muito alegre.”
O sobrinho Odair dos Santos recorda que ela tinha a sabedoria das ervas medicinais e deixa um legado de conhecimento e história. “Só ajudava o próximo e falava bem dos outros. A vida dela era sorrir e abraçar.”
Antônia morreu em 6 de janeiro, aos 91 anos, de pneumonia.
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