Pela primeira vez, um peixe-leão (Pterois volitans) foi encontrado na Bahia. Ele foi capturado em Morro de São Paulo, conhecido destino turístico do estado, no dia 13 deste mês.
Sem predadores naturais e com alto risco para o meio ambiente e para os seres humanos, o animal vem se espalhando pela costa brasileira e já é encontrado em 11 estados do Norte e do Nordeste, tendo percorrido pelo menos 4.000 km e invadido 18 unidades de conservação, conforme pesquisa da UFC (Universidade Federal do Ceará).
O espécime capturado na Bahia mede 10 centímetros e tem cerca de um ano de vida. O corpo é listrado de branco, misturado com tons de vermelho, laranja e marrom. Ele foi levado para o Cetas (Centro de Triagem de Animais Silvestre) e passará por análises e estudos em parceria com a UFBA (Universidade Federal da Bahia).
O governo da Bahia notificou os municípios da costa do estado, assim como órgãos ambientais, a secretaria da Saúde, a Bahia Pesca e a Marinha do Brasil, para dar início à implantação de um plano de resposta rápida à invasão.
Nativo da região indo-pacífica, o peixe-leão pode ter chegado ao Brasil por meio de correntes marinhas, que deslocam larvas ou animais do Caribe, ou por meio de soltura de animais que viviam em aquários. Ele foi identificado no país pela primeira vez em 2014, no Rio de Janeiro.
O animal pode chegar a 47 centímetros e tem espinhos venenosos, cuja toxina pode causar febre, vermelhidão e até convulsões nos seres humanos. Ele se abriga em rochas e recifes de corais.
“A tendência é que em breve ele seja encontrado em Abrolhos, região marinha mais rica do país, e continue descendo. Se nada for feito, com certeza teremos o peixe-leão no Rio de Janeiro, em São Paulo e Santa Catarina, até mesmo no Rio Grande do Sul. Somente em Fernando de Noronha, foram capturados mais de 2.000 animais. Ele tem uma reprodução gigantesca e rápida”, alerta o professor Marcelo Soares, do Labomar (Instituto de Ciências do Mar-UFC).
No fim do ano passado, houve a captura recorde de 140 peixes-leão em um único monitoramento em Fernando de Noronha.
O menor peixe encontrado media 10 centímetros, enquanto o maior já ultrapassava os 45 centímetros. O predador é capaz de consumir até 20 peixes em apenas 30 minutos e possui alta taxa de reprodução, podendo gerar até 30 mil ovos de uma só vez —no total, aproximadamente 2 milhões de ovos por ano.
O diretor do Instituto de Biologia da UFBA, Francisco Kelmo, afirma que o crescente número de peixes-leão deve aumentar ainda mais o desequilíbrio ambiental, uma vez que consumirão mais presas, reduzindo populações locais e ganhando mais energia para se reproduzir.
“Ele é um predador insaciável”, resume. “Essas características predatórias e a reprodução desenfreada permitem aumentar o tamanho de sua população de forma significativa e descontrolada, desequilibrando a cadeia alimentar.”
Pelo potencial de predação, o peixe-leão pode até levar à extinção de algumas espécies, dizem os especialistas.
As pesquisas indicam que, quando o peixe-leão chegou ao Rio Grande do Norte, entrou em uma corrente marítima que flui para o Sul, ocupando os espaços mais rapidamente do que antes.
Além de Fernando de Noronha, o peixe-leão também está em outros pontos turísticos, como Jericoacoara e a APA Costa dos Corais, que compreende os estados de Pernambuco e Alagoas, incluindo as praias de Carneiros e de Maragogi.
Questionado, o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) informou que os especialistas do instituto só estudam quando os casos acontecem em unidades de conservação federal. O instituto acrescentou que foi notificado pela Sema (Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia) sobre o peixe-leão encontrado em Morro de São Paulo.
O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) não se posicionou até a publicação desta reportagem.