O americano Vincent Spevack, radicado no Rio de Janeiro há oito anos, atualmente cursando pós-doutorado na UERJ em educação especial, abriu recentemente um centro para apoiar adolescentes e jovens adultos autistas ou com deficiência intelectual na transição para a vida adulta.
A iniciativa, chamada Be The Change (Seja a Mudança), se propõe a trabalhar com esses jovens, suas famílias, escolas, comunidades e empregadores em busca de inclusão e autonomia.
“Não existem muitos serviços para adolescentes com TEA ou deficiência intelectual. Onde estão os adolescentes? Infelizmente estão em casa, com os pais”, diz o especialista em educação especial na perspectiva da transição para a vida independente.
Leia alguns trechos da entrevista de Spevack ao blog.
O que é a transição? É o processo de preparação de adolescentes e jovens adultos com deficiência para a vida mais independente, equipando-os com habilidades, experiências e apoio para navegar pelos próximos estágios da vida, seja no ensino superior, na entrada no mercado do trabalho ou na conquista de mais independência em suas atividades diárias. A transição não é apenas uma etapa na educação, é um direito humano que reconhece a dignidade e a capacidade das pessoas com deficiência. O planejamento da transição deve começar cedo (de preferência aos 14 anos) para que os jovens com TEA [Transtorno do Espectro Autista] e deficiência intelectual tenham tempo de desenvolver habilidades essenciais, explorar carreiras e adquirir experiência no mundo real. O processo deve sempre usar o planejamento centrado na pessoa, que se concentra nos pontos fortes, nos interesses e nas metas do indivíduo e, ao mesmo tempo, considera suas necessidades e apoios, as expectativas da família e os recursos disponíveis na comunidade. O objetivo final é criar oportunidades de independência, seja por meio de participação na comunidade, educação adicional ou emprego.
Como funciona o trabalho de transição na prática? As escolas tradicionais geralmente se concentram em padrões acadêmicos rigorosos, frequentemente negligenciando as habilidades sociais e essenciais que os indivíduos com TEA e deficiência intelectual precisam para uma transição bem-sucedida para uma vida mais independente. Além do sistema educacional, as barreiras sociais persistem. O preconceito e a falta de oportunidades acessíveis criam ambientes em que as pessoas com deficiência geralmente se sentem excluídas ou subvalorizadas. Nós criamos um plano individualizado de transição para cada aluno, centrado na pessoa, com foco nas habilidades, interesses, objetivos, capacidades e necessidades do aluno. Oferecermos experiências práticas em ambientes comunitários, ajudando os alunos a praticar habilidades para a vida cotidiana, como cozinhar, fazer compras, fazer orçamentos e socializar. Os alunos também desenvolvem habilidades de pré-emprego, como seguir instruções, trabalho em equipe, resolução de problemas e comunicação em ambientes reais. Fazemos parcerias com empresas locais para proporcionar aos alunos experiências do mundo real. Ao mesmo tempo, prestamos consultoria a essas empresas, oferecendo treinamento e suporte para garantir a inclusão bem-sucedida e significativa de pessoas com autismo e deficiência intelectual no local de trabalho. Essa abordagem dupla ajuda a preencher a lacuna entre educação e emprego. Também envolvemos ativamente as famílias no processo de transição e trabalhamos com as escolas para ajudar a melhorar as práticas de inclusão.
Como você vê o cenário no Brasil em relação à transição? O Brasil fez algum progresso, com políticas que promovem a inclusão nas escolas e no local de trabalho, mas ainda há desafios. Não basta ter políticas em vigor, é preciso haver apoio prático e treinamento em todos os níveis. Com o aumento do diagnóstico de TEA e deficiência intelectual nos últimos anos, está claro que nossos sistemas — escolas, empresas e sociedade — precisarão se adaptar. Tenho muita esperança, acredito que, nos próximos anos, veremos uma inclusão e independência mais significativas para esse público. Há uma conscientização crescente e uma vontade cada vez maior de falar sobre inclusão e transição. À medida que mais famílias, educadores e empregadores entenderem as capacidades dos indivíduos com autismo e deficiência intelectual, acredito que veremos mudanças reais.
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