Praga se espalha por plantações de mandioca no Amapá – 02/03/2025 – Ambiente

O Amapá viu a doença vassoura-de-bruxa devastar plantações de mandioca em terras indígenas de Oiapoque e depois se espalhar para outros cinco municípios. Agora, a praga quarentenária ameaça migrar para o estado vizinho, o Pará —maior produtor de raiz de mandioca do Brasil.

A situação é causada pelo fungo Ceratobasidium theobromae (também chamado de Rhizoctonia theobromae). O apelido de vassoura-de-bruxa vem do fato de os ramos das plantas ficarem secos e deformados, com um quadro de nanismo e proliferação de brotos fracos e finos nos caules.

Diante deste cenário, o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) declarou emergência fitossanitária no dia 30 de janeiro, pelo risco de surto da praga nos dois estados. Por enquanto, não há registro da doença em plantações no Pará —a medida é uma estratégia preventiva na região.

Os municípios do Amapá afetados pela doença são: Oiapoque (com ocorrência generalizada), Calçoene (no distrito do Carnot e na comunidade de Irineu e Felipe), Amapá (Cruzeiro e Piquiá), Pracuúba (comunidade do Cujubim), Tartarugalzinho (Montainha, Itaubal do Tartarugal e no P.A. Bom Jesus) e Pedra Branca do Amapari (nas comunidades do Tucano 1 e Nova Divisão).

De acordo com a pasta, o fungo não representa risco à saúde humana, apesar de ser altamente destrutivo para as lavouras. O ministério e o governo estadual não estimaram o volume de perda desde o primeiro sintoma da doença, identificado em 2023.

Ainda segundo o ministério, a vassoura-de-bruxa das plantações de mandioca não é a mesma da árvore de cacau. Os dois casos são originados por fungos diferentes. A Rhizoctonia theobromae é considerada inédita no país.

Gilberto Iaparra, cacique da etnia palikur, relata que seu povo busca reverter os prejuízos causados na aldeia Kuwahi, da Terra Indígena Uaçá, em Oiapoque. Os indígenas tentam recuperar as roças com plantios de mudas livres da doença.

“Agora temos viveiro de mandioca desenvolvido na comunidade. Estamos plantando a maniva xingu, que é mais resistente [ao fungo], selecionada de uma aldeia indígena. Hoje, após seis meses, nossa maniva já tem raiz e vamos fazer a multiplicação de mudas”, disse.

Em fevereiro, o Governo do Amapá intensificou ações de combate, como a instalação de barreiras sanitárias, estufas de limpeza e multiplicação de manivas e a distribuição do manual de procedimentos, com edições em línguas indígenas e em português, abordando as medidas que reduzem os riscos de contaminação.

Histórico da vassoura-de-bruxa

A espécie foi achada em lavouras de mandioca em Oiapoque, na fronteira com a Guiana Francesa. Os caciques da região notaram os prejuízos nos plantios das aldeias indígenas Ahumãm, Anawerá, Tuluhi e Tukay e acionaram instituições de pesquisa para avaliar o caso.

Oiapoque concentra cerca de 80% da população indígena do Amapá, e a mandioca é a base da alimentação cotidiana, em forma de beiju, tapioca, tucupi, tacacá, entre outras preparações. Para quem vive da agricultura familiar, a farinha é o produto mais vendido no estado.

Em julho do ano passado, o governo estadual decretou situação de emergência para agir contra doenças causadas por fungos em áreas indígenas. Entre as medidas adotadas pelo Executivo estadual estiveram a distribuição de mais de 4.000 kits de alimentos, em duas etapas, e o envio de 50,5 toneladas de farinha para as comunidades.

Em nota técnica, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) explicou que a dispersão da praga pode ocorrer por meio de material vegetal infectado, ferramentas de poda, além de possível movimentação de solo e água.

O deslocamento de plantas e produtos agrícolas entre regiões também pode facilitar o aumento do risco de infecção em novas áreas.

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