Guarda do Rio usa drones e caça assediadores no Carnaval – 02/03/2025 – Cotidiano

Em meio aos foliões de megablocos ou de pequenas bandas que tomam conta de ruas do Rio durante o Carnaval, homens e mulheres fardados trabalham na festa com missões bem menos festivas, como contenção de tumultos, apoio a crianças perdidas, ação contra episódios de assédio e até contenção de mijões em locais proibidos.

A Guarda Municipal do Rio coloca, no período carnavalesco, 1.700 agentes de apoio aos desfiles e 923 servidores por dia no Sambódromo, de sexta (28) a terça-feira (4). No pré-Carnaval, foram 1.994 guardas e 310 carros de polícia.

Atualmente, um grupo específico da força municipal também trabalha para garantir a segurança das mulheres que circulam pela festa. A Ronda Maria da Penha, que está no Carnaval desde o ano passado, visa prestar apoio às vítimas de violência física e sexual. A chefe da equipe é Glória Maria Bastos, na guarda há cerca de 29 anos.

“Nossa atuação tem sido no sentido de prevenir importunações sexuais e estupros, mas também para combater violência doméstica que muitas vezes surge [nos blocos], como discussões de mulheres com seus companheiros, com puxão no braço ou xingamento”, diz.

Metade das mulheres já foram vítimas de assédio sexual durante o Carnaval, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva divulgada ano passado. Ao todo, 73% delas têm medo de passar por essa situação, de acordo com estudo.

O patrulhamento da guarda do Rio visa coibir episódios como esses, de acordo com Glória Maria. Os agentes observam e interferem nas discussões que, em sua avaliação, podem desencadear em violência.

Caso haja alguma vítima de importunação ou abuso sexual, eles a orientam e encaminham para a delegacia –assim como o agressor, se tiver sido identificado.

Ao todo, há cerca de cem guardas atuando na Ronda Maria da Penha. Para se juntar à equipe, o servidor precisa passar por uma formação específica, em que aprende sobre táticas operacionais e diretrizes legais que o ajude a combater agressões contra a mulher.

No pré-Carnaval, o grupo fez mil abordagens preventivas ao público em megablocos, distribuindo material informativo sobre a Lei Maria da Penha e o acesso à rede de atendimento especializado.

Além da ronda, a guarda do Rio também conta com um Grupamento de Operações Especiais, conhecido como GOE, que atua no Carnaval e é liderado pelo subinspetor Alex Abrantes. Para ele, um dos desafios de atuar na festa é lidar com um número grande de foliões em um bloco.

“Toda vez que acaba a missão, fico pensando em como conseguimos. São 100 mil pessoas para um efetivo de 200 [guardas]. Como conduzir uma festa dessa sem que haja um caos? Porque se todas elas cismarem de perder o controle, não somos nós, com 200, que vamos conseguir [controlar]”, afirma.

No pré-Carnaval, a força de segurança levou 19 suspeitos de roubo para delegacia, registrou 768 infrações de trânsito –a maioria por estacionamento irregular–, conteve 51 tumultos e ajudou 135 vítimas de mal súbito. Flagrar quem urina em locais públicos está no radar dos guardas que, no mesmo período, encaminharam ao menos uma pessoa para a delegacia por esse motivo.

Cada caso tem uma particularidade, de acordo com Abrantes. Ajudar foliões que sofrem de mal-estar, por exemplo, pode ser desafiador, sobretudo em blocos menores que não costumam contar com ambulância ou posto médico.

Já no caso de crianças perdidas, os agentes anunciam nos carros de som em eventos menores ou encaminham os pequenos ao posto médico nos blocos com mais público.

No pré-Carnaval, a guarda registrou três crianças que se perderam dos pais, mas conseguiu devolvê-las às famílias. Eles também distribuíram 1.239 pulseiras de identificação, para que familiares preencham as informações de contato da criança, caso ela se perca.

Também há as contenções de tumulto, que se referem a brigas e, em alguns casos, linchamentos. Hoje, os drones ajudam os servidores a identificar esses movimentos de longe.

“Às vezes, pessoas tentam deter quem roubou e começam a fazer justiça com as próprias mãos, e a gente tem que intervir”, diz o subinspetor.

“Ainda temos que fazer a população entender que aquilo é errado, mesmo ele tendo cometido um crime. Algumas pessoas se voltam contra a gente, achando que o que estavam fazendo era certo.”

Apesar dos desafios, Abrantes, na força há quase 30 anos, diz que a guarda melhorou a atuação no Carnaval ao longo do tempo, resultado do avanço das tecnologias e do aumento no número de profissionais. Ainda que tenha uma rotina exaustiva –que, para ele, só acabará no dia 10 de março–, o trabalho também deixa boas memórias.

“Quando acaba o bloco, a gente está conversando com os foliões, as pessoas estão vindo falar com a gente, sem medo. É o que mais me marca para além do espetáculo, tanto nos blocos quanto no Sambódromo.”

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