A Grande Rio teve uma entrada avassaladora na Sapucaí, no último dia de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio. O público, segurando pequenas bandeiras do Pará, cantou e sambou de forma entusiasmada e comemorou muito a passagem da escola.
A agremiação abriu o desfile com elementos alegóricos gigantes e animados, chafarizes, barcos que se deslocavam e representações de animais.
Com o enredo “Pororocas Parawaras – As Águas Dos Meus Encantos Nas Contas Dos Curimbós”, a escola fez um desfile sobre a lenda paraense das princesas turcas Jarina, Herondina e Mariana, que se transformaram em animais no mar.
O tema foi a solução dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora para o patrocínio do governo do Pará recebido pela escola.
Esteticamente, a escola encantou o público com fantasias e alegorias grandiosas, ricas em detalhes e que contavam bem o enredo, desde o primeiro setor, em tons de azul, até o último setor, sobre a cultura das festas do Marajó, todo colorido.
O samba defendido pelo intérprete Evandro Malandro foi o mais cantado pelo público na madrugada de quarta (5).
O abre-alas levou à avenida dez balões que representam águas vivas e peixes. Um dos balões prendeu em uma fiação elétrica ainda no setor 1, mas a direção da escola conseguiu soltá-lo.
O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), se apresentou com a escola. Barbalho acenou para o público e levantou uma bandeira do Pará, mas as atenções estavam voltadas para a atriz Paolla Oliveira.
Paolla anunciou a saída da escola após sete anos à frente da bateria.
Famosa pela profusão de celebridades que costumam desfilar na escola, a Grande Rio abriu espaço neste Carnaval para artistas do Pará.
A atriz Dira Paes, a cantora Fafá de Belém, o compositor Mestre Damasceno, criador do Búfalo-Bumbá, e a cantora Dona Onete desfilaram no mesmo carro.
Um tripé da Grande Rio enfrentou dificuldades ao tentar passar por uma passarela na avenida Presidente Vargas, principal acesso à Sapucaí. Intitulado “A mesma lua da Turquia”, o tripé trazia uma grande lua em sua cenografia e tinha como objetivo destacar o nome da escola.
O incidente chamou a atenção de quem passava, e muitas pessoas pararam para assistir à tentativa de passagem. A travessia só foi possível após integrantes da escola removerem parte da alegoria. Com o desbloqueio, o público aplaudiu, incluindo torcedores da Mocidade, que se dispersavam após o fim do desfile.
Além da Grande Rio, outras três escolas de samba se apresentaram nesta que foi a última noite de desfiles do Grupo Especial do Rio.
A Mocidade Independente de Padre Miguel levou à avenida o enredo “Voltando para o Futuro – Não há limites para sonhar”, desenvolvido pelos carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage. A palavra “sonhar” remete a um dos grandes sambas-enredos do carnaval carioca, “Sonhar não custa nada! Ou quase nada”, também de Renato Lage, pela Mocidade, em 1992.
A Mocidade abriu o desfile com um abre-alas ‘Sobre o céu, a Estrela-Guia’, além de celebrar a ciência, aludiu às crenças populares sobre a Estrela de Belém, também chamada Estrela Guia, um cometa, na verdade, que, segundo o cristianismo, teria guiado os três reis magos ao local onde teria nascido Jesus.
Um dos tripés da Mocidade Independente de Padre Miguel apresentou uma simulação do jogo Street Fighter em que as personagens que duelam na luta são políticos e bilionários.
Na projeção, aparece uma simulação de luta entre Elon Musk, dono do X e membro do governo Trump, e o representante chinês Xi Jinping.
A Mocidade apresentou ao longo do desfile os desafios dos seres humanos e os riscos do avanço da tecnologia para o planeta.
Durante o desfile da Mocidade, foram feitas homenagens à Márcia Lage, que assinou o desfile deste ano junto a Renato Lage. Ela foi vítima de uma leucemia e morreu aos 64 anos no último dia 19 de janeiro.
Ao longo do desfile, chamou a atenção de quem assistia a apresentação a rainha de bateria da escola, Fabíola de Andrade, que usou um pingente com a letra R, inicial do marido, o contraventor Rogério de Andrade.
Detido em um presídio federal desde o ano passado sob suspeita de mandar matar um rival, Rogério não apareceu na ficha técnica da Mocidade Independente de Padre Miguel como presidente de honra, como em anos anteriores.
A Paraíso do Tuiuti encerrou o desfile com apreensão, na madrugada desta quarta-feira .
A escola enfrentou dificuldade com carros, e terminou com correria, aos 80 minutos, justamente o limite de tempo que pode durar uma apresentação.
As alegorias da Tuiuti tiveram problemas na entrada da Sapucaí. Os dois primeiros carros precisaram incluir destaques de última hora.
Segunda a desfilar, a escola teve o enredo ‘Quem tem medo de Xica Manicongo?’, que conta a vida de Xica, considerada a primeira travesti do Brasil. Escravizada no Congo, ela foi trazida para Salvador (BA), no século 16.
A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), que desfilou pela escola, afirmou que se sente “vingando” Xica Manicongo ao representá-la na Sapucaí.
“Não acho que vamos acordar amanhã com as pessoas compreendendo mais e tratando com mais dignidade os corpos travestis. Mas vamos ter a certeza que o Carnaval fez um trabalho de denunciar a violência contra nós”, afirma a deputada.
O carro alegórico da Tuiuti batizado de “Traviarcado” chamou atenção do setor 1 ao entrar, ainda que com alguma dificuldade, na avenida.
O carro propôs a transformação da sociedade através do comportamento e vocabulário da comunidade LGBTQIA+, conhecido como “pajubá”.
Havia placas da agência bancária “Acuébank” e a delegacia “DP Alibãs”, por exemplo. No topo, um zepelim era legendado com a placa “Maldita Geni”, canção de Chico Buarque.
A Portela encerrou os desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de forma emocionante.
Ainda na concentração, a escola animou o público ao som de “Maria, Maria”, do cantor Milton Nascimento, homenageado este ano. O artista esteve em um trono, no último carro da agremiação.
A alegoria, que representa a sua coroação, um carro de boi, teve nas laterais cantores como Péricles e Djonga, e escritores, como Ana Maria Gonçalves, Conceição Evaristo e Djamilla Ribeiro.
A escola se destacou ainda pelas alas com representações lúdicas das músicas de Milton.
O carro abre-alas da Portela teve problemas para entrar na Sapucaí. A alegoria era dividida em quatro partes, e as últimas precisaram manobrar diversas vezes na pista, dificultadas pela quantidade de pessoas com camisa da diretoria nas laterais.
A dificuldade foi superada na entrada da escola, e portanto, não incorreu em problemas no julgamento.