Bicheiros acusados de mortes mantém marcas nas escolas – 08/03/2025 – Cotidiano

Suspeitos de ligação com o jogo do bicho no Rio de Janeiro que mantêm ligação com as escolas de samba deixaram marcas sutis no Carnaval de 2025.

Rogério de Andrade, preso desde outubro do ano passado sob acusação de homicídio, cumpre pena na penitenciária federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, mas segue considerado o patrono financeiro da Mocidade Independente de Padre Miguel.

Fabíola de Andrade, mulher de Rogério, é rainha de bateria da escola e desfilou com um colar com um pingente na letra R. Em entrevista na concentração, ela disse que era uma referência a Rogério e lamentou a ausência do marido. A Mocidade ficou na 11ª posição.


A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Rogério. Em sua defesa, os advogados afirmaram que a denúncia contra ele é genérica e não apresenta provas concretas de seu envolvimento no caso.

No Salgueiro, o patrono Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho, não esteve presente, mas foi lembrado: seu nome foi mencionado antes do início do desfile pelo carro de som, parte dos componentes desfilou com uma camisa com a inscrição “Amigos do Patrono”, e na arquibancada, uma das bandeiras da torcida tinha o rosto dele.

Adilsinho tem um mandado de prisão em aberto por homicídio e é considerado foragido. Investigações da polícia e Promotoria do Rio de Janeiro apontam ele como um dos membros da nova cúpula do jogo do bicho no estado. Ele seria dono de bingos clandestinos e responsável pela máfia de cigarros que atua na Baixada Fluminense.

A reportagem mandou mensagem e ligou para advogados cadastrados como defensores de Adilsinho, mas não houve resposta.

Em manifestações anteriores à Justiça, a defesa havia afirmado que ele “não possui qualquer negócio relacionado ao jogo do bicho”, e que “é empresário atuante no ramo de distribuição de cigarros nacionais, de venda permitida pela Anvisa”.

Adilsinho recebeu agradecimento do Salgueiro em uma nota publicada após a apuração, em que a escola, insatisfeita com o sétimo lugar, afirmou “aos ladrões de plantão: o Salgueiro não irá se intimidar com essa quadrilha de canalhas”, sem citar nominalmente quem seriam.

Daquela que é considerada pela Justiça a antiga cúpula do jogo do bicho, estiveram presentes na Sapucaí o patrono da Beija-Flor, Anísio Abrahão David, 87, e o patrono da Vila Isabel, Ailton Guimarães Jorge, 83, o Capitão Guimarães.

Guimarães, inclusive, ganhou uma homenagem no samba-enredo da escola. Os versos “Não tenha medo de se entregar/Pois nosso maquinista é capitão/E comanda a legião que vem lá do Boulevard” fazem referência a ele.

No Abre-Alas, livro que detalha a apresentação de cada escola, a justificativa da Vila Isabel para os versos é “homenagem a Ailton Guimarães Jorge, o popular Capitão Guimarães, por sua firmeza e segurança dirigindo o GRESU Vila Isabel e a liga independente das escolas de samba do Rio de Janeiro”.

O atual presidente da Vila Isabel, Luiz Guimarães, é filho de Capitão Guimarães.

Para investigadores do Ministério Público, Adilsinho e Rogério de Andrade formam a nova cúpula do jogo.

Rogério é sobrinho de Castor de Andrade, o mais famoso bicheiro do Rio de Janeiro e patrono da Mocidade da década de 1970 até 1997, ano de sua morte. Na era Castor, a escola da zona oeste venceu cinco títulos — o último foi em 2017.

Castor desfilava à frente da escola e ainda é homenageado pela agremiação: a Mocidade segue com a silhueta de um castor em seu pavilhão — sinal, historicamente, da presença da família Andrade na escola.

A acusação de homicídio contra Rogério tem ligação com o espólio de Castor de Andrade.

A denúncia do Ministério Público afirma que Rogério é o mandante do assassinato de Fernando de Miranda Iggnácio, genro de Castor. Morto a tiros em 2020, após desembarcar de um helicóptero no Rio, Iggnácio travava uma batalha pela herança do jogo deixada por Castor.

De 2015 a 2017, Rogério chegou a desfilar com a Mocidade na Sapucaí e participar das apurações. Nos anos seguintes, pressionado por investigações, preferiu a discrição.

A chegada de Adilsinho ao Salgueiro é um movimento recente. A escola da Tijuca o apresentou como patrono em 2024. Antes, ele mantinha relações com a Acadêmicos do Grande Rio — Helinho de Oliveira, um dos dirigentes da escola, é seu primo.

A relação financeira das escolas de samba com os suspeitos de envolvimento com o jogo do bicho é incerta: as agremiações não possuem transparência em seus portais na internet e não costumam divulgar balanços financeiros, apesar de receberem recursos públicos para os desfiles.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *