SP tem 80 ônibus elétricos parados por falta de estrutura – 12/03/2025 – Cotidiano

A cidade de São Paulo tem cerca de 80 ônibus elétricos zero-quilômetro parados por falta de infraestrutura elétrica apropriada para recarga das baterias nas garagens, conforme dados da prefeitura.

Em entrevista na última segunda-feira (10), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) culpou a distribuidora de energia Enel pelo problema. “Ela não faz a ligação da energia para carregar os ônibus.”

A concessionária afirma que todos os contratos com as operadoras que solicitaram soluções de energia estão dentro do prazo para execução de obra, a contar da data de assinatura do acordo entre as partes.

Há casos como o da empresa MobiBrasil, com 37 coletivos elétricos novos estacionados em uma de suas garagens no Jabaquara, zona sul.

A viação diz estar com a estrutura pronta, com 18 carregadores —desses, apenas dois são usados atualmente em 13 veículos elétricos que já rodam no transporte público. Para funcionarem, os demais precisam das obras.

“Se ligarmos todos sem a devida instalação da Enel, cai a energia do Jabaquara”, diz Manoel Barbosa Pereira, gerente operacional da companhia.

A MobiBrasil afirma ter iniciado os trâmites para viabilizar a infraestrutura elétrica em julho de 2024. Segundo ela, o contrato para execução dos serviços junto à Enel só foi disponibilizado pela concessionária para assinatura em dezembro passado.

A expectativa, diz o gerente operacional, é que o trabalho saia em abril, data não confirmada pela distribuidora. “Mas a promessa era para janeiro.”

Em nota, a Enel diz que o contrato com as empresas é assinado depois da apresentação de projeto e documentação necessários para a viabilidade da obra. “Após toda a regularização por parte dos operadores, ocorre a assinatura.”

No texto, a concessionária não cita prazos, mas segundo apurou a reportagem junto às empresas, em média, a ligação leva 120 dias para ficar pronta.

Ao todo, a MobiBrasil tem 618 ônibus que transportam cerca de 370 mil pessoas por dia.

Concessionárias do transporte coletivo de São Paulo também dizem enfrentar dificuldades para comprar novos ônibus, pois não conseguem comprovar que estão aptas a operar os veículos, condição para aporte financeiro da prefeitura.

A Transunião Transportes, da zona leste, afirma ter 134 veículos elétricos reservados junto a fabricantes, mas o subsídio para o pagamento do lote só sai com a infraestrutura para recarga funcionando, diz Lourival de França Monário, presidente da empresa.

O município subsidia a diferença de preço entre o ônibus a diesel e o elétrico —que pode custar até R$ 3 milhões, mais do que o triplo do modelo convencional.

A Transunião afirma ter investido R$ 14 milhões em infraestrutura no ano passado, que inclui, entre outros, instalação de pontos de recarga.

Segundo Monário, os contratos para as duas garagens da empresa foram assinados em dezembro e fevereiro. Os prazos dados para as obras de eletrificação, diz, são de 120 e 240 dias, períodos não confirmados pela Enel.

O mesmo problema enfrenta a A2, da zona sul, que também está com estrutura pronta e cerca de 150 ônibus encomendados, afirma o advogado da empresa Roberto Teixeira Leite. De acordo com a Enel, a ligação sai ainda este mês.

A multinacional de origem italiana diz que em 2024 entregou obras de infraestrutura para abastecimento de energia de seis operadoras de ônibus, em uma demanda total de quase 9 MW.

“Nos dois primeiros meses de 2025, a distribuidora concluiu obras para outras oito operadoras, somando cerca de 17 MW, quase o dobro da demanda de energia entregue no ano passado”, afirma a Enel.

FROTA ENVELHECE

Desde outubro de 2022 está em vigor uma medida da SPTrans (estatal que administra o transporte público municipal na cidade), determinando que não sejam mais adquiridos veículos movidos a combustão para renovação da frota.

Como não conseguem colocar ônibus novos nas ruas, em virtude do veto ao diesel e pela dificuldade de ampliar o uso de veículos elétricos por falta de estrutura, a frota nas garagens envelhece.

Recentemente, a prefeitura ampliou de dez para 13 anos a vida útil dos ônibus, exatamente pela falta de estrutura para recarga com energia limpa.

Atualmente, 1.986 ônibus com mais de dez anos estão autorizados a operar na cidade

Com coletivos cada vez mais velhos, o executivo da Transunião diz que todos os dias cerca de 100 veículos vão parar na oficina mecânica da empresa, que ao todo, tem cerca de 615 ônibus em sua frota.

“Quem sofre lá na ponta é a população, pois carros quebram no trajeto e o número de viagens diminui. O cenário é crítico”, afirma.

A falta de infraestrutura para recarga das baterias foi uma das justificativas para a aprovação de um projeto de lei no fim de 2024 pela Câmara Municipal, que flexibilizava a renovação da frota. O caso está parado na Justiça.

Atualmente, 429 ônibus a bateia rodam pela cidade —a meta de Nunes era adquirir 2.600 até o fim do ano passado. No total, a frota do transporte público municipal conta com 12 mil coletivos.

A queda de braço se arrasta ao menos desde o primeiro semestre do ano passado. Há um ano, Nunes reclamou que Enel orçou em R$ 1,6 bilhão o gasto necessário para realizar as obras nas garagens. Questionadas sobre o valor nesta terça-feira (11), nem prefeitura nem a concessionária responderam.

De acordo com a gestão municipal, as operadoras do transporte público têm negociado individualmente os custos de instalação da infraestrutura com seus fornecedores, buscando o melhor preço de mercado para cada garagem, diminuindo o custo de implantação.

“As concessionárias são remuneradas pelos ônibus cadastrados junto à SPTrans”, diz.

A gestão Nunes diz acompanhar semanalmente as reuniões entre a Enel e as empresas de transporte.

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