Uma decisão liminar do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a suspensão do processo de privatização das escolas públicas estaduais paulistas e anulou os dois leilões realizados pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O juiz Manuel Fonseca Pires, da 3ª Vara de Fazenda Pública, argumentou que a concessão de escolas para a iniciativa privada compromete a autonomia pedagógica e a efetividade do “princípio constitucional de gestão democrática da educação pública”. A decisão atende a um pedido da Apeoesp, principal sindicato dos professores de São Paulo.
No fim do ano passado, o governador realizou dois leilões para entregar 33 escolas estaduais para serem geridas pela iniciativa privada.
“A licitação e a pretensão de concessão a particular da gestão de escolas públicas comprometem o serviço público de educação porque pressupõe equivocadamente ser possível dissociar o espaço físico da atividade pedagógica”, diz a decisão do magistrado.
A reportagem procurou a gestão estadual e aguarda posicionamento. Em fevereiro, quando outra decisão liminar havia sido dada, a Procuradoria Geral do Estado havia informado que iria recorrer
O Governo de São Paulo firmou as PPPs com dois consórcios no fim do ano passado. Eles ficariam responsáveis pelas 33 escolas por 25 anos— o contrato define a construção em um prazo de um ano e meio, depois as licitantes serão responsáveis pela manutenção das unidades por 23 anos e meio.
É a primeira vez que escolas estaduais paulistas têm a gestão de serviços entregue para a iniciativa privada. O modelo é uma aposta da gestão Tarcísio para enfrentar o problema de infraestrutura escolar.
Nos dias dos leilões, o governador destacou que as escolas manteriam a autonomia pedagógica e defendeu que os consórcios ficariam responsáveis apenas por cuidar da infraestrutura e contratação de funcionários para atividades não relacionadas ao ensino, como limpeza e manutenção.
Para o juiz Pires, o argumento do governador não se sustenta já que inúmeras pesquisas do campo da pedagogia tratam a “arquitetura escolar” como indissociáveis do ensino e aprendizado.
“As decisões sobre a ocupação, uso e destino de todo o ambiente escolar dizem respeito também ao que se idealiza e pratica-se no programa pedagógico. As possibilidades de deliberar de modo colegiado e participativo por todos os atores envolvidos na educação não podem ser subtraídas da comunidade escolar com a transferência a uma empresa privada que teria o monopólio de gestão por 25 anos”, diz.
Veja quais são os municípios que tiveram escolas leiloadas na PPP:
Lote Oeste (1) – prevê a construção de 17 escolas em Araras, Bebedouro, Campinas, Itatiba, Jardinópolis, Lins, Marília, Olímpia, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Rio Claro, São José do Rio Preto, Sertãozinho e Taquaritinga.
Lote Leste (2) – prevê a construção de 16 escolas em Aguaí, Arujá, Atibaia, Campinas, Carapicuíba, Diadema, Guarulhos, Itapetininga, Leme, Limeira, Peruíbe, Salto de Pirapora, São João da Boa Vista, São José dos Campos, Sorocaba e Suzano