Cracolândia avança por ciclovia sob o Minhocão em SP – 12/03/2025 – Cotidiano

A ciclovia que passa embaixo do elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, tem agrupado cada vez mais usuários de drogas ao longo do trajeto que liga o centro a zona oeste de São Paulo. Com isso, uma espécie de minicracolândia tem se formado nos últimos meses no local.

O grupo ocupa principalmente o trecho entra rua Apa e a avenida Angélica, em Santa Cecília, a poucas quadras do bairro de Higienópolis.

Os dependentes químicos ficam sentados no meio do canteiro central, no espaço que separa as pistas da ciclovia. Mas roupas, caixas, barracas e outros pertences dos usuários químicos muitas vezes invadem o espaço reservado para as bicicletas, dificultado o trânsito.

Recentemente a Prefeitura de São Paulo concretou grades em alguns pontos da ciclovia, incluindo o espaço onde fica a nova cracolândia.

Em nota, a gestão Ricardo Nunes (MDB) afirmou que o material colocado pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) serve para proteção de ciclistas, pedestres e passageiros do transporte coletivo. “A instalação de gradis em trechos de ciclovias da cidade é uma prática da administração municipal, como registrado na ciclovia da Avenida General Olímpio da Silveira, sob o Elevado João Goulart”.

Segundo uma moradora da região, a presença dos dependentes químicos inviabiliza o uso das pistas para bikes, devido ao risco de acidentes.

“O que tem acontecido é que começou a encher muito de pessoas, principalmente entre a Angélica e a [rua] Pirineus. Começou a encher muito e não dá para passar por lá. Está cheio de barracas”, disse a disse a fotógrafa Raphaela Campano, 25. “É uma coisa que, antes, entrava pessoas, ficava uma semana e saía. Agora, eu sinto que se instalou um grupo de pessoas mais fixo e não tem como usar a ciclofaixa. Tem que ir pela rua mesmo.”

Para ela, a instalação das grades pela prefeitura deixou a situação ainda mais difícil. “É uma ciclovia muito truncada. Com as grades é pior ainda, porque a pessoa entra lá e não tem para onde ir. Não tem como ela descer para rua ou atravessar a rua e não tem como ela entrar [na pista] porque a cracolândia se instalou ali. Então tá bem ruim.”

Na tarde desta terça-feira (11) alguns dependentes químicos fumavam crack enquanto observavam o tráfego de bicicletas, pedestres e automóveis que cortam a avenida abaixo do Minhocão, que também é recheada de comércios. O grupo de usuários é formado por homens e mulheres.

Um homem que passava pelo local disse que o trecho é palco de brigas diárias entre os próprios usuários, com fezes espalhadas no chão e pedidos de dinheiro para quem está passando na rua ou parado no sinal.

Diferente da cracolândia original, que fica na região da na Luz, a minicracolândia não possui policiamento fixo, seja da GCM (Guarda Civil Metropolitana) seja da Polícia Militar. A prefeitura disse que a guarda realiza rondas, além de dar apoio à Subprefeitura Sé durante ações de zeladoria e atendimentos sociais.

Durante o período que a reportagem esteve no local, na tarde desta terça, nenhum agente ou viatura da GCM esteve no local.

A gestão Nunes não respondeu se os usuários que ali estão saíram da cracolândia original ou de outro local —a cidade possui dezenas de pontos de uso de drogas, conforme mostrou a Folha.

Procurada, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que monitora periodicamente a movimentação de uso de drogas em espaços públicos do centro, com o objetivo de direcionar as ações policiais de maneira mais eficaz e auxiliar no combate ao tráfico de drogas e a outros crimes na região.

De acordo com o governo estadual, “operações frequentes, como as ‘Resgate’ e ‘AC 35’, têm sido realizadas. Juntas, as duas operações já resultaram em mais de 2.000 prisões (sendo ao menos 616 flagrantes por tráfico), apreensão de 6,1 toneladas de drogas e recuperação de 2.900 celulares até fevereiro de 2025”.

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