As principais delegacias que atendem o centro de São Paulo registraram em janeiro uma alta de furtos, na comparação com o mesmo mês de 2024. Isso aconteceu apesar de um reforço no policiamento na região.
Somando a área atendida pelas delegacias da Sé, Campos Elíseos, Consolação e Santa Cecília, o crescimento foi de 13% —2.418 casos registrados nos primeiros 31 dias de 2025, contra 2.139 no ano passado. Em toda a cidade, a alta foi menor, de 7,7%. Já a quantidade de roubos recuou este ano tanto no centro quanto no restante do município.
O aumento dos furtos no início deste ano contrasta com a queda de 3,8% no número total de furtos que a cidade registrou em todo o ano passado, na comparação com 2023. Todos os dados são da Secretaria de Segurança Pública do estado.
Essa região do centro costuma ter um número alto de problemas de segurança porque é nela que fica a cracolândia. Por isso, as gestões Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ricardo Nunes (MDB) reforçaram as ações nessa área, com aumento da presença de policiais militares e agentes da Polícia Municipal (antiga GCM).
Procurados, prefeitura e governo estadual defenderam suas ações para combater a criminalidade na região.
Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) disse que o policiamento na cidade foi intensificado com o objetivo de combater a criminalidade. “Na região central, o efetivo policial foi ampliado com a adição de 400 policiais, e 80 motocicletas foram entregues à 3ª Cia do 7 º Baep, fortalecendo a atuação da polícia em áreas de grande fluxo de pessoas”.
O governo Tarcísio afirmou ainda que foram instaladas bases comunitárias da PM nas praças da Luz, Liberdade e 14 Bis, na avenida Paulista e no largo de Santa Cecília.
A Prefeitura de São Paulo afirmou que tem colaborado no combate à criminalidade na cidade. Segundo o município, o Smart Sampa, programa que usa câmeras com reconhecimento facial, “foi responsável pela captura de 828 foragidos da Justiça, prisão em flagrante de 2.015 criminosos e a localização de 48 pessoas desaparecidas”.
A área do centro que mais teve furtos em janeiro foi a do 1º DP (Sé), localizado em uma rua na Liberdade. A delegacia registrou 795 ocorrências no mês, ante 773 no ano anterior.
Vizinha à cracolândia o 3º DP (Campos Elíseos), com sede na rua Aurora, é outra unidade da Polícia Civil com alta de furtos. Foram 628 queixas formalizadas neste ano contra 516 em 2024.
O roteiro é semelhante ao do 4º DP (Consolação), situado em uma travessa entre as ruas da Consolação e Augusta. Foram 590 registros neste ano, 79 notificações a mais do que no ano passado.
O 77º DP (Santa Cecília), que fica em uma travessa da avenida São João, também teve alta, com 405 registros em janeiro de 2025 ante 339 em 2024.
Uma das vítimas foi a professora Alice Pires, 25. Na madrugada do último dia 1° ela comemorava o aniversário com a irmã a três amigas quando resolveram pegar uma mochila dentro de um carro na rua Mario de Andrade, na Barra Funda.
“A gente entrou na rua, pegou as coisas no carro. E aí um grupo de mais ou menos umas sete, oito pessoas cercaram a gente. Eles estavam com arma. Tinha homem e tinha mulher no meio. Eles estavam a pé. Levaram tudo nosso, celular, bolsa, carteira. O que eles mais queriam era celular”, diz ela.
Alice disse que tudo foi muito rápido. O grupo correu e subiu uma rua próxima. “Tem muito furto, muito assalto nessa região. Tem a gangue da bike, que é um pessoal que passa de bicicleta. São uns moleques, assim, novos, de uns 18, 19 anos. Eles passam com a bicicleta e já pegam se você tá bobeando”. A SSP disse que o caso está sendo investigado.
O local onde aconteceu o crime, na Barra Funda, está sob responsabilidade do 23º DP (Perdizes), que inclui trechos do centro e da zona oeste. Na região, o número de furtos subiu de 726 casos em janeiro de 2024 para 755 este ano. O número de roubos, por outra lado, diminuiu na área.
Além dela, outras delegacias que ficam próximas do centro também tiveram alta. É o caso do 78º DP (Jardins) que abrange boa parte da avenida Paulista. No primeiro mês do ano foram 745 boletins de ocorrência por furto, 43 a mais do que no ano anterior.
Pinheiros tem alta da violência
Há alguns quilômetros do centro, Pinheiros, na zona oeste, tem registrado uma série de crimes violentos neste ano. Em janeiro, um jovem foi assassinado em um latrocínio (roubo seguido de morte). Já neste mês dois homens foram baleados em roubos no bairro.
O 14° DP (Pinheiros), responsável pelos boletins de ocorrência na área, registrou em janeiro a maior quantidade de queixas de furto para o mês desde o início da série histórica, em 2002, quando a Secretaria da Segurança Pública passou a tabelar de uma única forma as ocorrências.
Foram 694 notificações contra 614 de janeiro de 2024. Diferente das delegacias do centro, Pinheiros teve alta também nos roubos, passando de 226 para 271 casos.
De acordo com a SSP, a Polícia Civil realiza ações para reduzir os roubos feitos por motociclistas na cidade. “Durante a última ação, três pessoas foram presas em flagrante e por mandados de prisão. Além disso, 356 motocicletas foram abordadas, resultando na apreensão de duas e na recuperação de outras três, que haviam sido registradas como roubadas”.
Conforme a gestão Tarcísio, as operações resultaram na prisão e apreensão de 1.203 infratores em janeiro deste ano no centro e em me parte da zona oeste.
Segundo a prefeitura, os locais mencionados pela reportagem recebem rondas diárias com um efetivo de 353 agentes e 72 viaturas da Polícia Municipal. A gestão diz ainda que reforçou o patrulhamento nesses locais.