Em sua primeira carta como anfitrião, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, trouxe a visão e os objetivos brasileiros para Belém, com importantes recados sobre a urgência da ação climática coordenada e ambiciosa em um momento decisivo para o planeta. Um dos objetivos traduz a essência da carta: o chamado para o mundo se juntar ao Brasil em um “mutirão global contra a mudança climática” –o pontapé inicial para virar o jogo ao longo da próxima década, como ele diz, numa analogia com o futebol.
Virar o jogo é chave, diante da aceleração do aquecimento global e da redefinição geopolítica do planeta, em que os EUA do governo Trump jogam pesado no impulsionamento do negacionismo para a exploração desmedida dos recursos naturais e do petróleo até a última gota.
Ao falar em mutirão, a presidência da COP propõe tornar a luta climática mais real e palpável para todos os setores da sociedade, para além das mesas de negociações entre países, onde se arrastam há décadas –e, com isso, traduzi-la em ações.
Já que estamos falando de uma COP no Brasil, onde criamos o arquétipo do brasileiro que não desiste nunca, é aqui que podemos falar com propriedade de um mutirão em torno de uma missão dada como impossível: a chamada Missão 1,5°C, a tentativa de manter viva a meta do Acordo de Paris, de limitar o aquecimento do planeta em 1,5°C em relação à era pré-industrial.
A COP30 é uma oportunidade única, se não última, de aproximar as pessoas do significado dessa missão, em um engajamento cívico global. De comunicar com clareza para a população que não há outro jeito a não ser se juntar e fazer acontecer o que hoje parece inatingível.
A Missão 1,5°C depende da Amazônia e, com a COP em Belém do Pará, o mutirão capitaneado pelo Brasil tem de conversar do local ao regional e do regional ao global. Identificar e mobilizar indivíduos e organizações que façam esse papel é fundamental para estimular cidadanias do mundo inteiro que andam perdendo a esperança.
Ainda mais crucial é estabelecer diálogos com interlocutores que não são os óbvios, em alianças talvez impensáveis, tanto em governos como nos setores privado e financeiro. Para esse ponto sensível, o Brasil tem nas florestas tropicais um grande ativo para essa mensagem de união.
A natureza é um valor compartilhado por um espectro que vai dos conservadores aos progressistas, ao contrário do que já aconteceu com a politização das mudanças climáticas. A grande novidade será o Brasil apontar a total sinergia entre clima e natureza.
Ao trazermos para o centro as agendas de restauro de florestas, bioeconomia e todo o leque de soluções baseadas na natureza, podemos buscar avanços nas pautas climáticas travadas no nó geopolítico. E, dentro dos objetivos brasileiros, são agendas conectadas não apenas na nova NDC (sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada, que define os compromissos climáticos dos países no Acordo de Paris), anunciada na última conferência, em Baku, como no caminho que o país lidera para chegar em 2035 ao US$ 1,3 trilhão anual de financiamento climático para os países em desenvolvimento –o grande desafio da COP30.
Proteger e restaurar a natureza é possivelmente o tema de maior contribuição, inovação e pertinência para a mitigação e a adaptação climática. Se Deus é brasileiro, a COP30 vai ser a prova definitiva.
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