Um mês após um jatinho ter explodido e ido parar na praia, após uma tentativa frustrada de pouso em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, ainda segue sem conclusões a causa do acidente no dia 9 de janeiro, que matou o piloto e feriu uma família a bordo —o casal dono da aeronave e dois filhos, de 4 e 6 anos, tiveram de ser hospitalizados.
Um relatório preliminar produzido pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) foi publicado em 15 de janeiro, mas apenas com informações básicas do acidente, com os factuais obtidos no estágio inicial da investigação, segundo a FAB (Força Aérea Brasileira).
O texto relata que a aeronave decolou do aeródromo Mineiros, na cidade de mesmo nome no interior de Goiás, com destino ao Aeródromo Estadual Gastão Madeira em Ubatuba, por volta das 11h20, a fim de realizar um voo privado, com um tripulante e quatro passageiros a bordo.
“Durante o pouso, a aeronave excedeu o limite longitudinal da pista e colidiu com o alambrado que limitava o sítio aeroportuário, tendo sua parada final fora da área do aeródromo”, afirma o texto do relatório preliminar.
Não há data para conclusão da investigação. Segundo o Cenipa, “terá o menor prazo possível, dependendo da complexidade de cada ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os possíveis fatores que contribuíram para o acidente”.
Quando estiver pronto, o relatório final será publicado no site do centro de investigações, em documento público.
Imagem de uma câmera de monitoramento mostra o jatinho acertar o alambrado da cabeceira 9 do aeroporto, passar pela avenida Guarani, na orla, tocar o solo quando chega a uma praça e explodir até parar no mar na praia do Cruzeiro. No acidente, um poste e um veículo, sem ocupantes, também foram atingidos, segundo testemunhas.
Além da Aeronáutica, o acidente é investigado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de São Paulo.
Foi aberto um inquérito policial conduzido pela delegacia de Ubatuba. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, a polícia segue realizando diligências e aguarda a conclusão dos laudos periciais, assim como os resultados das apurações realizadas pelo Cenipa.
O aeroporto ficou fechado por cerca de 24 horas e liberado após vistoria do Seripa IV (Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
A tentativa frustrada de pouso foi registrada pelo economista Rogerio Prado Chaves, que passava férias na cidade praiana. Ao ver o avião se aproximar da pista, resolveu filmar por curiosidade.
O vídeo mostra a aproximação do avião e o momento em que a aeronave não consegue fazer a frenagem, vai em direção a praia e explode. Também é possível ver as tentativas de resgate e o fogo em volta da aeronave. Chovia no momento do acidente e a pista estava molhada.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o jato pode ter aterrissado posteriormente ao indicado, sofrido com tamanho da pista e até por causa das condições meteorológicas.
O aeroporto de Ubatuba tem uma única pista, mas duas cabeceiras. Em um dos lados, no sentido morro, ela tem 940 metros, segundo a concessionária que administra o local e o site da Aeronáutica. O que atende ao manual da aeronave.
Do outro lado, porém, embora a pista tenha o mesmo tamanho, existe um recuo de 380 metros por conta da topografia da região, ou seja, no sentido do mar está disponível uma pista de apenas 560 metros. É nessa direção que a aeronave tentou fazer o pouso.
Não existem informações sobre por que a aeronave tentou o pouso no sentido menor da pista em vez de utilizar o lado com a metragem maior e adequada ao modelo.
A Rede Voa, que administra o aeroporto, afirma que as duas cabeceiras da pista estavam disponíveis para pouso no dia 9 de janeiro.
Também é possível que o piloto não tenha conseguido arremeter a aeronave, como apontam os indícios prévios do acidente. Conforme disseram fontes ligadas ao aeroporto no dia do acidente, não havia marca de frenagem na pista, apenas no gramado posterior a ela.
A aeronave é um Cessna Aircraft, fabricada em 2008, modelo 525, com capacidade para oito pessoas. De acordo com dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o avião estava registrado para serviços aéreos privado e não tinha permissão para táxi aéreo. Os documentos do equipamento estavam em dia.
A família é produtora de soja em Goiás e viajava para Ubatuba a lazer. Os donos do jatinho estão identificados no Registro Aeronáutico Brasileiro da Anac. O Cessna, de prefixo PR-GFS, foi fabricado em 2008. A data de compra registrada é novembro de 2020. A situação de aeronavegabilidade estava normal, segundo registro da agência.