‘Adolescência’: a série que todo pai e mãe precisa ver – 18/03/2025 – Joanna Moura

É manhãzinha quando a porta da casa é arrombada. Uma dúzia de homens de preto, armados com fuzis, se movem rapidamente ocupando o hall de entrada, o corredor e as escadas. Um deles grita: “É a polícia, todos no chão!”

Uma mulher de meia-idade pergunta em tom de súplica o que está havendo. “Tem duas crianças lá em cima!” ela alerta. Um homem —seu marido— é encurralado contra a parede enquanto os policiais revistam a casa.

“Isso só pode ser um engano”, ele diz.

A câmera segue os policiais escada acima, passa pela filha mais velha já ajoelhada no chão e entra no quarto do filho mais novo. O policial que comanda a operação se dirige ao adolescente, ainda na cama.

“Jamie Miller” diz o policial. “Você está preso por suspeita de homicídio.” A polícia leva o menino na viatura e os pais são deixados para trás, perplexos, incrédulos. “Ele é uma criança!” grita a mãe enquanto o carro se distancia.

Assim começa “Adolescência”, lançamento mais recente da Netflix que retrata a história de um adolescente de 13 anos acusado de matar uma colega de classe. A minissérie em quatro episódios não é apenas dramaturgicamente brilhante –ela também encapsula perfeitamente o medo de cada vez mais pais e mães: o de perceber, tarde demais, que nossos filhos vivem uma vida digital secreta da qual pouco ou nada sabemos.

“Adolescência” é uma sequência torturante e contida de socos no estômago. A sutileza dos diálogos e a maestria com que os episódios são filmados fazem com que aquela tristeza toda pareça quase documental, como se cada cena estivesse acontecendo neste exato momento, em algum lugar mais perto do que imaginamos.

Já era madrugada quando desliguei a televisão. Deitei na cama, tentando digerir a complexidade daquela história, assimilando o abismo que separa as gerações e as muitas camadas de dificuldade de criar pontes conectando esses dois penhascos.

A série aflige porque, nos diálogos entre adultos e adolescentes, cada um parece estar falando uma língua. E a sensação que sobra é a de desamparo desses jovens que gritam por ajuda e ninguém vê, ninguém entende, ninguém sabe como responder.

Às duas da manhã, com os olhos ainda inchados e o nariz fungando da maratona de choro, lembrei-me do episódio do podcast “Fio da Meada”, em que Branca Vianna entrevista Vanessa Cavalieri, juíza titular da Vara da Infância e Adolescência do Rio de Janeiro.

“Eu quero que vocês percam o sono às 2 da manhã olhando para o teto, preocupados”, ela disse enquanto relatava os muitos casos que chegam à sua mesa todos os dias.

Cavalieri se refere ao aumento de infrações digitais graves cometidos por adolescentes de classe média. Bullying, assédio, incitação à violência. Todos praticados silenciosamente, dentro de casa, debaixo dos narizes de pais e mães zelosos.

“Ele estava no quarto dele. A gente achava que ele estava seguro. Que mal ele podia fazer ali dentro?” diz o pai do menino Jamie, enquanto tenta compreender o incompreensível.

Mas o perigo hoje mora dentro dos telefones, iPads e laptops. E assim como não deixamos que nossos filhos saiam na rua sem nos dizer para onde vão, não podemos deixá-los perambular livres e sem supervisão nas vielas escuras da internet.

O diálogo que finaliza a série é de cortar o coração.

“Será que devíamos ter feito mais?” pergunta o pai de Jamie à esposa.

“Acho que seria bom se aceitarmos que talvez deveríamos ter feito mais. Acho que tudo bem aceitarmos isso.”

Façamos mais. Antes que seja tarde demais.


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