Agência de meteorologia dos EUA deve perder 20% da equipe – 10/03/2025 – Ambiente

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, principal agência dos EUA para ciência climática e meteorologia, foi instruída pelo governo Trump a se preparar para perder mais mil funcionários. O corte reforça as preocupações de que as previsões da Noaa, sigla pela qual o órgão é conhecido, possam ser prejudicadas diante da temporada de furacões e desastres se aproxima.

As novas demissões se somariam aos cerca de 1.300 funcionários da Noaa que já se demitiram ou foram dispensados nas últimas semanas.

As medidas alarmaram cientistas, meteorologistas e outros membros da agência, que inclui o Serviço Nacional de Meteorologia. Algumas atividades, como o lançamento de balões meteorológicos, já foram suspensas devido à escassez de pessoal.

Juntas, as reduções representariam quase 20% da força de trabalho de aproximadamente 13.000 membros da Noaa.

Gerentes da Noaa foram instruídos a elaborar propostas para demissões e reorganizações para reduzir o pessoal da agência em pelo menos 1.000 pessoas, de acordo com oito pessoas que pediram anonimato porque não estavam autorizadas a discutir os planos publicamente.

O esforço faz parte das “reduções de força” que o presidente Donald Trump exigiu como parte de um decreto no mês passado, enquanto ele e o bilionário Elon Musk fazem cortes rápidos e em grande escala na burocracia federal.

Os gerentes da Noaa foram solicitados a concluir suas propostas até esta terça-feira (11), disse uma das pessoas. As propostas provavelmente envolverão a eliminação de algumas das funções da agência, embora os gerentes tenham recebido pouca orientação sobre quais programas priorizar no corte.

Representantes da Noaa não responderam imediatamente a um pedido de comentário feito no sábado (8).

As recentes saídas de funcionários já afetaram as operações da Noaa em muitos âmbitos: previsão de furacões e tornados, supervisão de pescas e espécies ameaçadas, monitoramento das mudanças que os humanos estão provocando no clima e nos ecossistemas da Terra.

A Noaa, uma agência de US$ 6,8 bilhões dentro do Departamento de Comércio, foi destacada para cortes por alguns dos aliados de Trump. O Projeto 2025, plano de políticas publicado pela Heritage Foundation que é ecoado em muitas das ações do governo Trump, chama a Noaa de “um dos principais motores da indústria de alarme sobre mudanças climáticas”.

O documento pede que a agência seja desmantelada e algumas de suas funções eliminadas ou privatizadas.

Organizações como a União Geofísica Americana, que representa pesquisadores da Terra e do espaço, pediram ao Congresso que se oponha às ações do governo.

“Minar as operações da Noaa pode colocar em risco a segurança de milhões de americanos e desestabilizar inúmeras indústrias, desde agricultura e pesca até energia e finanças, levando a perdas de empregos e recessão econômica”, escreveram as organizações em uma carta.

Elas apontaram que, à medida que o planeta aquece, o clima extremo está se tornando mais frequente e mais danoso, tornando o trabalho da Noaa mais necessário.

A ideia de que empresas privadas poderiam substituir a Noaa na previsão do tempo é um “grande mal-entendido”, disse Keith Seitter, professor visitante de meteorologia e ciência do clima no College of the Holy Cross em Worcester, no estado de Massachusetts.

“O aplicativo no seu telefone ou o que você está assistindo na TV, essas são empresas do setor privado, mas essas empresas do setor privado dependem criticamente da Noaa para todas as informações que estão usando para criar essas previsões”, disse Seitter. “É um esforço coordenado.”

Funcionários que ainda trabalham na Noaa dizem sentir ansiedade profunda. Seus colegas foram dispensados sem aviso, o que significa que eles não têm ideia de quem pode simplesmente ser mandado embora.

Com seus cartões de crédito emitidos pelo governo congelados, eles não podem comprar suprimentos para projetos de pesquisa nem viajar para recuperar instrumentos que foram instalados no mar. Eles estão correndo para fazer backup de seus dados científicos, temendo que programas possam ser encerrados ou contratos de locação de prédios cancelados.

Pelo menos três instalações da Noaa estavam em uma lista de propriedades federais que o governo Trump destacou recentemente para possível venda. A lista foi posteriormente retirada, substituída por uma página na internet que dizia que um novo inventário seria apresentado “em breve”.

As demissões de cientistas na Noaa e em outras agências, bem como cortes potenciais no financiamento federal para pesquisa em universidades e hospitais, alimentam preocupações de que o governo esteja minando as bases da liderança científica moderna dos Estados Unidos.

Na sexta-feira (7), multidões se reuniram em manifestações sob o lema “Defenda a Ciência” em cidades ao redor do país, incluindo Austin, Texas; Birmingham, Alabama; Boston; Chicago; Denver; Nashville, Tennessee; e Washington.

“Este é o momento mais desafiador para a ciência de que tenho lembrança”, disse Michael Mann, pesquisador de clima da Universidade da Pensilvânia, no protesto em Washington, onde a multidão atingiu o pico de 5.000 pessoas, segundo os organizadores. “A ciência está sob ataque”, afirmou Mann.

O serviço meteorológico já enfrentou cortes orçamentários, congelamento de contratações e pedidos de privatização antes, disse Seitter. “Mas nada onde você simplesmente cortava arbitrariamente grandes partes da força de trabalho, ou potencialmente retirava grandes partes do orçamento que sustentam temas críticos para a missão”, disse ele.

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