A casa onde Romero cresceu, na rua Joaquim Carneiro da Silva, no Pina, zona sul do Recife, era um território iluminista e iluminado que por anos reuniu amigos numa atmosfera de acolhimento, afeto e festa.
Graças em grande parte ao gregarismo e ao bom gosto do caçula da família Ivo Robalinho, ali se difundia literatura (Bandeira, Vinicius e Drummond integravam seu panteão) e música de primeira, a começar por Chico Buarque, passando por jazz (sobretudo Ella Fitzgerald e Billie Holiday), rock e, claro, frevo.
Discípulo de Vinicius, vivia a vida como a arte do encontro.
Desde cedo destacou-se pela inteligência, como um dos melhores alunos da Escola Parque do Recife. Generoso, ajudava a turma do fundão, com aulas particulares e dicas, a superar as recuperações.
Filho de médicos, passou primeiro em medicina, mas logo abandonou o curso. Pulou para publicidade e logo jornalismo, ambos também por curto tempo. Engrenou enfim na Faculdade de Direito do Recife, a mesma em que estudaram Joaquim Nabuco, Castro Alves e Ruy Barbosa.
Deleitava-se com o debate político. Travou embates no movimento estudantil, sem deixar de ampliar a teia de amizades. Foi orador de sua turma. Exerceu a advocacia em diferentes escritórios e também de forma autônoma. Fez um mestrado em direito muitos anos depois de concluir a graduação. Manteve sempre intactas a curiosidade onívora e o gosto pela boemia.
Em 2023, descobriu um câncer de esôfago. Enfrentou o tratamento com o mesmo interesse pela vida e com planos de aprender. Pensava em fazer um curso de escrita criativa. Não deu tempo.
Amante do Carnaval, morreu na noite de 4 de março, às portas da Quarta-feira de Cinzas, como se esperasse a festa acabar para partir –e para que os amigos não precisassem interromper a folia.
“Romero deixa um legado de amor ao conhecimento, uma capacidade crítica nem sempre compreendida e uma sensibilidade que nos iluminava a todos”, escreveu o professor de direito da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Alexandre da Maia, com quem travou o bom combate no movimento estudantil.
No seu velório, o caixão foi coberto com uma grande bandeira do Náutico, uma de suas maiores paixões.
Deixa uma filha, Ana Clara, a mãe, Tânia, os irmãos, José e Regina, e um milhão de amigos.
A missa de sétimo dia ocorrerá nesta terça (11), na Igreja Matriz do Pina (Paróquia Nossa Senhora do Rosário), às 20h.
Camaradas prepararam para a ocasião uma camiseta com a foto dele e um trecho de “Pedaço de Mim”, de Chico: “Que a saudade é o pior tormento/ é pior do que o esquecimento/ é pior do que se entrevar”.
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