Faltava pôr no papel o que para todos já era de conhecimento notório: Bolsonaro foi o líder de uma trama golpista da qual seriam, ele próprio e seu grupo político, os mais beneficiados. Não falta mais: a denúncia feita ao Supremo Tribunal Federal pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, diz exatamente isso com todas as letras.
Em que pese essa denúncia do PGR ser apenas o prelúdio de um processo criminal contra Bolsonaro por abolição violenta do Estado democrático, até o mais ferrenho antipunitivista comemora a acusação, porque passamos os últimos anos com um PGR mais preocupado em processar seus críticos do que o presidente da República.
Contra o argumento da defesa de Bolsonaro de que se trata de uma guerra de narrativas baseada em eventos desconexos —fatídico termo para tornar líquido o que é sólido—, a peça de acusação apresentada por Gonet na última terça-feira (18) coloca as ações de Bolsonaro em uma chamada “cadeia de acontecimentos”, que vai do ataque sistemático contra o sistema eletrônico de votação ao 8 de Janeiro. Embora falte ainda responsabilizar quem colaborou com o golpe —militares, inclusive—, ver Bolsonaro colocado como líder da trama já é mais do que há pouco poderia se esperar do momento atual.
Enquanto a bala de prata da acusação depende de sua capacidade de provar eventos de conexão inequívoca entre Bolsonaro e o golpe, como a existência de um discurso pós-golpe pronto e os ajustes na minuta do golpe, a força da acusação já se sustenta pelo enfileiramento de eventos.
Mesmo antes de iniciado o processo criminal propriamente dito, a denúncia categórica da PGR contra Bolsonaro o torna tóxico politicamente. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, foi rápido ao dizer que anistia sequer é um assunto em debate ou prioritário para os brasileiros.
Após ser dada a Bolsonaro a garantia de ampla defesa, coisa que seu golpe teria abolido, espera-se que seja preso no rigor da lei. É o outro Oscar que falta ao país que por pouco não deixou de ser uma democracia.
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