Casa de Peixão tinha lago artificial e monte de oração – 11/03/2025 – Cotidiano

Uma casa em um terreno de 800 metros quadrados, com saída aos fundos para um rio e um lago artificial. Acabamentos de mármore, academia, sauna e pedalinhos destoam das construções ao seu entorno, na favela Parada de Lucas, zona norte do Rio de Janeiro.

Assim é a residência usada, segundo a polícia, por Álvaro Malaquias, o Peixão, traficante líder do Complexo de Israel. As três casas que seriam de propriedade do traficante começaram a ser demolidas nesta terça (11). Os locais já eram alvo de operações desde 2023.

Em julho daquele ano, policiais militares do 16ºBPM (Olaria) foram ao local após intenso tiroteio. O Complexo de Israel, formado por cinco comunidades, é a base dos autointitulados traficantes evangélicos que, segundo investigações da polícia, utilizam do narcopentecostalismo para expansão territorial.

Segundo investigações da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), que comanda a operação de demolição, Peixão está foragido e não foi encontrado. A reportagem não conseguiu localizar sua defesa na manhã desta terça.

Em uma das residências, havia uma piscina com um painel de grafite escrito: “Feliz é a nação cujo Deus é o senhor”. A mesma imagem contava com uma representação da favela e, ao fundo, o Domo da Rocha, local sagrado em Jerusalém. Em primeiro plano, homens vestindo uniformes militares com a bandeira de Israel.

Em outra casa, um lago artificial com carpas, pedalinhos e um monte que, segundo a polícia, seria um local de oração do traficante.

De acordo com a polícia, Malaquias chama sua quadrilha de Tropa de Arão, em alusão ao irmão de Moisés, profeta bíblico. Ainda na Bíblia, Arão foi o responsável pela construção de um bezerro de ouro para adoração e fez festas, sendo descrito como um profeta que cometia erros, mas tinha o coração voltado para Deus.

Em um dos quartos, havia um equipamento de sadomasoquismo; ao lado, Bíblias.

Em uma terceira casa, que lembra um sítio, há um lago artificial com pedalinhos de cisnes e grama sintética. Também há um campo de futebol, piscina, sauna e área para churrasco.

A segunda casa abriga uma academia com equipamentos modernos. Nela, os policiais já encontraram uma réplica da Arca da Aliança (na qual, segundo relato bíblico, os dez mandamentos foram guardados). No seu interior foram encontrados invólucros com terra. Segundo investigação, a terra seria solo de Israel dado de presente a aliados de Malaquias.

No Complexo de Israel há ainda uma rádio comunitária evangélica que toca louvores em caixas de som espalhadas por becos das comunidades. E, nos mesmos locais, avisos intimidam moradores.

O Complexo de Israel foi criado em uma expansão territorial do TCP (Terceiro Comando Puro), a partir de 2016 e ganhou forma na pandemia. Conta com as favelas Cinco Bocas, Pica-Pau, Cidade Alta, Parada de Lucas e Vigário Geral. Também há influência nos bairros vizinhos, como Brás de Pina e Cordovil.

Um relatório de inteligência da Polícia Civil afirma que o Complexo de Israel expandiu seus territórios para 36 ruas consideradas antes somente residenciais, sem a presença do tráfico, na zona norte carioca. Nelas há remoção constante de barricadas.

Peixão é o primeiro líder do tráfico do Rio a ser investigado por terrorismo, conforme a Folha noticiou em outubro.

“O crime de terrorismo tem relação também com questões políticas ou religiosas. No caso do Peixão, sabemos que ele impõe uma ditadura religiosa, ele não permite certos tipos de crenças ou religiões. Ele expulsa pessoas que possuem religiões afro, candomblé, espiritismo, enfim, tudo o que não tiver com a crença que ele acredita”, disse Curi.

Com forte influência evangélica, Malaquias desenhou passagens bíblicas nas comunidades. Além disso, proibiu terreiros e imagens santas. No topo, colocou uma estrela de Davi de neon. Ele tem mandado de prisão por tráfico de drogas e associação ao tráfico.

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