Cientistas têm nova explicação para calor recorde – 17/02/2025 – Ambiente

Nos últimos anos, os cientistas observaram, horrorizados, o aumento das temperaturas globais —com os anos de 2023 e 2024 atingindo cerca de 1,5°C acima da média pré-industrial. De certa forma, esse calor recorde era esperado: os cientistas previram que o El Niño, combinado com a diminuição da poluição do ar que resfria a Terra, causaria um aumento nas temperaturas.

Mas mesmo esses fatores, dizem os cientistas, não são suficientes para explicar o calor recorde recente do mundo.

O desequilíbrio energético da Terra —quando absorve calor mais do que libera— continua a aumentar, preocupando os cientistas. Esse desequilíbrio impulsiona o aquecimento global. Se ele aumentar, os pesquisadores esperam que as temperaturas globais também aumentem.

Dois novos estudos oferecem uma explicação potencial: menos nuvens. E a diminuição da cobertura de nuvens, dizem os pesquisadores, poderia sinalizar o início de um ciclo de retroalimentação que leva a mais aquecimento.

“Adicionamos uma nova peça ao quebra-cabeça de para onde estamos indo”, disse Helge Goessling, físico do clima no Instituto Alfred Wegener, na Alemanha, e autor de um dos estudos, em uma entrevista em vídeo.

Por anos, os cientistas têm lutado para incorporar a influência das nuvens nos modelos climáticos em larga escala que os ajudam a prever o futuro do planeta. As nuvens podem afetar o sistema climático de duas maneiras: primeiro, suas superfícies brancas refletem a luz do sol, resfriando o planeta. Mas as nuvens também atuam como uma espécie de cobertor, refletindo a radiação infravermelha de volta para a superfície do planeta, assim como os gases de efeito estufa.

Qual fator prevalece depende do tipo de nuvem e de sua altitude. Nuvens cirrus altas e finas tendem a ter mais efeito de aquecimento no planeta. Nuvens cumulus baixas e fofas têm mais efeito de resfriamento.

“As nuvens são uma alavanca enorme no sistema climático”, disse Andrew Gettelman, cientista afiliado da Universidade do Colorado, em Boulder (EUA). “Uma pequena mudança nas nuvens pode ser uma grande mudança em como aquecemos o planeta.”

Os pesquisadores estão começando a identificar como as nuvens estão mudando à medida que o mundo se aquece. No estudo de Goessling, publicado em dezembro na revista Science, os pesquisadores analisaram como as nuvens mudaram na última década.

Eles descobriram que a cobertura de nuvens de baixa altitude caiu drasticamente —o que também reduziu a refletividade do planeta. O ano de 2023 —que estava 1,48°C acima da média pré-industrial— teve o albedo mais baixo desde 1940.

Em resumo, a Terra está ficando mais escura.

Esse baixo albedo (fração de radiação solar refletida por uma superfície), Goessling e seus coautores calcularam, contribuiu com 0,2°C de aquecimento para as temperaturas recorde de 2023 —uma quantidade aproximadamente equivalente ao aquecimento que até agora não foi explicado. “Esse número de cerca de 0,2°C se encaixa bastante bem nesse ‘aquecimento ausente'”, disse Goessling.

Os pesquisadores ainda não têm certeza exata do que explica essa diminuição. Alguns acreditam que pode ser devido a menos poluição do ar: quando partículas estão no ar, pode facilitar para as gotículas de água se aderirem a elas e formarem nuvens.

Outra possibilidade, disse Goessling, é um ciclo de retroalimentação a partir do aquecimento das temperaturas. As nuvens requerem umidade para se formar, e nuvens estratocúmulos úmidas ficam logo abaixo de uma camada de ar seco a cerca de 1,6 km de altura. Se as temperaturas aumentarem, o ar quente de baixo pode perturbar essa camada seca, misturando-se com ela e dificultando a formação de nuvens úmidas.

Mas essas mudanças são difíceis de prever —e nem todos os modelos climáticos mostram as mesmas mudanças. “É realmente complicado”, disse Goessling.

Outros cientistas também encontraram uma diminuição na cobertura de nuvens. Em um estudo preliminar apresentado em uma conferência científica em dezembro, um grupo de pesquisadores da Nasa (agência espacial americana) descobriu que algumas das zonas mais nubladas da Terra têm encolhido nas últimas duas décadas.

Três áreas de nuvens —uma que se estende ao redor do equador da Terra e duas ao redor das zonas de médias latitudes tempestuosas nos hemisférios Norte e Sul— diminuíram desde 2000, baixando a refletividade da Terra e aquecendo o planeta.

George Tselioudis, cientista do clima no Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa e autor principal do estudo preliminar, disse que essa diminuição na cobertura de nuvens pode ajudar a explicar por que o desequilíbrio energético da Terra tem crescido nas últimas duas décadas. No geral, a cobertura de nuvens nessas regiões está diminuindo cerca de 1,5% por década, aquecendo a Terra.

Tselioudis disse que o aquecimento pode estar restringindo essas regiões ricas em nuvens —aquecendo assim o planeta. “Sempre entendemos que o feedback das nuvens é positivo —e pode muito bem ser forte”, disse ele. “Isso parece explicar em grande parte por que as nuvens estão mudando da maneira como estão.”

Se as mudanças nas nuvens fazem parte de um ciclo de feedback, os cientistas alertam que isso poderia indicar mais aquecimento vindo pela frente, com calor extremo para bilhões de pessoas ao redor do globo. Cada ano quente fortalece a ideia que alguns pesquisadores agora abraçaram, de que o aumento da temperatura global atingirá o limite superior do que os modelos haviam previsto.

Se assim for, o planeta poderia ultrapassar 1,5°C ainda nesta década. Pesquisadores agora dizem que estão correndo para entender esses efeitos à medida que o planeta continua a se aquecer.

“Estamos meio que em um momento crítico”, disse Goessling. “Temos um sinal climático muito forte —e a cada ano está ficando mais forte.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *