EUA: Quase 900 são demitidos de agência de meteorologia – 28/02/2025 – Ambiente

O governo Trump demitiu centenas de funcionários da principal agência dos EUA responsável pela previsão do tempo e pela pesquisa climática, levantando preocupações sobre a preparação do país em meio a alertas de incêndios florestais e tornados.

Os cortes afetam a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (Noaa, na sigla em inglês), que contém o Serviço Nacional de Meteorologia (NWS) e um vasto sistema de observação que fornece dados gratuitos também para meteorologistas privados. A medida faz parte de um esforço amplo da gestão Trump para reduzir o tamanho do governo federal.

Pelo menos 880 pessoas foram demitidas, disse a senadora Maria Cantwell, membro de destaque do Comitê do Senado que supervisiona a agência, em um comunicado nesta quinta-feira (27).

Espera-se que centenas mais sejam dispensadas da Noaa nesta sexta-feira (28), de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto que pediram para não serem identificadas, porque a informação é privada.

“É ridículo que isso esteja acontecendo com funcionários do governo”, disse Marnie Brown, que foi demitida na quinta-feira. Ela era especialista em programas que fornecem suporte administrativo no Escritório de Consultoria Geral da Noaa em Silver Spring, no estado de Maryland. Para ela, a agência “abrange a vida, desde a superfície do Sol até o fundo do oceano”.

As demissões estão ocorrendo justamente enquanto condições críticas de incêndio são esperadas para se desenvolver neste fim de semana em partes do Arizona, Novo México e Texas. Uma rodada potencialmente severa de tempestades, granizo e até tornados está prevista para o vale do rio Mississippi na próxima semana, disse o Centro de Previsão de Tempestades dos EUA, que faz parte do NWS.

Normalmente, o serviço meteorológico tem pelo menos dois meteorologistas de plantão durante a noite em seus mais de 120 escritórios de previsão do tempo em todo o país.

A equipe escreve previsões, lança balões meteorológicos para coletar dados e emite alertas para inundações repentinas e tornados. Em caso de clima severo, como em furacões, funcionários adicionais são frequentemente chamados e mais observações podem ser demandadas para alimentar modelos de previsão computacional.

A Noaa empregava cerca de 12 mil pessoas antes dos cortes, incluindo mais de 6.700 cientistas e engenheiros e um serviço que opera navios e aviões de pesquisa da Noaa.

Rick Spinrad, oceanógrafo que liderou a Noaa durante a gestão Biden, disse que a agência estava trabalhando para preencher vagas após uma onda de aposentadorias em 2024.

Perder trabalhadores “causará muitos danos e potencialmente perda de vidas, impacto em propriedades e desenvolvimento econômico”, afirmoy Spinrad. “A missão [do trabalho] sofrerá. A agência já estava com falta de pessoal, então se você está cortando, já está cortando no osso.”

A porta-voz do NWS, Susan Buchanan, recusou-se a confirmar o tamanho e o escopo exatos dos cortes de empregos, citando ser “prática de longa data” nas discussões questões de pessoal ou gestão na agência.

“A Noaa continua dedicada à sua missão, fornecendo informações, pesquisas e recursos oportunos que servem ao público americano e garantem a resiliência ambiental e econômica de nossa nação”, disse Buchanan em um e-mail na quinta-feira. “Continuamos a fornecer informações meteorológicas, previsões e alertas de acordo com nossa missão de segurança pública.”

Quase 21 milhões de pessoas terão pelo menos 15% de chance de vivenciar condições de clima severo na terça-feira (4) na região de Dallas, St. Louis e Nashville. No ano passado, tempestades severas —incluindo um surto de 110 tornados no centro dos EUA— mataram 51 pessoas e causaram cerca de US$ 46,8 bilhões em danos, de acordo com os Centros Nacionais de Informação Ambiental.

As previsões meteorológicas do NWS são produzidas por funcionários em escritórios de campo locais, que também mantêm equipamentos de monitoramento críticos.

Em um boletim na manhã de quinta-feira —horas antes do anúncio dos cortes de vagas— Mike Hopkins, diretor do Escritório de Observações da Noaa, disse que a agência estava “suspendendo indefinidamente” os lançamentos de balões meteorológicos de Kotzebue, no Alasca, devido à falta de pessoal na estação de previsão local.

Os cortes na Noaa ocorrem em meio a um esforço do Departamento de Eficiência Governamental de Elon Musk para reduzir o tamanho da força de trabalho federal. Essa iniciativa incluiu um programa voluntário para transição para aposentadoria e instruções do Escritório de Gestão de Pessoal para demitir funcionários em período probatório, que normalmente ocupam seus cargos há dois anos ou menos e, em certos casos, já foram contratados.

Mais demissões estão em andamento: a Casa Branca instruiu as agências federais a apresentarem planos até 13 de março para “reduções em larga escala de pessoal”, na primeira fase de cortes mais drásticos na força de trabalho federal.

Críticos conservadores pediram que a Noaa fosse desmembrada e suas responsabilidades e ativos distribuídos entre outros departamentos federais. Mas o secretário de Comércio Howard Lutnick, que supervisiona a agência, afirmou em sua audiência de confirmação no cargo, em janeiro, que acredita que a Noaa deva permanecer intacta.

Neil Jacobs, cientista que foi nomeado como próximo administrador da Noaa, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Jacobs, que foi administrador interino da Noaa durante o primeiro mandato do presidente Donald Trump, foi acusado de má conduta relacionada à previsão de furacões, caso que ficou conhecido nos EUA como “Sharpiegate”.

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