Foi o último cardeal do samba de São Paulo – 21/02/2025 – Cotidiano

“Eu era menino e sonhei que a peruchada fez de mim um grande rei”, assim canta o samba-enredo da escola Unidos do Peruche em homenagem a Carlos Alberto Caetano, o Seo Carlão do Peruche.

O fundador do Peruche morreu na manhã de segunda-feira (17) aos 94 anos, a apenas cinco dias de a escola desfilar e coroá-lo como rei. O samba-enredo “Axé Griô! Carlão do Peruche” vai prestar tributo a ele neste sábado (22), no sambódromo do Anhembi, lembrando sua história de luta, resistência e amor pelo Carnaval.

“Há muitos anos, a escola queria fazer um enredo para o Seo Carlão, mas esperava voltar ao Grupo Especial para fazer essa homenagem a ele. Eu, então, insisti em fazer este ano e fomos pedir autorização a ele”, conta Chico Ângelo, carnavalesco da escola.

“Na lata, o Seo Carlão respondeu que só estava esperando isso para morrer”, completou Chico.

Nascido em Pirapora do Bom Jesus, no interior de São Paulo, em 1930, Seo Carlão era filho de pais muito religiosos. A família costumava acompanhar romarias e festas de igreja, onde conheceu o jongo, ritmo africano que é considerado a raiz do samba por ser composto de batuque, canto e dança de roda.

Ao se mudar para a capital paulista com a família, Carlão foi morar na Barra Funda, berço do samba de São Paulo. “Ele cresceu na Barra Funda, curtia o samba e os blocos de Carnaval que aconteciam na região. Até que ele vem para o Peruche e decide se juntar com amigos do bairro para fundar a Unidos do Peruche”, conta Chico.

O carnavalesco lembra que, nessa época, samba era “coisa de vagabundo” e, por isso, Seo Carlão foi diversas vezes preso por fazer batuques. “O samba vive por causa da resistência de pessoas como o Seo Carlão.”

Seo Carlão era considerado o último dos “cardeais do samba paulistano”. Ao lado dele estiveram Tia Eunice (da escola Lavapés), Pé Rachado (Vai-Vai), Seu Nenê (Nenê de Vila Matilde) e Inocêncio Mulata (Camisa Verde e Branco).

“Esses cinco cardeais foram os responsáveis por regularizar o Carnaval em São Paulo com as autoridades, com a prefeitura, a polícia. O Carnaval deixou de ser criminalizado pela organização deles”, lembra Chico.

Mas não foi apenas com as rodas de samba e cordões de Carnaval que Seo Carlão enfrentou a resistência do Estado. Em 1972, a Unidos do Peruche desfilou com o enredo “Chamada aos Heróis da Independência”, que se tornou um imenso sucesso na avenida e provocou a ira dos militares durante a ditadura.

Presidente da escola na época, Carlão foi levado para o Dops (Departamento de Ordem Política e Social) para explicar o enredo que foi considerado subversivo. Acusados de incitar o povo contra o regime militar, ele e outros compositores tiveram que se afastar da escola por um tempo.

No sábado (15), ele havia experimentado a roupa que usaria no desfile em sua homenagem, mas morreu na segunda, de causas naturais. Ele deixa a esposa, Sônia, filhos, netos, bisnetos e os amigos da Unidos do Peruche.


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