Lula pressiona Ibama por petróleo – 16/02/2025 – Marcelo Leite

Nunca é demais repetir o óbvio em tempos de pós-verdades: Luiz Inácio mandou de novo às favas os escrúpulos de coerência ao defender a exploração de petróleo na margem equatorial, região marinha que vai do litoral do Rio Grande do Norte ao do Amapá.

Lula vociferou na quarta-feira (12) a favor da extração de combustível fóssil na bacia da foz do Amazonas. Não ficou na opinião. Partiu para a pressão direta sobre o Ibama, com o pretexto de que a agência barra meros estudos sobre as jazidas.

“Se depois a gente vai explorar, é outra discussão. O que não dá é para a gente ficar nesse lenga-lenga. O Ibama é um órgão do governo, parecendo que é um órgão contra o governo”, disse o presidente à rádio Diário FM, de Macapá (AP).

A desculpa é aquela fabricada pela ala do crescimento a qualquer custo em seu governo, que reúne de nacionalistas do PT (ou coisa pior) a oportunistas argentários do centrão: financiar a transição energética. Balela.

Primeira incoerência: transitar de energia fóssil para fontes limpas implicaria defasar a produção de petróleo, não aumentá-la. Ou, pelo menos, apresentar um plano indicando quando isso acontecerá e quanto da renda gerada será aplicada na transição –além de como. Nada.

Não há plano detalhado para transição, só a meta nacional de redução de emissões de carbono que o governo pretende cumprir reduzindo desmatamento. Um tipo absurdo de poluição climática, diga-se, pois só enriquece ruralistas néscios, devastadores da floresta que regula as chuvas das quais eles dependem.

Muito menos existe planejamento crível para escalonar, com objetivos e prazos, a retração de combustíveis fósseis. A Petrobras, se fosse séria na promessa de tornar-se uma empresa de energia e não de energia fóssil, deveria apresentar um cronograma de desembolsos crescentes para energias renováveis.

Quanto e quando empresa e governo federal preveem investir daqui até 2050, quando o planeta precisa alcançar a neutralidade de carbono? Por exemplo em geração eólica, fotovoltaica, geotérmica, em baterias para armazenar excedentes de eletricidade, na produção de hidrogênio por eletrólise ou no bombeamento da água de volta para reservatórios hidrelétricos?

Em lugar disso, Lula quer entrar para a Opep. Mais uma demonstração do complexo de vira-lata no país do futuro, mas sem Nobel, sem Oscar (até aqui), sem aumento de produtividade, sem controle da corrupção e sem boas notas no Pisa.

A outra incoerência presidencial reside na expectativa de brilhar com a cúpula do clima COP30 em Belém, perfilando-se como liderança verde no mundo. O Planalto precisa cair na real.

A capital paraense tem 20% da população atendida pela rede de esgoto, segundo o Instituto Água e Saneamento. O Pará desmatou 2.362 km2 em 2024 (38% do total derrubado na Amazônia Legal, diz o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A cidade-sede tem 18 mil vagas de hospedagem, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, para 40 mil a 60 mil visitantes esperados.

A COP30 vai fracassar. A pauta climática, com Donald Trump, saiu da agenda na maioria dos países e empresas. Se é que algum dia entrou de verdade, como no caso do Brasil e da Petrobras.


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