Pelo julgamento ferrenho nas redes sociais, madrinha de escola de samba deveria ser um quesito na apuração de Carnaval. É a categoria que começa a agitar a torcida virtual semanas antes dos desfiles ao ressuscitar a discussão sobre o direito ao cargo. Atrizes, apresentadoras e influenciadoras são acusadas de ocupar espaços que deveriam ser de mulheres da comunidade carnavalesca.
Quem defende, diz que a participação de celebridades dá visibilidade ao evento. O que não faltam são candidatas bem-intencionadas que contratam professores e passam meses na tentativa de encaixar o quadril na música, o pé no compasso, o sorriso na respiração. O problema é que falta de tudo: molejo, leveza, carisma e amigos para alertarem sobre o constrangimento. Não há fantasia que sustente a inaptidão.
Há poucos anos, Mayara Lima, uma cria do Paraíso do Tuiuti, era apenas um dos destaques de chão da escola, que tinha uma influenciadora no posto de rainha. A passista ganhou a torcida, e depois o posto, quando o vídeo de um ensaio viralizou. Ela elevou o sarrafo a outro patamar ao mostrar na avenida uma mistura de passos potentes e gestos leves, sincronizados de forma perfeita com a bateria.
Avaliar a apresentação da rainha da bateria seria uma forma de fazer justiça a quem se dedica ao Carnaval durante a vida e não apenas numa fase do ano. Isso não excluiria figuras famosas que se conectaram com suas escolas, como Sabrina Sato e Paolla Oliveira, que já foram tão criticadas pela falta de samba no pé e hoje são ovacionadas na avenida.
Sambar é difícil, não adianta só ter CPF brasileiro. Sempre guardei com timidez um sonho de infância: ser passista de escola de samba. Uma ousadia para quem nasceu sem o “physique du rôle”, mas desde que liberaram passar vergonha na avenida, posso contar aqui que na adolescência eu passava horas em frente do espelho tentando reproduzir os passos, a ginga, o sorriso daquelas mulheres fascinantes. Aprendi direitinho, mas, para alívio de todos, poupo o mundo da minha vaidade.
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