Maior geleira do mundo ameaça vida marinha – 26/01/2025 – Ambiente

Rastreada por satélites, a maior geleira do mundo, com um comprimento de 80 quilômetros, está à deriva da Antártida em direção a uma ilha remota onde poderia, no pior dos casos, colidir e bloquear os leões-marinhos e pinguins que se reproduzem lá.

Esta imensa placa de gelo, 30 vezes maior que Paris, está se afastando da Antártida há anos e se dirige para a ilha britânica da Geórgia do Sul, um importante refúgio de reprodução de fauna selvagem.

Ao contrário do que aconteceu com geleiras gigantes anteriores, desta vez não parece que o colosso de gelo se fragmentará em pedaços menores durante sua deriva, explicou à AFP Andrew Meijers, oceanógrafo do British Antarctic Survey.

Segundo o especialista, é difícil prever com exatidão a trajetória, mas as correntes dominantes sugerem que o glaciar chegará aos limites da plataforma continental ao redor da Geórgia do Sul em cerca de duas a quatro semanas.

Os cenários a partir de então são incertos. A geleira poderia evitar a plataforma continental e ser arrastado para as águas profundas do Atlântico Sul, além desta ilha britânica ultramarina situada a cerca de 1.400 km a leste das ilhas Malvinas. Mas também poderia colidir com o fundo do mar, ficar bloqueado por meses ou se quebrar em múltiplos fragmentos que se tornariam obstáculos para os leões-marinhos e os pinguins.

“Isso seria bastante dramático, mas não sem precedentes”, diz o especialista. “Já houve geleiras que encalharam nesse local no passado, causando uma mortalidade significativa entre os filhotes de pinguins e as crias de leão-marinho”.

No entanto, o chileno Raúl Cordero, da Universidade de Santiago, considera que “o mais provável é que não colida diretamente com a ilha”. “As chances de que colida não são tão altas, pedaços, talvez, mas o glaciar como um todo seria surpreendente”, assegura este especialista do programa chileno de pesquisa antártica.

Segundo ele, as possibilidades são de “menos de 50%” porque a ilha costuma desviar a água e as correntes oceânicas que, por sua vez, poderiam arrastar o glaciar.

Tampouco está preocupada Soledad Tiranti, uma glacióloga especializada em segurança náutica que atualmente está embarcada no quebra-gelo argentino “ARA Almirante Irízar”, em plena campanha antártica no verão austral. “São blocos de gelo que têm grande profundidade e, em geral, antes de se aproximarem de uma ilha ou continente, já ficam encalhados pelo simples fato de que próximo à ilha já há menos profundidade no solo marinho”, disse à AFP.

Imenso penhasco branco

Com uma extensão de 3.500 quilômetros quadrados, esta geleira batizada A23a é a mais antiga do mundo. Separou-se da plataforma glacial antártica em 1986, mas depois ficou bloqueado no solo marinho por mais de 30 anos, até se libertar em 2020.

Começou então sua lenta deriva para o norte e passou vários meses de 2024 no mesmo lugar, girando sobre si mesmo.

Andrew Meijers, que observa o A23a desde o final de 2023, o descreve como “um imenso penhasco branco, de cerca de 40 a 50 metros de altura, que se estende até onde a vista alcança”.

“É como um muro branco gigantesco que lembra “Game of Thrones”, você tem a impressão de que não tem fim”, acrescenta.

Seu movimento é impulsionado pela corrente oceânica mais potente do mundo, a corrente circumpolar antártica, a uma velocidade de 20 centímetros por segundo, segundo o British Antarctic Survey.

A geleira segue “mais ou menos uma linha reta” em direção à Geórgia do Sul, diz Meijers.

Obstáculo para os animais

O temor do pesquisador é que durante o verão austral, na costa meridional da Geórgia do Sul, os pinguins e os leões-marinhos partam em expedição nas águas frias para conseguir comida suficiente para suas crias.

“Se o glaciar ficar encalhado ali, os animais poderiam ser obrigados a contorná-lo. Isso os faria gastar muito mais energia, o que significa menos recursos para as crias e um aumento da mortalidade”, afirma.

Além disso, a população de pinguins e leões-marinhos da ilha já atravessa uma “má temporada” devido à gripe aviária.

Quando terminar de derreter, este gigante de gelo poderia gerar geleiras menores, mas ainda perigosos para os pescadores. Mas também trará nutrientes para a água, favorecendo o fitoplâncton, uma fonte essencial de alimento para baleias e outras espécies marinhas.

Embora a formação de geleiras seja um fenômeno natural, Meijers estima que a acelerada perda de gelo na Antártida se deve provavelmente às mudanças climáticas fomentadas pela atividade humana.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *