Marielle: morte completa 7 anos com guerra de versões – 13/03/2025 – Cotidiano

O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista Anderson Gomes completa sete anos nesta sexta-feira (14) com a investigação concluída e acusados presos, mas em meio a uma guerra pública de versões.

Enquanto os executores Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, presos desde 2019, confessaram o crime e já foram condenados, os acusados de serem os mandantes —os irmãos Domingos (conselheiro do TCE-RJ) e Chiquinho Brazão (deputado federal) e o delegado Rivaldo Barbosa (ex-chefe de Polícia Civil)— promovem uma campanha pública para tentar desmontar a denúncia que os mantém detidos há quase um ano.

A família dos três acusados promovem manifestações públicas e nas redes sociais advogando sua inocência. Apontam lacunas na corroboração da delação de Ronnie Lessa, enquanto as defesas miram outro ex-suspeito no caso: o ex-vereador Cristiano Girão, atualmente preso acusado por outro crime do qual o ex-PM confessou ter participado.

A família de Brazão diariamente publica nas redes de Chiquinho trechos das oitivas com testemunhas no STF (Supremo Tribunal Federal) apontando o que consideram fragilidades e contradições da acusação. A edição dos vídeos é feita com auxílio de um profissional de comunicação.

Uma das falas mais exploradas são depoimentos e entrevistas de Washington Quaquá, vice-presidente do PT, que recebeu a família de Brazão e é um crítico das conclusões da investigação. O posicionamento do prefeito de Maricá (RJ) rendeu um embate com a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco (PT), irmã de Marielle.

Parentes, amigos e alunos de Rivaldo também têm ações nas redes sociais, com um perfil específico em favor do delegado. Eles também fizeram um ato público na Barra da Tijuca criticando a manutenção da prisão do ex-chefe de Polícia Civil.

“Acredito na inocência do Rivaldo desde a prisão dele. Levou um tempo para convencermos as pessoas a se juntar naquilo que a gente acreditava. Todo mundo sabe que ele é inocente, mas poucos botam a cara. Se um delegado que foi chefe de polícia foi preso sem ter um lastro probatório, outros pessoas podem temer se expor”, disse Gabriele Murta, ex-aluna do delegado que organiza as manifestações.

O grupo planeja um novo ato no próximo dia 22, dois dias antes de se completar um ano da prisão, no dia 24. Além da passeata e cartazes, pretendem contratar um avião para expor ao longo da orla uma faixa dizendo “Rivaldo é inocente”.

A vereadora Mônica Benício (PSOL), viúva de Marielle, disse que este será o “primeiro 14 de março com avanços contundentes nas investigações”. Ela também afirmou que “não há versão alternativa para um crime político brutal como esse”.

“O fato de figuras como Chiquinho Brazão manterem poder político mesmo após estarem presas, diante da gravidade das acusações, só reforça como o crime e a política se entrelaçaram no Brasil. Enquanto a defesa dos acusados tenta fabricar um embate público, a verdade é uma só: Marielle foi assassinada por sua luta em defesa dos direitos humanos e pela construção de uma sociedade menos desigual, combatendo a violência do Estado para promover justiça social e enfrentando as milícias”, disse ela.

A PGR afirma que Domingos e Chiquinho decidiram matar a vereadora para impedir que ela continuasse a prejudicar os interesses da família em práticas de grilagem de terras. O crime seria o ápice das desavenças entre os Brazão e integrantes do PSOL.

Rivaldo teria sido consultado antes do crime e orientado que o homicídio não fosse cometido em trajeto que tivesse a Câmara Municipal como destino ou origem.

Como a Folha mostrou, a investigação da Polícia Federal não apresentou provas de corroboração que confirmem os encontros relatados por Lessa com os irmãos. O relatório da corporação também não apresentou evidências que estabelecessem vínculo entre os dois e Rivaldo.

A PF relata tentativas frustradas de ratificar a colaboração do ex-PM com provas independentes. Ela atribui as dificuldades aos seis anos já passados do crime até sua entrada na apuração. Aponta também como empecilho o envolvimento de policiais capazes de encobrir rastros.

Ao aceitar a denúncia, os ministros afirmaram considerar que os indícios apresentados eram suficientes para abrir a ação penal. Contudo, disseram que caberia à PGR “comprovar esses elementos indiciários”, nas palavras de Moraes.

Após quase um ano de tramitação, poucas novidades foram apresentadas pela acusação.

Em novembro, a PF apresentou um relatório complementar no qual detalha suposta grilagem promovida por Brazão na zona oeste do Rio de Janeiro, num caso sem relação direta com o homicídio —eles também respondem por organização criminosa para loteamento irregular de terrenos.

No documento, o delegado Guilherme Catramby, responsável pelo inquérito, afirma que não tem mais laudos a produzir.

Moraes determinou na última segunda-feira (10), a pedido da defesa de Rivaldo, que a PF entregue a transcrição de todas as mensagens entre o delegado e Marielle. Os advogados do ex-chefe de Polícia Civil pretendem mostrar a relação de colaboração que os dois mantinham.

Também foi determinado ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro o envio dos autos da ação penal que Lessa responde junto com Cristiano Girão pela morte de duas pessoas. Os acusados dizem que o assassino de Marielle está protegendo o ex-vereador, que seria o real mandante do homicídio da vereadora.

A defesa de Girão sempre negou envolvimento nos dois crimes e atribui a acusação a uma estratégia dos advogados dos réus no STF.

Moraes tinha como meta encerrar o caso em 2024. Contudo, as audiências que deveriam consumir 10 dias demoraram quase três meses (de agosto a outubro).

O ministro deu prazo para até segunda-feira (17) a conclusão de todas as diligências pedidas pela acusação e defesa. A expectativa é que ele abra prazo para as alegações finais. A PGR já sinalizou querer um mês para preparar a última petição da ação, período que seria igual às defesas.

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