O Governo de São Paulo admite reavaliar a construção da estação 14 Bis-Saracura, da linha 6-laranja do metrô, por causa do impasse envolvendo o resgate arqueológico no local, se as obras não forem autorizadas pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Com apenas 14,6% de obras concluídas, a estação é a mais atrasada das 15 que irão compor a nova linha. É a única que não tem poço perfurado.
A 14 Bis-Saracura está no local em que ficava a antiga sede da escola de samba Vai-Vai no Bixiga, região da Bela Vista, no centro de São Paulo.
A empresa deu prazo máximo para finalização do resgate arqueológico e o início das escavações até o próximo dia 28. “Após essa data, qualquer atraso subsequente impactará o cronograma das obras, comprometendo, além da entrega da estação 14 Bis, a operação de outras estações”, diz, em nota.
Procurado duas vezes nesta quarta-feira (12) para falar sobre o andamento das investigações arqueológicas, o Iphan disse que apurava as informações, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.
As escavações na futura estação foram parcialmente paralisadas em maio do ano passado após o encontro de cerca de 4.000 peças supostamente de origem do quilombo Saracura.
Segundo a concessionária, até o momento, todas as atividades de engenharia que podiam ser realizadas simultaneamente ao resgate arqueológico já foram concluídas.
As obras, aponta o o governo estadual, estão restritas a serviços essenciais para a segurança, como a construção de paredes de contenção para garantir a realização das escavações de forma segura.
Sem dar detalhes, em nota no início da noite desta quarta, a gestão Tarcísio de Freitas afirmou ter recebido um ofício do Iphan com novas orientações sobre o prosseguimento do resgate arqueológico na área.
“Caso nova decisão do Iphan de não liberar o resgate na área 4 não seja revertida, ou seja, se não for autorizada a liberação do local para o avanço das obras até o dia 28 de fevereiro de 2025, o Governo de São Paulo irá reavaliar a construção da estação 14-Bis de modo a evitar impacto no cronograma”, afirma a Secretaria de Parceria em Investimentos.
Em outubro do ano passado, o Iphan disse que não havia embargo ao empreendimento e que a empresa de arqueologia contratada pela concessionária seguia realizando todas as atividades no canteiro do sítio Saracura, “tendo em vista que há vigente uma portaria de autorização de resgate arqueológico”.
Na época, o instituto do patrimônio histórico disse tratar como prioridade o empreendimento, “com manifestações feitas com máxima celeridade”.
O consórcio afirmou recentemente ter apresentado um projeto de aceleração de obras e alternativas técnicas que contemplam a estação.
No último domingo (9), a foram encerradas as escavações da linha. Apenas a 14 Bis não conta com acesso ao túnel.
Segundo apurou a reportagem, tecnicamente é possível a construção da parada de metrô, mesmo com os trens em funcionamento.
A linha vai ligar a Brasilândia, na zona norte de São Paulo, à estação São Joaquim, na região central, com expectativa de transportar mais de 630 mil passageiros por dia. Com isso, o tempo de deslocamento neste trajeto, que hoje é feito em cerca de uma hora e meia por ônibus, será reduzido para apenas 23 minutos.
O trecho entre Brasilândia e Perdizes tem previsão de entrega para outubro de 2026. A operação do traçado entre Perdizes e São Joaquim, onde fica a 14 Bis, é esperado para 2027.
Prometida inicialmente para começar em 2010, a obra sofreu uma série adiamentos e efetivamente teve início em 2015, com previsão de entrega em cinco anos depois. Porém, a construção acabou paralisada em 2016, sendo retomada em 2020 com a atual concessionária.
Houve ainda a interrupção inesperada de sete meses em parte dos trabalhos, quando uma cratera afundou o asfalto na marginal Tietê, em fevereiro de 2022, por causa do rompimento de uma tubulação de esgoto, que também inundou a tuneladora responsável pelas escavações.
Na última segunda-feira, o governo autorizou estudos para ampliação da linha com mais seis estações, sendo quatro a partir do centro: Aclimação, Cambuci, Vila Monumento e São Carlos/Parque da Mooca, já no início da zona leste, e Morro Grande e Velha Campinas na direção norte.