Onda ‘azul’ em Ubatuba vem de microrganismos; veja fotos – 09/03/2025 – Ambiente

Na noite da última sexta-feira (7), turistas e moradores da vila de Itamambuca, em Ubatuba, praia no litoral norte de São Paulo, presenciaram um fenômeno encantador na natureza: a formação de ondas luminosas no mar.

As imagens captadas por Leonardo Dantas, responsável pela conta no Instagram Vida Caiçara, mostram ondas de um azul brilhante quebrando na areia.

O fenômeno, conhecido como bioluminescência, tem origem em organismos dinoflagelados do gênero Noctiluca, explica Áurea Maria Ciotti, coordenadora do Laboratório Aquarela do Cebimar (Centro de Estudos de Biologia Marinha) da USP e atualmente vice-diretora do centro.

Estes seres flutuantes fazem parte do plâncton marinho e possuem a substância luciferina, a mesma encontrada em alguns peixes e outros animais com bioluminescência, como o vaga-lume.

“Na zona de arrebentação das praias, quando observamos bioluminescência, ela está geralmente associada à presença de uma grande quantidade de organismos microscópicos do tipo Noctiluca. Esse acúmulo é resultado de um crescimento acelerado dos organismos e pela disponibilidade de alimentos”, afirma.

A ação da enzima luciferase sobre o composto da luciferina, na presença de oxigênio, provoca a luminescência. A cor da luz emitida varia conforme os organismos, porque eles possuem tipos diferentes de luciferina, explica a bióloga, e a luminosidade tem a função de sinalização, tanto para atrair (por exemplo, parceiros sexuais, no caso dos vaga-lumes) quanto para afugentar.

“Acredito que a surpresa seja pela própria bioluminescência e pelo atrativo da observação do mar durante a noite”, reflete a professora.

Por ser um organismo unicelular, a Noctiluca pode apresentar episódios de crescimento explosivo —conhecidos como floração—, muitas vezes influenciados pelo aumento da temperatura da água ou pelo acúmulo de nutrientes e de outros microrganismos, como as diatomáceas (microalgas).

No entanto, a sua ocorrência não é incomum e ocorre em toda a costa brasileira.

“A Noctiluca não é uma microalga, ela não é capaz de fazer fotossíntese, mas se alimenta de microalgas. Assim, se existem muitas microalgas, em função de haver mais nutrientes, elas podem crescer rapidamente [em qualquer praia]”, explica Ciotti.

Em geral, a movimentação, seja pela passagem de um barco, ou pelo quebrar de ondas, pode desencadear a produção de luz.

“Uma forma de estimular a bioluminescência dos dinoflagelados é agitar a água, então ondas, movimentos de embarcações, ou até mesmo a natação podem promover rastros iluminados. A luz produzida é relativamente fraca, então só percebemos seu efeito nas praias durante a noite”, diz.

Embora esse microrganismo em particular seja inofensivo aos seres humanos, o contato com a água na presença da bioluminescência deve ser evitado, uma vez que a sua ocorrência pode indicar a presença de outros dinoflagelados, incluindo algumas espécies que podem provocar diarreia e outros sintomas.

“O plâncton é uma comunidade muito diversa. Se existem condições para acúmulo de microrganismos que alteram a cor da água ou promovem bioluminescência, enquanto não houver uma análise da água para sabermos os demais organismos presentes, o recomendável é não entrar na água”, diz.

Diversos estudos já associaram a presença de dinoflagelados na água com a poluição, principalmente em fenômenos conhecidos como “maré vermelha”, onde o acúmulo de nutrientes oriundos do esgoto não tratado podem influenciar seu crescimento.

No caso do litoral norte paulista, a pesquisadora reforça ser uma área de risco devido ao aumento populacional recente, por conta da temporada de férias, e pelas temperaturas em ascensão.

“Além disso, a nossa costa recebe águas com muitos nutrientes em um processo conhecido como ressurgência costeira, que faz com que existam condições bem favoráveis de microalgas.”

Segundo a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), a praia de Itamambuca está própria para banho, conforme boletim divulgado no último dia 4. Uma nova avaliação de balneabilidade será divulgada na quinta-feira (13).

Na visão do órgão, a ocorrência de Noctiluca não é tóxica e não traz risco aos banhistas.

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