É difícil afirmar quem faz mais sucesso nos badalados fins de semana da rua Bento Freitas, no centro de São Paulo. Estão no páreo os coroas enxutos, as travestis em laicra e os frascos de poppers, termo popular para os nitritos de alquila.
Vendida em pequenos recipientes de vidro para serem abertos e cheirados, a substância já foi mais reservada. Seu uso era quase exclusivo entre quatro paredes, durante o sexo. Isso porque ela provoca o relaxamento da musculatura anal e vaginal, facilitando a penetração. Assim, foi apelidada de “droga do amor”.
Mas há outros efeitos atrelados aos poppers: euforia, desinibição e escapismo. Ou seja, a mesma sensação produzida por outros entorpecentes, como álcool, só que de modo mais rápido e potente. Por isso, passou a frequentar festas na região central paulistana.
Igor Vieira, 33, frequentador assíduo da Bento Freitas, repleta de bares LGBTQIA+, diz que só sai de casa com seu frasco no bolso. Como não bebe, ele recorre à droga para “flertar com mais facilidade”. Nos últimos meses, porém, diminuiu as doses de droga.
“Virou modinha. Numa noite aqui, é difícil não ver uns dez cheirando”, afirma. O preço, informa, também disparou devido à demanda. A cotação depende do tamanho. Por exemplo, um vidro de 100 ml custa, em média, R$ 160. O de 300 ml é achado por R$ 320.
Os nitritos de alquila estão na lista de substâncias proibidas da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Os frascos são traficados da Europa e da América do Norte, sendo anunciados nas redes sociais e em aplicativos de relacionamento —ou até em marketplaces.
Para a droga ser vendida online e escapar da fiscalização da Polícia Federal, ela é escondida sob codinomes, como “super rush” e “suco da selva”. O químico também pode ser anunciado como desodorizante de ambiente, incenso, polidor de couro e produto de limpeza. Tudo isso ignorando sua serventia original em meados do século 19, o tratamento de dores no peito.
Os poppers não são considerados altamente viciantes, explica Vinicius Benicio, psiquiatra especialista em comportamento sexual e professor da Universidade Municipal de São Caetano do Sul. Eles não atuam diretamente nos sistemas de recompensa cerebral, da maneira de outras drogas como o crack.
Apesar disso, o uso frequente pode gerar tolerância, levando à busca de doses maiores para obter o mesmo efeito. O que não é difícil de ocorrer, pois o resultado de cada inalação é sentido por, no máximo, dois minutos. “Pode parecer pouco, mas dura mais que meu ex”, brinca a estudante Samira Costa, 24, na fila de uma balada na rua Major Sertório, ao lado da Bento Freitas.
“Esse aumento de dosagem pode elevar os riscos cardiovasculares e respiratórios, além de agravar sintomas como tontura e desmaios, principalmente em ambientes festivos com consumo simultâneo de outras substâncias”, explica o médico.
O perigo aumenta com a combinação entre os poppers e medicamentos para disfunção erétil, que pode causar hipotensão —gerando tontura e desmaios. Também não pode ser associado a bebidas alcoólicas, por potencializar a desorientação. Já o uso cocaína e metanfetamina pode sobrecarregar a pressão arterial e aumentar a impulsividade sexual.
Como outras substâncias classificadas como chemsex —contração de “chemical” (químico, em inglês) com “sex” (sexo), a perda de controle também traz outros riscos, como exposição a violência e infecções sexualmente transmissíveis.