Caio Teissiere, 40, é administrador de formação. Desde que prestou concurso e começou a trabalhar, em 2011, na Autoridade Portuária de Santos (APS), instituição responsável pela administração e fiscalização do Porto de Santos, sentia a necessidade de complementar seu conhecimento sobre o mar.
“Trabalhava no porto, mas não tinha formação sobre estudos oceanográficos, atmosféricos e químicos, necessários no dia a dia”, diz.
Teissiere fez mestrado interdisciplinar em ciência e tecnologia do mar na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), onde pesquisou sobre as competências profissionais dos trabalhadores portuários. Hoje, é assessor da diretoria da APS e diretor-presidente da Fundação Cenep, entidade vinculada ao órgão que oferece treinamentos para o setor portuário.
Na pós-graduação interdisciplinar, o aluno tem contato com diferentes áreas de conhecimento e metodologias, que atuam em conjunto.
“Os problemas da sociedade estão cada vez mais complexos. A área interdisciplinar busca olhar por diferentes ângulos para um problema, com cada especialidade contribuindo para o todo. É bem diferente do olhar disciplinar, que foca apenas em um recorte da realidade”, diz Antônio Gomes, diretor de avaliação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).
Dados de 2023 da Plataforma Sucupira, que reúne informações da pós-graduação no Brasil, apontam que a área interdisciplinar é aquela com o maior número de programas da Capes, com 387.
Alessandra Mussi Ribeiro, coordenadora do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências da Saúde da Unifesp, que tem cursos de doutorado e mestrado, afirma que a metodologia interdisciplinar permite formar pessoas com uma visão ampla da saúde.
Para ela, o diferencial do programa interdisciplinar é a flexibilidade entre as diferentes formações e o resultado dessa interação. “Hoje, o nosso programa não tem disciplinas obrigatórias, e o aluno tem autonomia. O programa defende a ideia de que a saúde não é apenas curar uma patologia, mas também um agente social.”
Para Oswaldo Gonçalves Junior, coordenador do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (ICHSA) da Unicamp, os cursos interdisciplinares buscam romper a lógica de que conhecimento é produzido de maneira fragmentada.
“Os programas tradicionais se voltam para temáticas específicas. Por exemplo, em uma pós sobre câncer, o aluno só vai estudar isso. O nosso programa permite que o aluno estude questões ambientais, psicanálise, tecnologias, entre outros”, afirma.
Integrar diferentes áreas, porém, é um desafio. Há um consenso de que é mais fácil atuar de forma disciplinar do que de forma interdisciplinar.
“Não é simplesmente somar o que cada um fala. É necessário diálogo, coordenação e ajustes até de palavras para que elas não tenham significados diferentes”, diz Antônio Gomes, da Capes.
A inserção no mercado de trabalho também é um problema. Eugenio Benedictus, formado no ICHSA e coordenador geral de proteção social especial no MDS (Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), vê dificuldades em concursos públicos.
“Os editais não são tão inclusivos com programas interdisciplinares. A depender do concurso, o seu diploma pode não ser considerado por não pertencer àquela área específica”, diz.
De acordo com Antônio Gomes, da Capes, é necessária uma discussão nacional que traga maior reconhecimento à interdisciplinaridade. “A Capes recebe muita reclamação dos doutores ou mestres com inscrições indeferidas em concursos. A mesma instituição que tem um programa interdisciplinar pode indeferir um diploma que não seja disciplinar. Ainda há uma distância entre o discurso e a prática.”
Onde cursar
Mackenzie – Ciências do Desenvolvimento Humano
Duração do curso 2 anos (mestrado) ou 4 anos (doutorado)
Cidade São Paulo (SP)
Turno Diurno
Formas de ingresso Processos seletivos
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Políticas Públicas e Formação Humana
Duração do curso 2 anos (mestrado) ou 4 anos (doutorado)
Cidade Rio de Janeiro (RJ)
Turno Diurno
Formas de ingresso Processos seletivos
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (ICHSA)
Duração do curso 2 anos (mestrado)
Cidade Limeira (SP)
Turno Diurno
Forma de ingresso Processo seletivo
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) – Memória: Linguagem e Sociedade
Duração do curso 2 anos (mestrado) ou 4 anos (doutorado)
Cidade Vitória da Conquista (BA)
Turno Diurno
Formas de ingresso Processos seletivos
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) – Interdisciplinar em Energia & Sustentabilidade
Duração do curso 2 anos (mestrado) ou 4 anos (doutorado)
Cidade Foz do Iguaçu (PR)
Turno Diurno
Formas de ingresso Processos seletivos
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – Engenharia, Gestão e Mídia do Conhecimento
Duração do curso 2 anos (mestrado) ou 4 anos (doutorado)
Cidade Florianópolis (SC)
Turno Diurno
Formas de ingresso Processos seletivos
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia do Mar
Duração do curso 2 anos (mestrado)
Cidade Santos (SP)
Turno Diurno
Forma de ingresso Processo seletivo
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – Interdisciplinar em Ciências da Saúde
Duração do curso 2 anos (mestrado) ou 4 anos (doutorado)
Cidade Santos (SP)
Turno Diurno
Formas de ingresso Processos seletivos