Promotor público combateu o Esquadrão da Morte – 02/03/2025 – Cotidiano

Em plena ditadura militar, nos anos 1960 e 1970, o então promotor público Dirceu de Mello fazia parte da equipe do Ministério Público de São Paulo comandada por Hélio Bicudo para combater o Esquadrão da Morte, um grupo paramilitar que contava com a cumplicidade do regime para assassinar supostos criminosos.

Ele próprio e a família foram intimidados e ameaçados de morte, mas o trabalho de investigação fez com que fosse possível a denúncia do grupo formado por policiais, membros do Poder Executivo, do Poder Judiciário e do empresariado. Um dos denunciados foi o delegado Sérgio Fernando Paranhos Fleury, considerado o líder do esquadrão.

Essa e outras investigações de violações dos direitos humanos nos anos de chumbo fizeram com que seu nome fosse incluído, juntamente com o de Bicudo, no SNI (Serviço Nacional de Informações), um aparato criado para investigar os cidadãos durante a ditadura.

Por isso, suas aulas como professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) passaram a ser gravadas pelos militares. Em uma ocasião, ele chegou em casa e a mulher e os filhos estavam escondidos em um quarto, com medo após a ligação do delegado conhecido como Lírio Branco, que era o porta-voz do Esquadrão da Morte, ameaçando a todos e ordenando que Mello deixasse as investigações.

Mas junto com a perseguição também veio o reconhecimento de seu trabalho. Foram mais de 60 anos de vida pública como promotor, juiz e desembargador, sendo 25 deles no Ministério Público.

Nascido em 1929 na cidade de Itapetininga, no interior de São Paulo, Dirceu era filho dos professores Albertina e Mauro de Mello, e tinha três irmãos. Aos 17 anos, foi para a capital paulista para se inscrever no curso de medicina na USP, o grande sonho da mãe. Como não queria, pulou do bonde no centro da cidade, onde se inscreveu na Faculdade de Direito da USP no largo São Francisco.

Após formado, foi aprovado em concurso para o Ministério Público, no qual atuou de 1952 a 1979 em diversas cidades do interior paulista, sendo presidente interino por um ano. Em 1979, ingressou na magistratura como juiz do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo e, em 1981, tornou-se desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), do qual foi presidente em 1998 e 1999.

Na área acadêmica, Dirceu foi professor de direito penal na Faculdade de Direito da USP e professor titular da mesma disciplina na Faculdade Paulista de Direito da PUC-SP, onde lecionou nos cursos de graduação e pós-graduação. Foram 45 anos na instituição, na qual ocupou diversos cargos de gestão, incluindo a direção da Faculdade de Direito, e reitor da universidade de 2009 a 2012.

“Meu avô era um profundo conhecedor da língua portuguesa e também cogitou ser jornalista, mas optou, acertadamente, pelo direto e a carreira acadêmica. Era um grande orador e nos debates e discursos sempre falava que o seu coração batia PUC-PUC-PUC”, diz o neto Carlos Alberto Pereira Leitão Junior, também promotor de Justiça.

Quando cursava o último ano de direito, ele conheceu Therezinha Balester de Mello em um clube local. Ela fazia contabilidade na Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado). Casaram-se em 1955 e tiveram cinco filhos: Maria Cecília, Ana Lúcia, Fernando, Maria Teresa e Ana Cristina.

“Ele era um pai e avô muito amoroso e presente. Sempre cuidou de todos ao seu redor. Nos momentos de lazer ele gostava de ir para uma pequena chácara em Ibiúna (SP), onde adorava manter contato com a natureza”, diz Carlos Junior, destacando que o avô era corintiano fanático.

Dirceu de Mello morreu aos 95 anos no dia 24 de fevereiro, em São Paulo, de causas naturais. Deixa os 5 filhos, 10 netos, 10 bisnetos (mais um a caminho), 1 irmã e 1 cunhada.

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