O Ministério Publicou denunciou seis pessoas sob a acusação de participar do assassinato de Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, delator do PCC, na saída do aeroporto de Guarulhos, em novembro de 2024. Entre os denunciados estão três policiais militares, que estão presos, e outros três investigados, foragidos.
Segundo os promotores, a denúncia oferecida nesta segunda-feira (17) é a primeira sobre o caso, e as investigações devem prosseguir, baseadas nas 960 páginas da delação de Gritzbach feita ao Ministério Público.
Denis Martins e Juan Silva Rodrigues, ambos policiais, foram denunciados sob a acusação de serem os executores. Já Fernando Genauro, também policial militar, Kauê do Amaral Coelho, Diego do Amaral Coelho e Emílio Carlos Gongorra Castilho foram denunciados sob a acusação de participação no crime.
As defesas dos PMs negam que eles tenham participado do crime. A reportagem não conseguiu contato com as defesas de Kauê, Diego e Emílio.
O grupo também foi denunciado pela morte do motorista de aplicativo Celso Novais, atingido durante o tiroteio, e pela tentativa de homicídio de outras duas pessoas feridas na ocasião.
Também foi pedido, a título de indenização, que cada denunciado pague R$ 1 milhão em danos morais coletivos, R$ 20 mil para os sobreviventes e de R$ 100 mil às famílias dos mortos.
Essa denúncia, segundo o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, trata apenas do caso ocorrido em Guarulhos, mas as apurações, baseadas também na delação de Gritzbach, continuam, por causa da estrutura mobilizada pelos criminosos.
“O crescimento do crime organizado tem gerado algumas ações típicas de máfia”, afirmou Oliveira e Costa no início da entrevista. “Foi escolhido local da operação e maneira da operação para dar recado ao Estado”, disse, em outro momento.
“Considerando quatro qualificadoras, duas vítimas fatais e duas sobreviventes, a pena poderia chegar a cem anos de reclusão”, disse a promotora Vania Stefanoni. Ela também afirmou que o Ministério Público poderá recorrer de uma eventual decisão do Tribunal do Júri que seja considerada não proporcional ao dano do crime provocado, além de Gritzbach, a Celso Novais e a toda a sociedade.
As quatro qualificadoras, segundo os promotores, são: motivo torpe, perigo comum a outros, recurso que dificultou defesa da vítima e uso de armamento restrito.
Segundo o promotor Rodrigo Merli, a denúncia pode ser a primeira a ser oferecida, “de, quem sabe, uma série de outras”, inclusive por prazos legais, como o vencimento da prisão temporária de Fernando Genauro nesta terça-feira (18).
Para Merli, o nível de envolvimento de policiais militares nesse tipo de crime é inédito. “Não me lembro, nos últimos tempos, de ter atuado ou ouvido falar de colegas, de algo desta magnitude.”
As declarações foram dadas em entrevista coletiva na sede do Ministério Público na manhã desta segunda.
Como mostrou reportagem da Folha, a morte de Gritzbach foi, segundo a investigação do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) da Polícia Civil de São Paulo, um acerto de contas. De acordo com o relatório, apresentado na última sexta-feira (14), o crime contou com organização entre criminosos e policiais militares que executaram o atentado e ocorreu com brutalidade para demonstrar a força do PCC.
O procurador-geral de Justiça elogiou as polícias de São Paulo, especialmente a PM, que, por meio da corregedoria, “cortou na carne”.
Seis pessoas foram indiciadas após quatro meses de investigação, sendo que os três policiais estão presos. São eles o cabo Denis Antonio Martins; o soldado Ruan Silva Rodrigues –apontados como atiradores–; e o tenente Fernando Genauro da Silva, suposto motorista do veículo Gol preto utilizado pelos autores.
Segundo o relatório da polícia, a execução de Gritzbach foi claramente um acerto de contas por seu suposto papel de mandante nas mortes de dois membros do PCC conhecidos como Cara Preta e Sem Sangue, pela apropriação de imóveis e valores milionários dos chefes da facção, além de ser também motivada pela delação acordada com o Ministério Público.
O delator usava, segundo a investigação, a experiência de corretor de imóveis e investidor em ativos digitais para aplicar dinheiro dos criminosos no setor imobiliário e no mercado financeiro.
Tais conclusões reforçam a suspeita sobre quem são os integrantes do núcleo de mando da execução: Emílio Carlos Gongorra Castilho, o Cigarreira, que era amigo de Cara Preta e teria sido financeiramente prejudicado por Gritzbach, e Diego do Amaral Coelho, o Didi, que teria desavenças com a vítima.
Diretamente ligado aos mandantes está o sexto e último iniciado, Kauê do Amaral Coelho. Ele é primo de Didi e foi designado como olheiro no momento da execução. Sua tarefa era monitorar Gritzbach na saída do aeroporto.