“Os intelectuais que me desculpem, mas acredito em Deus”, afirmou Tati Bernardi em conversa com leitores da Folha, como parte da comemoração dos 104 anos do jornal, na quarta-feira (19).
Tati contou que estudou em escola católica na zona leste de São Paulo e, desse tempo, chegou à convicção de que Deus existe. “Minha família não era intelectual. Geralmente, acontece de intelectuais não acreditarem em nada”, disse.
A escritora afirmou ter poderes mediúnicos e que via espíritos quando era criança. “Só parou quando fui a uma sessão espírita e pedi que interrompesse aquilo porque me dava medo.” Em seguida, brincou, apontando para uma cadeira vazia: “tem uma senhorinha linda ali na primeira fileira”.
Tati disse que, no ano passado, teve depressão e recorreu, além da psicanálise e da psiquiatria, à religião. “Fui ao candomblé. Disseram que meu corpo estava pesado. Comecei a frequentar e melhorei de enxaqueca e dores crônicas.”
Tati Bernardi, que é colunista da Folha desde 2013, destacou o que classificou como fase mais madura de sua carreira. “No começo, você é um jovem prodígio e há permissividade para o erro. Quando você amadurece, não pode errar tanto.”
Em resposta ao leitor Rafael Escudero, estudante, explicou que se tornou mais criteriosa sobre o que escreve na coluna com o passar do tempo.
“Como uma mulher de 45 anos, leio e vejo que alguns pensamentos não cabem mais. Aos 30 anos, tinha uma percepção de que tudo era válido ou piada. Como eu vinha de publicidade, gostava da sacadinha, e funcionava. Hoje, quero que pareça algo que realmente pensei e aprofundei.”
Tati também refletiu sobre o impacto da maternidade em sua vida, que mudou o que escreve. “Minha filha é a única pessoa que não exponho. Tem muitas histórias boas que vivo com ela e que não consigo contar. Às vezes sai alguma coisa; depois, quando leio, me dá ressaca”, afirma.
Outro tema abordado durante a conversa foi a relação dela com o machismo. O tema foi ironizado no Mais sexo, menos livros, texto de coluna publicada em janeiro de 2025, em que reclama da quantidade de livros enviados por homens para que ela analise.
“É o assédio não sexual? É o assédio não moral? É o abuso letral? É o abuso laborial? É o mansbooking? É o workinterrupting?”, escreveu na coluna.
No encontro com leitores, definiu como ironias da vida. “Às vezes, chega um cara que quer tomar café comigo, eu acho que pode ser um encontro, mas ele traz um PDF impresso de 400 páginas.”
Tati afirmou que sua coluna não é de militância feminista, apesar de ela se definir como feminista. “É sobre tirar sarro de como funciona a vida.”
Questionada pelo leitor Gabriel Barros da Silva, ator, sobre o quanto do pessoal chega ao jornal, Tati diz se sentir mais protegida escrevendo do que apresentando videocasts e podcasts. “Por mais que seja um texto que conte uma dor, está protegido pela literatura. Há uma preocupação sobre qual palavra usar. Talvez por isso meus videocasts e podcasts sejam de entrevistas. É uma exposição arquitetada.”
Além de colunista, Tati Bernardi apresenta diferentes podcasts produzidos pela Folha, como Se ela não sabe, quem sabe? e Meu Inconsciente Coletivo —este último com oito temporadas. Ela também é autora do livro “Depois A Louca Sou Eu”.
O evento, na sede do jornal, teve mediação de Victoria Damasceno, editora de Todas e de Saúde.