Reconstrução gaúcha: Casas de bombas esperam reforma – 28/02/2025 – Cotidiano

Nove meses após a enchente que marcou a história do Rio Grande do Sul, equipamentos de proteção que colapsaram em Porto Alegre ainda não têm data prevista para obras, com a maioria das estações de bombeamento que falharam em 2024 aguardando reforma.

De 19 Ebaps (Estações de Bombeamento de Águas Pluviais) que apresentaram problemas durante a cheia do Guaíba no ano passado, 4 foram licitadas (sendo que 2 já tiveram obras iniciadas), 4 devem ser licitadas até o fim de março —e o início das obras depende desse resultado — e as demais ainda não têm previsão.

Ao todo, são 23 Ebaps que compõem um sistema complexo de drenagem da cidade, posto em marcha na década de 1970. Dele, também fazem parte tubulações, diques e comportas.

Também conhecidas como casas de bombas, as Ebaps são compostas de motores que movimentam grandes volumes de água por segundo e ajudam na proteção contra inundações, evitando o transbordamento de canais, bocas-de-lobo e poços.

De acordo com a prefeitura, todas as 23 estações estão em funcionando atualmente.

As que estão em obras desde o dia 5 de setembro são as 17 e 18, que ficam no Centro Histórico da capital gaúcha. De acordo com a administração municipal, as equipes agora trabalham na finalização, com concreto armado, das chaminés de equilíbrio criadas para proteger as casas de bombas em caso de nova elevação do nível do Guaíba.

Esses foram os primeiros equipamentos que receberam melhorias após a enchente de maio de 2024. “Lembro quando elas ‘explodiram’ em um jorro d’água, ficamos assustados e ali percebemos que aquela enchente ficaria para sempre marcada na nossa memória”, conta o vendedor de capas para celular e morador da região Alfredo Souza, 54.

Segundo a prefeitura, o Dmae contratou em julho de 2024 a empresa IFX, que está realizando os estudos nas Ebaps. As casas de bombas foram divididas em lotes de quatro para licitação.

Os projetos do próximo conjunto de estações a terem obras licitadas, que compreendem as unidades de números 5, 6, 8 e 10, devem ser entregues à prefeitura no final do primeiro trimestre.

Na avaliação do professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Fernando Dornelles, as obras que estão sendo realizadas são as de caráter emergencial, para evitar um novo refluxo de água nas casas de bombas.

As demais intervenções, de elevação das estações ou da parte elétrica, envolvem mais projeto e demandam mais tempo. “As emergenciais precisam estar prontas o quanto antes, não se espera que aconteça por agora um evento igual ao de 2024, mas a cidade já pode ter problemas com 3,5 metros a mais de água.”

As intervenções de maior prazo devem ser decididas a partir de um outro estudo, encomendado à Rhama Analysis que investigará se a cota de inundação na zona norte da cidade, onde está o sistema de proteção contra cheias existente, é suficiente para os padrões climáticos atuais.

O levantamento também buscará definir o caminho para a criação de um sistema de proteção contra cheias na zona sul, que ainda não conta com nenhuma estrutura do tipo. A contratação custou R$ 5,81 milhões.

Em outro ponto sensível do sistema de proteção da cidade, a substituição de três comportas que romperam com a força da água localizadas na avenida Castelo Branco, teve em 20 de janeiro encerrado o período de envio de propostas de uma concorrência pública para obras.

Quatro empresas apresentaram interesse em executar o projeto, e ainda precisa ser definida a vencedora da licitação, o que está previsto para ocorrer nas próximas semanas. O projeto tem valor de referência de R$ 9 milhões.

Já o fechamento definitivo da comporta 3, também no Centro Histórico, foi concluído em 15 de janeiro após cerca de um mês de obras. Um contrato para a realização de obras também nas passagens 5 e 7 tem início previsto pelo Dmae para as próximas semanas.

O fechamento de quatro outras (8, 9, 10 e 13) foi objeto de concorrência pública, encerrada em 22 de janeiro com três empresas interessadas. Ainda falta definir a vencedora da licitação, que tem valor de referência de R$ 3,5 milhões.

Dornelles não qualifica como atrasado o ritmo de obras, ao se considerar que diversos governos anteriores contribuíram para o sucateamento do sistema de proteção. Ele aponta que também falta conhecimento da importância desse sistema. Como exemplo, cita que a demolição de estruturas fixas, como o muro da Mauá, era alvo de discussões antes da enchente do ano passado.

Mas ele avalia que a enchente de 2023, no Vale do Taquari, já tinha trazido o último grande alerta para a capital gaúcha, que perdeu a oportunidade de iniciar mais cedo as obras de médio e longo prazo de modernização do sistema.

“Em 1941, a gente teve a grande cheia e nos anos 1960 caiu a ficha, com o Guaíba superando os três metros e boa parte da cidade inundada. Na década de 70, construíram os diques e as casas de bombas. Depois, em 2015 a gente chegou quase nos três metros, quando as comportas viárias do Cais Mauá foram fechadas. Em 2023, teve o último grande aviso de que a inundação pode acontecer em qualquer momento.”

Entre 19 e 27 de fevereiro, o prefeito Sebastião Melo (MDB) e o governador Eduardo Leite (PSDB) viajaram em comitiva para os Países Baixos, com objetivo de conhecer soluções de gestão e contenção de águas. O roteiro prevê visita técnica a cerca de dez cidades que apresentam algum tipo de solução na gestão da água.

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