Em janeiro, o jornal New York Times relatou um aumento de 30% na procura por terapia online nos EUA durante a pandemia. No Brasil, esse formato foi regulamentado em 2018 e, atualmente, há profissionais que nem sequer atendem presencialmente. No entanto, o teleatendimento requer cuidados para aprimorar a experiência de quem o utiliza.
Primeiro, considere a qualidade da sua internet para os atendimentos. Quando a conexão da internet cai em uma reunião de trabalho, na maior parte das vezes ela não passa de um contratempo. Uma falha na rede em uma sessão de terapia, por sua vez, pode interromper um momento crucial e afetar aquela experiência. Imagine um paciente que finalmente cria coragem para relatar um episódio traumático, como um abuso; a interrupção pode quebrar o fluxo do relato e dificultar a retomada do assunto.
Segundo, leve em conta a importância da privacidade, especialmente se você vive em uma casa movimentada. Ao agendar a consulta online, prefira horários com menos pessoas por perto, para que você se sinta à vontade para falar sem preocupação. Se a sua casa for pequena, faça um trato com as pessoas que moram ali. Tenho pacientes, por exemplo, que combinam com seus parceiros de eles saírem no momento da terapia, para que tenham mais liberdade durante a sessão.
Terceiro, preserve a confidencialidade do seu processo terapêutico. Nesse tempo de superexposição em que vivemos, começaram a surgir episódios de pacientes que gravam as suas consultas online —sem que os terapeutas tenham ciência disso— e publicam trechos nas redes sociais apenas por diversão.
De fato, existem situações em que uma sessão de terapia precisa ser gravada. Entretanto, isso sempre acontece como recomendação do profissional, e com o consentimento do paciente. Esse cuidado é necessário porque sessões de terapia exploram traumas, memórias reprimidas, desafios e dificuldades do dia a dia que, expostos nas redes, transformam o autoconhecimento em espetáculo.
Quarto, evite distrações durante a sessão. Diferentemente do atendimento presencial, o ambiente virtual tem mais chances de distraí-lo. Por isso, costumo sugerir aos pacientes na modalidade online que desativem as notificações no celular e fechem outras abas abertas no navegador durante a terapia. Explico a eles que na terapia online, gestos e expressões faciais nem sempre são tão visíveis, o que pode tornar mais difícil para o terapeuta captar certas nuances do que sentem.
Muitos pacientes reservam alguns minutos antes do início da sessão para acalmar a mente, relatando que isso os ajuda a participar da terapia de forma mais reflexiva.
Quinto, avalie se a modalidade online funciona para você. Algumas pessoas não se adaptam a ela. Isso pode ter a ver com quadros de saúde específicos, como uma depressão profunda ou um paciente com ideação suicida. Também pode estar relacionado com faixa etária (as sessões de crianças geralmente giram em torno de dinâmicas e jogos, e não apenas conversas). Nesses casos, o profissional se encarregará de alertá-lo.
Também pode acontecer de você simplesmente não gostar do teleatendimento —o que não é um problema. O importante é que a terapia funcione para você. Por isso, se perceber que não se sente à vontade, converse com seu terapeuta sobre outras opções.
Quando, sete anos atrás, psicólogos no Brasil começaram a atender seus primeiros pacientes no modo online, muitos diziam que a prática não daria certo por ser impessoal e fria. Essas suposições não se provaram verdadeiras, e o teleatendimento segue revolucionando a profissão. Desde que as pessoas tomem os devidos cuidados, a modalidade como farão a sua terapia se torna uma questão de menor importância.